12.10.06

A grande entrevista, ou a vantagem de ser dono do jornal
MH: Ainda não se arrependeu da decisão de não se ter recandidatado à Câmara nas últimas eleições?
NM: Faça essa pergunta aos cidadãos de Matosinhos e eu acho que eles saberão ajuizar melhor, não só da bondade da minha opção, mas também das consequências da minha decisão.
MH: E a opinião da população será o espelho da sua?
NM: Se não me perguntar qual é a minha, dir-lhe-ei que sim. Há uma grande sintonia entre a minha maneira de ser, de estar na vida, o meu pensamento, com aquilo que pensam os matosinhenses, sobretudo, os cidadãos mais humildes, mais discretos, mais anónimos. Criou-se uma relação de profunda afectividade comigo.
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--Há um esforço para tentar apagar o passado”
MH: Um reconhecimento que, de acordo com informações suas, recentes, parece não estar a acontecer por parte do partido. Ultimamente tem acusado o PS de Matosinhos, ou melhor, alguns dirigentes do partido, de o terem esquecido, ou pior, até dispensado e, como tem dito, ostracizado. Que razões vê para essa atitude?
NM: Eu não confundo o comportamento dos socialistas em geral, muito menos do eleitorado socialista, com o comportamento de algumas pessoas. E não o posso fazer, porque está provado que há uma diferença abismal entre o comportamento de uma parte da classe dirigente do PS de Matosinhos e o comportamento da esmagadora maioria dos militantes e eleitores do PS. De resto, o que estou a dizer foi confirmado nas últimas eleições. A estratégia seguida nas últimas autárquicas, que conduziu à manutenção da maioria absoluta do PS na CMM, foi uma estratégia radicalmente oposta à que era defendida pela maioria da tal classe dirigente do PS de Matosinhos. E, portanto, as coisas são como são, só não vê quem não quer ver, ou, então, quem continua escondido atrás da frieza dos espaços onde fazem política. Esta actuação é autista e arrogante. Quem segue este caminho na vida política nunca ganha. Pode ganhar no imediatismo, mas a verdade vem sempre ao de cima, sobretudo num concelho com valores como Matosinhos. Mas eu não quero falar mais sobre isto, porque o povo é muito sábio, tem provado que sabe o que quer e que sabe fazer as escolhas certas nos momentos certos.
MH: Mas é ou não é verdade que os dirigentes do partido em Matosinhos o têm esquecido e dispensado?
NM: É, inequivocamente, verdade que a classe dirigente do PS de Matosinhos me dispensou inicialmente, me excluiu a seguir e, agora, está a tentar ostracizar-me. É uma demonstração de que há um esforço para tentar apagar o passado, tentativa, aliás, muito bem sintetizada quando foi dito que só não me limpavam da fotografia, porque não se assumiam como estalinistas.
MH: Mas não será benéfico que o partido se renove e que novas pessoas, novas ideias e novas forma de trabalhar sejam chamadas a intervir?
NM: É muito importante a renovação na vida partidária, a renovação dos comportamentos e da classe dirigente. E isto não é nenhuma novidade. Todos concordam com o que estou a dizer. O dr. Jorge Sampaio disse-o, há pouco tempo, num debate em que participou. Agora, tão ou mais importante do que a renovação de pessoas é a renovação nas práticas políticas, na forma de actuar e no relacionamento com as pessoas. Há que trazer uma cultura de actuação diferente. O problema da vida política e partidária está nos comportamentos de algumas pessoas. Os partidos fecham-se, algumas pessoas que estão no “patamar do poder” político-partidário, por serem inseguras, alimentam muitos medos, têm medo de quem lhes aparece ao lado, de quem entra de novo, de quem tem ideias, de quem tem a ambição de fazer mais e melhor e são esses “medos” que atrofiam a vida político-partidária. Agora, o que não posso, de maneira nenhuma, é considerar que todos funcionam desta forma. Há sinais positivos na direcção da modernização da vida partidária, de abertura e de se perceber os comportamentos da sociedade civil. Por exemplo, eu sou militante do PS, com a experiência que tenho, com o trabalho que desenvolvi, com a total dedicação às causas do PS, e vai realizar-se um congresso e não fui, nem vou ser, tenho a certeza, convidado para ser delegado, porque o partido em Matosinhos está completamente fechado e a funcionar ao arrepio de Matosinhos e da comunidade matosinhense. O Partido “conduzido” pelos actuais dirigentes, continua numa direcção e o povo caminha em sentido contrário. Não se revê nesta forma de actuar.
MH: Foi isso que aconteceu na recente convenção autárquica realizada em Matosinhos?
NM: Estiveram cerca de 60 pessoas nessa convenção, apesar de tudo, é bom. Todos lá dentro, afirmaram que o partido, em Matosinhos, está unido. É evidente que os que estavam lá, talvez estejam unidos. E qual é o comportamento e o pensamento daqueles que foram convidados e não estiveram presentes? Porque razão não foram? Estão desprendidos da vida política e partidária? Não querem partilhar os projectos? E os excluídos? Já nem falo por mim, mas será que um militante do PS não fica incomodado por não ver presentes, por exemplo, pessoas como o dr. Soares Oliveira, uma figura marcante do poder autárquico e na sociedade civil matosinhense, um homem conceituado, de valores e de uma humildade política extraordinária? Ou uma figura como o eng. Nogueira da Silva? Um homem que esteve na vida autárquica, ao serviço do PS, tanto tempo como o actual presidente da Câmara e que fez um trabalho notável. Lembro-me de ler no “Matosinhos Hoje” que o Nogueira da Silva foi o responsável pela “revolução subterrânea” que se fez em Matosinhos. E só saiu do poder autárquico porque, infelizmente, foi vítima de uma doença grave, que ele conseguiu vencer. Às vezes, sinto-me incomodado por não ter com ele e com muitos outros, a atenção que devia ter tido. E para não pensar que falo só de pessoas da minha geração, aponto-lhe, ainda, um outro exemplo. A Ana Fernandes, uma jovem, de Leça da Palmeira, independente, que chegou a militar na área da social-democracia, que foi deputada municipal, por meu convite, é, hoje, um quadro com afirmação nacional e foi relegada para segundo plano. Esta jovem tinha, na minha opinião, uma mensagem muito importante a transmitir. Exemplos marcantes. Ainda que o mais marcante de tudo tenha sido o facto da convenção ter funcionado em circuito fechado. Comparemos a expressão pública da convenção do PS de Matosinhos com a do PS do Porto. Esta semana, todos os órgãos de comunicação social falaram nela e os socialistas do Porto não são melhores que os de Matosinhos. O comportamento é que é diferente. O comportamento de alguns, volto a sublinhar. De alguns com uma clara intenção de limpar, apagar, mas acho que ninguém consegue apagar a história. Eu não tenho medo. Estou, porque devo estar, discreto. Tenho um enorme orgulho no trabalho que o PS fez em Matosinhos, no trabalho de liderança que desenvolvi, em partilha com muitas equipas e no comportamento que tive, num momento de grande crispação, de ruptura assumida por alguns dirigentes do PS de Matosinhos e muito mais orgulho tenho na estratégia que foi delineada, que foi concretizada e que nos conduziu ao êxito. Um ano antes, todos diziam que não era possível ganhar as eleições em Matosinhos. Tive que resistir a muitos apelos e pressões para me recandidatar. Entendi que não o devia fazer, face à minha ligação umbilical ao PS. Fui um militante disciplinado. E, um dia, talvez, sinta necessidade de explicar como é que todo este processo se desenvolveu e, aí, vou surpreender. Tenho a certeza que há muitas pessoas que vão ficar surpreendidas.
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MH: No famigerado “caso da Lota”, afinal de contas, terá sido Narciso Miranda a única vítima do Partido?
NM: Não sei se sou vítima. Há uma coisa que sei: é que a relação dos matosinhenses comigo é excelente. E, mesmo fora de Matosinhos, em qualquer ponto do país, sinto uma relação de todas as pessoas para comigo, de respeito e consideração. Sobre o caso da Lota, o que posso dizer é que o PS julgou-me e decidiu como decidiu. Foi-me, também, movido um processo-crime pelo presidente da Comissão Política Concelhia de Matosinhos, que apresentou uma queixa na Judiciária contra mim. Fui constituído arguido, fui investigado, ao pormenor, durante 15 meses, foram ouvidas dezenas de pessoas, e fui completamente ilibado pela justiça portuguesa. Repito, fui ilibado pela justiça portuguesa. E eu acredito na justiça. Outros não foram ilibados, porque não foram investigados. Ainda bem que fui investigado. Na altura, fiquei revoltado, agora estou contente, porque ficou inequivocamente esclarecida a minha actuação pela justiça. Durmo bem e profundamente.Tenho pena é que este processo ainda não esteja encerrado, porque está marcado, para o dia 20 de Novembro, às 14 horas, no Tribunal de Matosinhos, o julgamento de um processo que movi contra um cidadão do Porto, infelizmente do PS, que disse, na comunicação social, que o responsável pelo que aconteceu na lota fui eu. É uma questão de honra e não uma questão do PS.
MH: Disse ao MH numa entrevista que, um dia, iria contar o que se passou nesse mesmo “episódio da lota”. Ainda não chegou esse dia? Ou pode contar-nos agora?
NM: Não. Esse dia ainda não chegou. Como vê eu ainda estou a ser penalizado pelo PS. Fui impedido de me recandidatar à Câmara de Matosinhos, por causa do episódio da lota. Entendi que não devia aceitar os desafios que me lançaram para ser candidato como independente. E entendi bem. Não estou arrependido.Nunca estive preso ao poder, sempre disse que, quando sentisse que os matosinhenses achavam que já me podiam dispensar, eu próprio saía. Mas não foi o que aconteceu. Eu não senti isso por parte dos matosinhenses, não me recandidatei, porque fui impedido. O PS decidiu castigar-me e está provado, agora, que foi uma atitude injusta, já que a justiça clarificou a situação. Mas isso é “da vida”. Já passou. Está por saber que repercussões esse “castigo” provocará no futuro.
MH: Tem, portanto, neste momento, a certeza, de que foi o único castigado em todo este processo?
NM: Tenho a certeza que fui e sou o único castigado. Melhor: tenho a certeza que o único castigado é aquele que foi ilibado pela justiça portuguesa.
MH: Como tem visto o trabalho da equipa que lhe sucedeu? Nela está um presidente que foi por si colocado ou não é assim?
NM: Nesta equipa estão cinco elementos que participaram em equipas por mim lideradas, só um elemento não foi meu vereador, mas foi membro da Assembleia Municipal, por mim convidado. É, portanto, uma equipa, assumidamente, de continuidade, uma equipa que é co-responsável pelo trabalho desenvolvido, pelo êxito conseguido e pelas marcas bem visíveis na sociedade civil. Por isso, é que não percebo algumas críticas que começam a aparecer e algumas tentativas de demarcação do passado, que são injustas e injustificadas. Sobre esta matéria o povo foi e será o juiz.Mas avalio, de uma forma globalmente, positiva o trabalho que está a ser feito. Muitas vezes, o que acontece é que as coisas não dependem, exclusivamente, daqueles que são os titulares dos cargos, mas, também, das muralhas que se vão construindo à sua volta. Tive sempre muito cuidado e muita determinação para me libertar das tentativas de controlo e de condicionamento de gente que, normalmente, tenta dizer apenas o que acha que agrada. Nem sempre quem anda “à volta do poder” é rigoroso e actua de forma aberta, transparente, aconselhando, sugerindo e propondo acções e objectivos para reflexão e posterior decisão de quem tem que decidir.
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MH: Essa sua vontade de fazer cidadania e o facto de ser assumidamente, portanto, um homem de eleição, poderá indicar que o teremos como candidato à Câmara de Matosinhos, em 2009?NM: Se você me fizer a pergunta desta forma - “isso não o poderá levar a uma candidatura às próximas eleições autárquicas” – eu respondo-lhe que é muito possível, talvez até inevitável. Desde que retire da pergunta a expressão “Matosinhos”.
MH: Era capaz de se candidatar por outro partido?
NM: Não. Nunca.
MH: E a outro concelho?
NM: Não me faça perguntas de futurologia. É muito cedo. A Câmara de Matosinhos tem uma maioria do PS e, da actual equipa de maioria absoluta do PS de Matosinhos, todos trabalharam comigo, todos fizeram parte das minhas equipas executivas, apenas um esteve em funções deliberativas, como já afirmei. Todos, sem excepção. Aprendi com todos. Não sei se tive a capacidade suficiente para lhes ter ensinado alguma coisa. Eu aprendi com todos e todos os dias.

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Narciso e a corrupção
CAVACO DECLARA GUERRA À CORRUPÇÃO - Narciso chamou a atenção para o tema que ao longo das últimas semanas tem sido trazido ao programa: a corrupção, dizendo: parece que a nossa humilde contribuição também foi tomada emconta. Para o comentador era inevitável que alguém importanjte trouxesse a corrupção para o grande beta nacional. Elogiou Cavaco por não hesitar em fazê-lo e às palmas que de imediato João Cravinho e Maria José Morgado bateram. Cavaco apareceu com as suas palavras na hora certa, para além de responder àqueles que julgavam que ele iria guinar à direita. Narciso só não gostou que no tema o Poder Local tivesse sido o bombo da festa, pois a imagem deixada por Cavaco não é boa para os autarcas e é mau medir todas pelas mesma bitola

11.10.06

6

M. P.
Como de costume, e como é mais fácil, a culpa é do mensageiro, ou seja do jornalista.
josé diz...
Muito bem. No entanto, esta sabedoria fica por aqui, entre entendidos. Quantos jornalistas judiciários e directores de jornais, percebem isto que ficou aqui muito bem explicado e escrito?
No entanto, são esses quem comunica as notícias; quem veicula a informação de determinada maneira e quem acaba por condicionar a opinião pública em relação aos fenómenos judiciários.COmo tenho já escrito, em França ou na Itália, isto não acontece porque os jornalistas são mais competentes e melhor apetrechados técnica e intelectualmente. Basta ler o Monde, o La Repubblica ou outros.
Então que se pode fazer ou poderia ter feito?
Esclarecer. Mostrar. Dar a ver. Tendo em conta que o tempo mediático é muito diferente do tempo processual.
Essa lição de "Esclarecer, mostrar e dar a ver", parece que agora foi apreendida, pelo que se pode ler em declarações de responsáveis.E contudo, quantos anos passaram?
E contudo, será que aprenderam mesmo?
Acho que não, sinceramente. E acho que os erros vão repetir-se, tarda nada.
De qualquer modo, e sobretudo, vale a pena ler os textos dos conselheiros Lourenço Martins e Simas Santos em:

citações

A mão de Deus volta a marcar
1. Depois de uma estimulante troca de impressões com o José, fiquei a perceber que, no caso que envolvia Nobre Guedes, havia vários arguidos e que, apesar de o Código de Processo Penal (CPP) estabelecer — cf. artigo 57.º, n.º 2 — que a qualidade de arguido se conserva durante todo o inquérito, o Ministério Público decidiu mandar em paz esta conhecida figura do CDS-PP, mantendo no purgatório os restantes arguidos.
O José ainda ensaiou uma interpretação imaginativa da citada norma: — Miguel, uma vez arguido, arguido para sempre? Tendo-lhe eu perguntado se conhecia outros casos em que tivessem sido tomadas diligências idênticas, parece que chegámos a acordo de que o processo penal não permite que seja Natal sempre que um homem quiser.
2. A posterior invocação por parte do José do artigo 30.º do CPP parece ter sido já feita sem grande convicção. O instituto da separação de processos, que o José invoca, destina-se a garantir o melhor andamento dos processos separados, quando, no caso de Nobre Guedes, a única finalidade da separação foi um arquivamento – dirigido especificamente para um arguido.
3. Sabendo-se, à partida, que Souto Moura nunca vergou na sua luta contra os poderosos, os ricos e os famosos (os VIP de que falava na entrevista ao Sol), de que são prova os resultados espectaculares da Operação Furacão, detectei algumas coincidências relevantes:
• Em primeiro lugar, o procurador-geral da República, o vice-procurador- geral da República e o ex-arguido Nobre Guedes são da
mesma sensibilidade religiosa;
• Em idêntica linha, a transferência para o processo de uma
magistrada, a Dr.ª Auristela, que igualmente pertence à mesma
comunidade de leigos católicos;
• Em terceiro lugar, a possível candidatura de Nobre Guedes à liderança do
CDS-PP exigia que fosse posta, urgentemente, uma pedra sobre o
assunto;
• Por último, o facto de o mandato de Souto Moura estar a aproximar-se a
galope do seu termo.

4. Num dos momentos altos da nossa troca de impressões, o José lançou um argumento de peso: o inquérito estava a ser conduzido por um magistrado da “boa escola”, o procurador da República Rosário Teixeira.
Veio-me logo à memória o providencial destino do processo Moderna, em que um arguido, José Braga Gonçalves, serviu de bombo da festa (aliás, com grande proveito para a literatura, tendo em conta que nos deu a conhecer melhor a figura do Marquês de Pombal) e uma outra criatura, também por mera coincidência líder do CDS-PP, nem sequer foi constituído arguido — apesar de o artigo 28.º do Código Penal (CP) esclarecer que basta, no caso de comparticipação, um dos arguidos possuir a qualidade especial e requerida nos crimes específicos (J. B. Gonçalves era administrador para efeitos de administração danosa) para os restantes comparticipantes serem constituídos arguidos, acusados e punidos.
E quem esteve envolvido na investigação do processo Moderna, evidenciando um magnífico domínio do artigo 28.º do CP? Nada mais, nada menos que o Procurador Rosário Teixeira, na Polícia Judiciária, e o Procurador Manuel das Dores, no Ministério Público. Este, como na altura os jornais referiram, obteve a justa recompensa ao ser nomeado alto quadro dos CTT pela mão de um administrador indicado pelo CDS-PP.
Durante os últimos seis anos, Souto Moura, um homem que sempre deu provas de isenção, não se furtou a esforços no combate contra o Mal. Ficará para a História como um homem que não se vergou aos poderosos, aos ricos e aos famosos. A culpa foi da mão de Deus.