M. P. Quem continua a ter amigos no M. P. não morre na cadeia. Vá lá que desta vez não foi em Matosinhos ( o despacho de arquivamento)
MP considerou prescritas ou amnistiadas eventuais infracções ao PER de Matosinhos |
| Arquivamento silencioso O Ministério Público arquivou o processo de auditoria aos programas habitacionais da Câmara de Matosinhos. A decisão tem seis meses, mas não houve reacções de nenhum dos partidos representados no executivo. Paulo AlmeidaO Ministério Público mandou arquivar as eventuais infracções financeiras detectadas pelo Tribunal de Contas, numa auditoria de 2002 aos programas Especiais de Realojamento (PER) da Câmara de Matosinhos. A decisão do ministério refere-se às conclusões do relatório da auditoria, concluído em Junho de 2004, que apontava diversas irregularidades efectuadas na construção de empreendimentos e aquisições de habitações em programas para erradicação de barracas. Esses programas de realojamento, criados entre os governos de Cavaco Silva e António Guterres, para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, eram favoráveis às autarquias, que enquanto executantes podiam contratar empréstimos bancários com juros bonificados, em alguns casos a “fundo perdido”, em acordos com o INH e IGAPHE. O objectivo era a construção ou aquisição de casas para famílias que viviam em situações de carência. Vários municípios do Grande Porto, como Matosinhos, acordaram com o Estado a construção ou aquisição de milhares de habitações desde o início dos programas, em 1989, até às últimas modificações legislativas, em 2001. Em Matosinhos, os contratos com a Administração Central, nos anos 1990, previam a construção/aquisição de 3982 fogos. Tanto num como noutro município não foram integralmente construídos. É difícil apontar valores para os montantes envolvidos em operações que se estendem ao longo de anos, já que os números estão dispersos por vários documentos, mas é possível afirmar que ambos os municípios tiveram acesso a centenas de milhões de euros através dos programas habitacionais. Ninguém faz milagres No caso do município de Matosinhos chegou ao fim – em Março deste ano – um extenso processo de análise a empreitadas e demais contratos que teve início em Março de 2002 e culminou com o despacho final do ministério, que dita o arquivamento de todos os autos. O procurador Jorge Leal, do Ministério Público junto do Tribunal de Contas, que assina o despacho de arquivamento, afirmou ao JANEIRO, em Setembro, que quando as auditorias foram realizadas já haviam decorrido praticamente dez anos desde o início dos programas habitacionais. “Milagres ninguém pode fazer”, resumiu. Ficam assim arquivadas uma série de eventuais infracções financeiras, susceptíveis de carácter sancionatório, apontadas à Câmara de Matosinhos. Talvez a mais gritante seja a contratação de um empréstimo pela autarquia de um valor superior a 785 mil euros, em Maio de 2000, para aplicar no Conjunto Habitacional de Cruz de Pau, que “já estaria executado, física e financeiramente, em 15 de Abril de 1999”. Considerou o magistrado que esse desvio de financiamento prescrevera 20 dias antes da assinatura do despacho final, 28 de Março de 2006. Relativamente a outro empréstimo que podia configurar desvio de financiamento – obtenção de 486 mil euros para a construção de empreendimentos, cujos custos foram inferiores, a conclusão foi semelhante: amnistia ou prescrição. A decisão de arquivamento, que tem agora seis meses, foi comunicada aos executivos abrangidos pela auditoria de 2002, mas não mereceu atenção nem pelos partidos representados – PS, PSD e PCP –, nem pelos vereadores envolvidos, entre eles o actual presidente de câmara, Guilherme Pinto. O autarca que presidiu a Câmara de Matosinhos nos dois anteriores mandatos, José Narciso Miranda, também não quis falar sobre o despacho final do Ministério Público, apenas disse que não comentava “actos de gestão do passado” e remeteu a sua opinião “para aquilo que disse na altura própria; como se prova, tinha razão e a verdade vem sempre ao de cima”. |
16.10.06
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Paulo Almeida