20.2.10

1771



Há hoje no Porto um "plenário distrital de militantes".
Espera-se que estejam presentes todos os que concordam com as políticas que o governo tem levado à prática e com a condução que o secretário geral tem imprimido ao partido.

E todos os que acham que Sócrates é um homem bom, sério, que fala verdade e é de esquerda.
E que o aplaudam muito.

1770


1769





Monopólios e enxovais

O Governo vai entregar a concessão de todos os aeroportos - à excepção dos da Madeira - à ANA. Em seguida irá privatizar a empresa, impondo a construção do novo aeroporto de Lisboa como condição e contrapartida do negócio. O Estado manterá a maioria do capital da ANA mas, em termos práticos, estará a transferir um negócio público rentável para as mãos de um monopólio privado, que passará a deter o exclusivo da actividade aeroportuária.

Esta é uma parceria público-privada em que os privados pagam a minoria do custo, mas controlam o negócio através de acordos parassociais e de um monopólio. Aliás, para garantir tal desiderato, já conseguiram que o Governo quebrasse todas as suas promessas: a que foi feita por Sócrates, que assegurou que a privatização do aeroporto do Porto seria feita em separado desde que houvesse interessados (e é público que a Sonae e a Soares da Costa manifestaram imediata disponibilidade) e a de Alberto Martins, o cabeça-de-lista do PS pelo Porto que integra o Governo, e que na campanha garantiu que a ANA não seria privatizada.
Essas promessas, pelos vistos, ou eram falsas ou esgotaram o seu prazo de validade. Percebe-se que Sócrates não quer recuar, por teimosia ou em nome de outros compromissos, e apesar da alteração profunda das circunstâncias. Quer avançar com a construção imediata do novo aeroporto, pese embora a estagnação do tráfego aéreo e as previsões da indústria europeia que apontam para uma maior volatilidade na procura, o que recomendaria que se mantivesse a Portela em operação por mais alguns anos. É por isso que Alcochete, só por si, não entusiasma os investidores para quem, além disso, o custo do financiamento cresceu na razão inversa da sua confiança no projecto, e que só abrirão a bolsa com o conforto adicional do monopólio.
Assim, o elevado custo de encerrar a Portela e construir Alcochete antes do tempo será, como é óbvio, amortizado através do aumento da taxa por passageiro a cobrar em todos os aeroportos, que já hoje é muito superior à espanhola. Para os investidores, pouco interessa se esse aumento diminuirá o tráfego. Aquilo que contará, e é lícito do ponto de vista privado que assim seja, será a maximização dos lucros e a cobertura do risco do investimento, facilitadas pela inexistência de concorrência no território nacional. A política comercial de todos os aeroportos estará submetida a essa racionalidade e, se por exemplo o tráfego crescer no Porto e se aproximar do limiar da capacidade do aeroporto, os preços serão ajustados para desviar tráfego para Alcochete, de forma a garantir a plena utilização dos seus recursos antes de fazer novos investimentos no Sá Carneiro.
É para apaziguar essas sensibilidades que a Base das Concessões propõe parcerias para promoção do desenvolvimento regional, através de empresas em que a participação das entidades locais será convenientemente domesticada pela concessionária, que será maioritária. Ora, se o Governo insiste em privatizar a ANA para viabilizar um investimento inútil, devia dispensar-se de tais cinismos e alienar a totalidade do capital, para que não se finja que o interesse público está salvaguardado e para que, pelo menos, a actividade seja sujeita a regulação. E se também quer entregar o nosso aeroporto como enxoval, então que assuma o seu despeito pelos interesses desta região. Mas, convenhamos, se os nossos políticos consentirem nisso e os nossos eleitos ficarem em silêncio, é isso mesmo que merecemos.

19.2.10

1768

Os situacionistas*
Publicado por helena f matos

Nos anos 60 passaram do liceu para as universidades. São do tempo em que ser senhor doutor valia alguma coisa e as famílias apostaram fortemente na sua formação, confiando que, apesar de cada ano lectivo corresponder a maior irreverência, no fim eles teriam o canudo. Para o futuro ficaram conhecidos como geração de 60. Em Portugal, a PIDE e a censura deram-lhes um enquadramento de resistência que vai para lá do que aconteceu aos seus congéneres nos países democráticos. Após 1975 cortaram o cabelo, apararam a barba e quando a tropa, já sem MFA, recolheu aos quartéis começaram a sentar-se no aparelho de Estado. Academicamente bem apetrechados e com o país a precisar de refazer-se das vagas de saneamentos, esta nova geração passou rapidamente da oposição para o poder. Alguns dos mais destacados elementos dessa geração vieram a tornar-se notáveis do PS. O que de algum modo fazia todo o sentido: tinham lutado contra o fascismo, o social-fascismo e outros ismos. Na democracia tiveram no PS o seu espaço natural e em Soares o líder que trataram como já não se tratam os reis.
Nem sempre as coisas correram bem mas havia a íntima convicção que nos grandes momentos eles escolheriam a liberdade tal como a tinham escolhido durante as crises académicas. Mas não é isso que está a acontecer. Agora estão calados. Calados como nunca estiveram com Guterres ou sequer Soares. Fazem o pino para justificar o injustificável ou passam discretos a ver se descobrem algo em que possam pegar naqueles que não estão dentro do seu círculo (ou triângulo, se se preferir o imaginário maçónico onde muitos acabaram após a fase juvenil do ateísmo).
Durante meses interroguei-me porque estaria isto a acontecer. Ainda esta semana me caiu no mail aquele PDF com o diploma da licenciatura de José Sócrates, datado de Agosto de 1996, mas de cujo papel timbrado fazem parte números de telefone que só passaram a existir no final de 1999. Quem mandava o mail perguntava: isto já é conhecido, não é? Claro que sim. Isso e tudo o que veio depois é sobejamente conhecido. Mas eles, tão ciosos das suas notas no Técnico, em Direito e em Letras, como no seu tempo se dizia, fazem agora de conta que não é nada com eles ou tornam-se peritos instantâneos em procedimentos jurídicos que levam invariavelmente a anulações e arquivamentos. Porque se calam? Não os move certamente o dinheiro, tanto mais que estão à beira de ser a última geração a gozar as reformas douradas do estado que essa geração dizia social.
A resposta encontrei-a ao ver na televisão as notícias sobre a ronda de contactos entre o secretário-geral do PS e as estruturas partidárias. Eles, os contestatários dos anos 60, são agora a Situação. Sem Sócrates, que obviamente não é um deles, acaba-se a Situação, esta coisa que ninguém sabe o que é mas que se arrasta. Esta coisa em que se mergulha na dúvida, no boato, nos casos e em que os detentores do poder não se afirmam pelo que oficialmente fazem mas sim por conseguirem passar a mensagem de que não existe alternativa às suas pessoas.
Não são de modo algum a primeira geração a ficar refém dum tempo político. “Falhámos a vida, menino” – é uma das frases finais de “Os Maias”. Mas no caso da geração de 60 não só não parece que esteja interessada em fazer balanços do seu legado – à excepção daquelas evocações que os transformam em heróis – como, por ironia, eles, que em jovens foram tão eficazes a combater o poder, revelam-se agora, à beira de se tornarem velhos, dispostos a quase tudo quando alguém os confronta com aquilo em que se tornaram. E note-se que eles não se tornaram poder que isso já o eram. O que Sócrates fez deles foi transformá-los na Situação.



*PÚBLICO e também aqui

1767



1766


O Cabo Submarino

Dilemas políticos

José Sócrates tem de decidir se quer deixar de ser primeiro-ministro antes ou depois das Presidenciais. À sua direita tudo se prepara para o derrubar depois da reeleição de Cavaco Silva. As primárias do PSD apontam nesse sentido.

À esquerda a sua simples manutenção no cargo de chefe do governo impede praticamente a vitória de qualquer candidato presidencial deste quadrante, desde Manuel Alegre a Fernando Nobre, ou qualquer outro que entretanto apareça. A lógica do combate político levariaa que fosse o próprio Sócrateso candidato presidencial do PS governamental, tantos e tão públicos foram os desentendimentos entre São Bento e Belém.
Mas a cultura portuguesa do jogo do gato e do rato não é propícia à resolução desses casos directamente. Por outro lado, o ‘presidencialismo de chanceler’ leva os mais ciosos do poder a percepcionarem a Presidência da República como um cargo para senadores, pelo que gostam de afastar, enfastiados, o cálice que lhes é oferecido, sobretudo se o calendário marca uma eleição em que o inquilino de Belém pode voltar a concorrer, como é o caso. Muitos candidatos maduros guardam-se para daqui a cinco anos, mas é capaz de ser tarde. Por isso vejo o aparecimento de candidaturas presidenciais à esquerda com pessimismo, e preparo-me para tempos difíceis.



Medeiros Ferreira, Professor Universitário

1765


VANESSA REGRESSA

Como dormimos

por Ana Sá Lopes, 

Cada vez que se cruza com uma pessoa, a Vanessa imagina-a a dormir - uso este verbo porque gosto de eufemismos, que dão jeito para a manutenção do mínimo de sobriedade na vida social. Há figuras públicas que a Vanessa só imagina na cama com pijamas de flanela aos quadrados bordados com elefantes, e enroscados no legítimo cônjuge, e outras que vê despojadamente nuas em hotéis Ibis sabe-se lá com quem. 


A Vanessa acha que o "como dormimos" pode ser um "statement", uma definição de personalidade, um elemento semiótico. Já discutimos muito sobre isto: o facto de alguém vestir uma T-shirt da Sociedade de Instrução e Recreio Os Pimpões quer dizer o quê? A maior parte das pessoas achará normal que alguém vista o que tem à mão para se meter na cama. Não a Vanessa, que, como todos os neuróticos, não acredita em coincidências.

- Já viste a T-shirt com que o Crespo dormiu?


Eu tinha visto de relance na televisão Mário Crespo a mostrar a T-shirt "Eu ainda não fui processado por Sócrates", revelando ao Parlamento (e ao país todo) que já tinha dormido com ela.

- Mas tu viste bem aquilo?

- Uma T-shirt normal.


- Não é nada normal! -  gritou-me ela - Os meus amigos socialistas estão em choque! Acham que aquilo prova que o Crespo não está mesmo bom! Uma pessoa que dorme com uma T-shirt nojenta é capaz de tudo! É a prova de que esta campanha já extravasou o combate político e toda a gente, mesmo na cama, conspira contra o governo!

no I

1764


Caso Face Oculta: Todos a salvo de processo

Arquivamento da PGR abrange também homens próximos de Sócrates


ANTÓNIO SOARES E NUNO MIGUEL MAIA

1763


O Avesso e o Direito

Soarices

A revisitação da imprensa do tempo mostra que a luta contra a unicidade sindical, donde contra o P C, foi protagonizada, ainda em Maio de 75, por Salgado Zenha; e que até aí, Soares ia porfiando em ultrapassar Cunhal pela esquerda. Depois, aconteceu a visita aos EUA, com a meteórica ascensão a paladino da liberdade. E seja por esses galões, seja por outras artes, foi granjeando nos media e em segmentos importantes da sociedade portuguesa um estatuto de bonzo de quem se aplaude tudo.

Agora que os anos passaram, pensei que chegara o tempo de Soares escrever, finalmente, o anti-Mateus e rebater, facto por facto, as aleivosias sobre Macau que o amigo íntimo lhe imputou, em Janeiro de 96, nos ‘Contos Proibidos’. Livro que é uma denúncia pública de crimes e que Cunha Rodrigues terá achado inoportuno tratar como tal, esquecendo a máxima cristã: "o que importuna é oportuno".
Agora diz-se que apadrinha um homem de bem, Fernando Nobre, porque não aguenta a ideia de Alegre poder ser PR.
Será que Soares ainda não se cansou de estragar? Será que o ego envelhecido o impele, favor com favor se paga, a estender a passadeira para a reeleição de Cavaco?



Magalhães e Silva, Advogado

18.2.10

1762

1751

Texto do Rui Viana Jorge


Ser ou não ser Nobre: eis a questão!



Segundo o dicionário de lingua Portuguesa, nobre quer dizer: Ilustre, Distinto, Honroso, Magnânimo, Elevado.
Todos estes adjectivos referem-se ao carácter.
Eu, que já me comovi com relatos do Dr. Fernando Nobre, e tinha por ele uma admiração sem limites, fiquei perplexo com o anúncio da sua candidatura. Não por ela mesma mas pela altura em que a fez.
Achando-o um ser superior, acima dos outros homens, ao vê-lo misturado em guerrilhas pouco ilustres, pouco distintas, pouco honrosas, e muito pouco elevadas, fiquei bem triste, e a admiração que tinha desvaneceu-se.
Não fazendo processos de intenção, mas não sendo inocente, constato um facto indesmentivel.
Esta candidatura beneficia a estratégia de Sócrates(que é o melhor exemplo do que não é Fernando Nobre) e prejudica Manuel Alegre.
O Dr. Fernando Nobre com um simples gesto mandou ás urtigas tudo o que o distinguia de qualquer simples mortal.
Diz que se candidata porque sente”-que o país atravessa um período em que constantemente se põem em causa os valôres e as pessoas......”
Vai daí, veio dar o seu contributo para pôr em causa, pessoas e valôres.
Brilhante senhor doutor.
Mais valia falar da vaidadezinha que volta e meia ataca mesmo os mais impolutos.
Vai o Dr. Fernando Nobre sair muito mal nesta fotografia.
Vai deitar pela janela o património moral que andou a juntar todos estes anos.
Enfim desceu á terra e deixou-se confundir com a turba multa que por aí prolifera.

ruivianajorge@kanguru.pt

1750



O Crespo vale o que vale.
Para mim não vale grande coisa.
Mas cada vez mais me lembro da sua primeira aparição na RTP e do que sobre ele escrevia - com grande gozo - o Mário Castrim, nas suas crónicas de crítica televisiva no Diário de Lisboa.
E como, à época, o Crespo era motivo de gozo público.

1749


Começam, finalmente, a conhecer-se os fundamentos da decisão de arquivamento.

O que é fundamental e importante.
Pode concordar-se ou não.
Pode sustentar-se ou criticar-se.
Cada um pode pensar o que quiser; mas pensa a partir de dados concretos e não de meras especulações.

PGR alega que tentar controlar imprensa e TVI não é crime


no JN

1748





Uma lenda celta

Uma lenda celta, compilada por Bioy Casares em "Contos breves e extraordinários", conta a história de dois reis inimigos que jogam xadrez enquanto os seus exércitos combatem, demorando-se, como Borges diz, "hasta el alba en su severo/ ámbito en que se odian dos colores".

"Chegam mensageiros com notícias da batalha; os reis não os ouvem e, inclinados sobre o tabuleiro de prata, movem as peças de ouro... Ao entardecer, um dos reis derruba o tabuleiro porque apanhou xeque-mate e, pouco depois, um cavaleiro ensanguentado vem anunciar-lhe: 'O teu exército está em fuga, perdeste o reino'". Manuel Alegre não será propriamente um rei, nem sequer ainda um presidente, mas o silêncio em que parece mergulhado enquanto, à sua volta, o país arde em torno do tema da liberdade, recorda a longínqua lenda. É natural que esteja preocupado com os "tenue(s) rey(s), sesgo(s) alfil(es), encarnizada(s) / reina(s), torre(s) directa(s) e peon(es) ladino(s)" que se alinham no tabuleiro da sua candidatura. Mas jogar o seu jogo alheando-se do país talvez seja prudência (ou, se calhar, imprudência) comprometedora de mais.

17.2.10

1747

Vale a pena ler, no Público, o texto da Ana Benavente.
E vale a pena ler porque nele se suscitam questões que são essenciais para o futuro do PS.
Claro que não agradará àqueles que defendem acefalamente o secretário geral, seja ele quem fôr, e as políticas que  adopte, qualquer que seja a sua matriz ideológica.
Mas esses são os que se têm por bons militantes; e bons socialistas.


1746












1745


 A 'central' do Governo

A história da tal ‘central’ de propaganda do Governo pode parecer uma brincadeira, mas não é: nos últimos anos o Governo de José Sócrates usou meios públicos para fazer propaganda e campanha eleitoral. 

Quais? Assessores, chefes de gabinete, membros do Governo usaram o seu tempo, pago pelo erário público, instalações do Estado, meios informáticos públicos e informação privilegiada para fins de combate político. Como o CM demonstra nesta edição, o Governo alimentou blogues de campanha eleitoral daquela forma, mas também outros que antes e depois do tempo de eleições continuaram a ser a barriga de aluguer de argumentários e documentos pré-fabricados. Há preparação para responder a questões difíceis, por exemplo com perguntas e respostas sobre o caso BPN, ou manipulação de números sobre o investimento público, como o TGV. É tudo à vontade do freguês... Para quem ainda há menos de 15 dias enalteceu os valores da ética republicana este é um caso politicamente desastroso e de uma legalidade muito duvidosa. A utilização de meios do Estado, pagos pelos contribuintes, não consta de nenhum manual de história como um dos ‘valores’ do dito ideal republicano. O pagamento aos serventuários com as habituais benesses de nomeação para cargos também não. Mas com tal Governo tudo é possível...



Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto

1744



PS nega descida de investimento público na região


(JN)

1743

Dirigente do PS diz que o partido vive sob uma "ditadura do silêncio" e que Sócrates quer accionar "o rebanho"

Por Margarida Gomes e Maria José Oliveira(PÚBLICO)

1742



O POLVO


16.2.10

1741


The Cluster

Depois de José Manuel Durão Barroso para a Comissão Europeia, António Guterres para o ACNUR e Vítor Constâncio para uma das vice-presidências do BCE, pela vossa rica saúde sigam o meu conselho sem protesto: recomendemos em uníssono José Sócrates para a UNICEF.

1740


O QUE O PS AINDA PODERIA FAZER


O QUE O PS TEIMA EM NÃO FAZER

Pelas notícias dispersas que vão chegando, percebe-se que um sector do PS (o que se exprime), porventura representativo da opinião de muitos militantes, talvez até da maioria, está na disposição de se “deixar enterrar” com Sócrates.
Esse sector parece não compreender que há hoje em largos estractos da sociedade portuguesa e, inequivocamente, em toda a classe na classe política não afecta ao PS, uma clara rejeição de Sócrates. À medida que o tempo passa, ontem por umas razões, hoje por essas e mais outras, amanhã por todas essas e mais algumas, o PS vai perdendo terreno e cavando um fosso cada vez maior com uma parcela muito significativa daquele foi o seu eleitorado na última década.
Por razões explicáveis, embora pouco justificáveis, quem acabará por ganhar com tudo isso é a direita. E desta vez será mesmo a mais reaccionária e radical.
Esta antevisão de modo algum pode ser interpretada, sequer subliminarmente, como uma crítica aos partidos de esquerda que, por esta ou aquela razão, têm juntado o seu voto ao voto da direita para derrotar o Governo. Pelo contrário, ao PS é que cabe a responsabilidade de, face à análise do que se está passando, actuar de modo a inverter a situação.
Mas não, perante o discurso radical, reaccionário e perigosamente populista de Rangel, o PS em vez de se preparar para tomar medidas susceptíveis de reverter a situação, numa altura em que ainda talvez o conseguisse, prepara-se para defender o indefensável e colar-se reverencialmente ao lado de Sócrates na esperança de que um milagre acontecerá.
Quando o PS for relegado para a oposição por largo tempo, porventura com um peso bem inferior ao que nessa situação tem tido noutras ocasiões, o mais provável é que se desenvencilhe rapidamente de Sócrates e dos seus “boys”. Só que nessa altura já será tarde. Tarde demais.
Incentivar provocatoriamente a oposição a apresentar uma moção de censura, quando se sabe que interesses contraditórios impedem a sua aprovação pelas várias oposições, é mais um argumento a favor da direita, que, aproveitando-se da persistência do PS numa solução sem saída , não deixará de mais tarde invocar a responsabilidade de todo o partido e não apenas de Sócrates pelo estado em que o país se encontra(rá).
Ninguém responsável advogará uma substituição imediata: há um orçamento para aprovar e há “contas a prestar” a Bruxelas. Mas logo que estes passos incontornáveis da vida política portuguesa estejam dados, o PS deveria ter uma solução credível para o “caso Sócrates”, sendo obviamente de descartar todos aqueles que a ele estiveram ligados, outros que não tendo estado assim tanto apenas formalmente se desligaram para que, quem está de fora, suponha que a sua insaciável voracidade pelos negócios nada tem a ver com a política e ainda outros que desde há muito suscitam em certas forças políticas anti-corpos capazes de em pouco tempo os neutralizar.
A escolha teria que ser sábia e estrategicamente pensada de modo a neutralizar as alianças que a partir de Belém se preparam para governar o país...

15.2.10

1739




35 ou 36 anos depois


"Vamos de novo encher a Alameda da Fonte Luminosa", propõe-se uma melancólica mensagem SMS que por aí circula invocando os idos de 1975, quando o PS de Mário Soares, liderando todo o espectro político não comunista, levou 100 mil manifestantes àquele lugar.
Desta vez o objectivo é desagravar Sócrates pela "baixa campanha" de que estará a ser vítima. Há dias, a manifestação de fatiota branca "pela liberdade" não reuniu mais do que umas dezenas de pessoas, mirones incluídos.
Mas manifestações de desagravo têm mais hipóteses de sucesso do que manifestações de desagrado. Esperar "de novo" 100 mil pessoas na Alameda talvez seja excessivo, mas pelo menos os 1361 já contemplados com cargos nestes pouco mais de três meses de Governo, e sobretudo todos os contempláveis que se encontram em fila de espera, não deixarão decerto de querer aparecer na fotografia.
O problema das manifestações de desagravo é que são de mau prenúncio. A última de que me lembro ficou com o ominoso nome de "brigada do reumático" e juntou, em 1974, uma ou duas dezenas de luzentes e medalhadas fardas no gabinete de Marcelo Caetano.

1738

Mais uma «farpa» do Rui Viana Jorge:

Um passeio pela História

Nos distantes anos 60, o partido comunista Italiano dirigido pelo senhor Berlinguer, alcunhado pelo “culo di ferro”,por aguentar horas a fio de pé, conluiou-se com o Partido comunista francês do sr. George Marchais, e o ainda clandestino partido comunista Espanhol do sr. Carrilho, criando aquilo a que resolveram chamar de eurocomunismo.
Tudo isto para justificar o desentendimento com a internacional Comunista.
Julgavam estes senhores que o referido desalinhamento lhes iria dar maiores oportunidades e maior protagonismo nos referidos países.
Pois bem; visitei Itália nessa década, logo no ano em que o PCI tinha acabado de vencer as eleições, como partido mais votado com 33 virgula qualquer coisa por cento.
Aliás a minha viagem teve mesmo o propósito de festejar e passear num país onde os comunistas (mesmo que com grandes diferenças do que pensava), iriam para o governo.
Iriam mas não foram.
O espaço entre ter ganho as eleições, e a formação do governo, apanhou-me já em viagem de automóvel.
Escassos dias permitiram transformar uma vitória em derrota, já que a Itália passou a ser governada pelo chamado pentapartido (5 partidos).
Um dos principais actores desta mudança, chamava-se Bettino Craxi, secretário geral do PS Italiano que tinha obtido uns comedidos 10%, e assim ia parar ao governo.
Vem a talhe de foice (sem martelo), que anos mais tarde teve este cavalheiro teve que fugir para a Tunisia para não dar com os costados na cadeia por muitos anos; nessa altura o sr. Mário Soares foi visitá-lo por serem muito amigos, conforme disse o próprio à imprensa portuguesa.
Pois bem; nessa minha viagem frustrada, constatei que tal entendimento foi possível porque o PSI argumentou com firmeza ser o PCI um partido stalinista. Está tudo dito.
Na próxima vez falarei do que se passou por em França em Maio de 68 e a posição do PSF onde tambem me desloquei.
Meus amigos, Sócrates, não está desalinhado; direi mesmo que estudou bem a lição que os PS(s) vão dando por esse mundo fora.

ruivianajorge@kanguru.pt

14.2.10

1737

Sobre a controvérsia que por aí anda sobre a separação de poderes e a sua violação vale a pena ler no POLITEIA o texto





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1736

Um texto do RUI VIANA JORGE


Revisão da História recente da Pátria Lusa

Chegados a este estado de coisas, talvez não fosse mau relembrar a algumas cabeças e a alguns cabeçudos como chegamos aqui.
Em 25 de Abril de 1974, a rotura com o regime (ditadura) existente, pretendeu acima de tudo, restituir a liberdade e dar dignidade ao mundo de trabalho.
Direitos liberdades e garantias, a par da autodeterminação e independência dos povos por Portugal colonizados, tarnaram-se prioridades absolutas.
Quem toda a vida lutou por estes objectivos, deu a cara e o corpo. Os outros os que sempre lutaram para que as coisas não fossem assim tão más, apanhou um “cagaço” de todo o tanhanho.
Por isso trataram de fantasiar a verdade dos seus objectivos com socialismos de rosto humano e não sei quantos mais adjectivos que só serviam para mascarar as suas intenções. Assim nasceram o PSD e o CDS que nos seus primeiros estatutos se raclamavam de socialistas.
Estavam enganados e não tinham precisado de tanta hipocrisia se conhecebem bem os objectivos do PS.
Vejamos então como correram as coisas:
A estrema esquerda fazia ocupações selvagens e arbitrárias  e logo aparecia o PS a acusar o PCP de as fazer;
O PCP opunha-se a algumas greves sem razão de ser e logo o PS acusava o PCP de estar contra os trabalhadores;
O PCP apoiava( e apoia) a reforma agrária e logo o PS saía em defesa dos grandes agrários que tinham as terras abandonadas;
A CGTP fortalecia-se e logo aparecia a carta aberta do sr. Gonelha dizendo que ia partir a espinha á intersindical, com aplauso de toda a direcção do PS.
Não descansaram enquanto não dividiram o movimento sindical com o aparecimento da UGT, enfraquecendo assim o mundo do trabalho; claro que tudo isto com o nobre sentimento de construirem um movimento sindical verdadeiramente livre, sem ser a correia de transmissão do PCP, escamoteando que na CGTP militavam e continuam a militar milhares de elementos do Partido Socialista, e esquecendo-se de dizer que a UGT, essa sim nasceu dentro das paredes do PS.
Muito cedo o PS e toda a direita Portuguesa perceberam que não conseguiam conter sózinhos este avanço democrático. De intentona em intentona, rápidamente entenderam que sem o apoio do resto da Europa não atingiam seus objectivos.
Nada melhor do que entrar para a CEE, de joelhos beneficiando assim de fundos que ao mesmo tempo disfarçava os seus intentos, obtendo fundos que serviriam para disfarçar o desmantelamento do mundo do trabalho que tanto os assustava.
Alguns dados para melhor se compreender o que digo;
Portugal produzia nessa altura cerca de 75% dos productos alimentares que consumia. Hoje produz uns escassos 20%. Importando o resto.
Tinham assim estes democratas de meia tijela oportunidade de derrotar a referida reforma agrária recebendo de mão beijada em dinheirinho o que se devia cá produzir.
A metalicomecânica pesada que possuiamos, prestigiada em todo o mundo tinha um defeito inaceitável: possuia uma célula de trabalhadores fortíssima que lhes dava água pela barba, alinhada ideologicamente com o PCP.
Percebe-se porque rápidamente foi desmantelada.
Nas pescas com tanta ZEE (tanto mar) e tanta comidinha e trabalho teria que ser feito um esforço para a desmantelar. Nada melhor que pagar o abate dos barcos em que ingenuamente os trabalhadores do sector embarcaram.
Depois são minudências, como o revogar o decreto (Vasco Gonçalves) que definia os trabalhadores como primeiros credores da massa falida em caso de falência de uma empresa.
Criar recibos verdes para os patrões poderem argumentar com despedimentos sem justa causa e fugiram as suas obrigações sociais. ETC.
E como o arrazoado já vai longo ficar-me-ei por aqui, prometendo dar á estampa mais alguns pormenores.
UMA COISA É CERTA: em tudo isto se encontra a mãozinha do PS.
Quando o Ex director da CIA se torna grande amigo de Mário Soares, sabia bem o que estava a fazer.
De resto, é tão verdade o que digo, que não se vê ponta de indignação por todo o PS pelo que agora se lá passa.
Contráriamente a muitos eu acho que este é o verdadeiro retrato genético do PS.
Deste e de todos os PS(s) que povoam  nossa EU.
Parafrazeando Fidel Castro;
A história dar-me-á razão.

ruivianajorge@kanguru.pt

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