25.2.11

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Maus augúrios para Kadafi

Mais do que as notícias do avanço da rebelião popular sobre Tripoli, o sinal de que as coisas vão de mal a pior para a ditadura de Kadafi são os ratos que nos últimos dias têm saltado apressadamente do barco. Porque o instinto do tipo de ratazanas que, sob a capa da "realpolitik", se junta à volta da mesa de ditadores de toda a ordem, por mais sanguinários que sejam, com a intenção de apanhar umas migalhas do banquete, nunca se engana.

Basta ouvir agora os "amigos" de Kadafi que ainda há pouco lhe tinham ido cantar os parabéns pelos seus 40 anos de poder absoluto para perdermos alguma réstia de esperança que ainda pudéssemos ter na natureza humana e, em particular, na natureza da política.
Felizmente para a Internacional Socialista, Kadafi não tem um partido e não abrilhanta, pois, o rol de ditadores "socialistas" da organização, ao contrário do RDC de Ben Ali e o PND de Mubarak (ou do FPI de Gbagbo e do MPLA de Eduardo dos Santos). Assim, a IS não terá que expulsar desta vez nenhum partido recém-apeado do poder.
A mesma sorte não tem a ONU. Ontem, o PNUD já se apressou a demitir a filha de Kadafi, Aisha, de "embaixadora da boa vontade" (que terá ela feito ontem que não fizesse há muitos anos?). Espera-se agora pelo que fará também o Conselho "dos Direitos Humanos", de que a Líbia (ao lado de outros notórios defensores dos direitos humanos, como Angola ou a Tailândia) é honorável membro.

24.2.11

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Vampiros e eunucos

Há 24 anos, feitos ontem, morreu José Afonso. Entretanto, vindos "em bandos, com pés de veludo", os vampiros foram progressivamente ocupando todos os lugares de esperança inaugurados em 1974, e hoje (basta olhar em volta) os "mordomos do universo todo/ senhores à força, mandadores sem lei", enchem de novo "as tulhas, bebem vinho novo" e "dançam a ronda no pinhal do rei", tendo, em tempos afrontosamente desiguais, ganho inaceitável literalidade o refrão "eles comem tudo, eles comem tudo/ eles comem tudo e não deixam nada".

Talvez, mais do que legisladores, artistas como José Afonso sejam, convocando Pound, "antenas de raça". Ou talvez apenas olhem com olhos mais transparentes e mais fundos. Ou então talvez a sua voz coincida com a voz colectiva por transportar alguma espécie singular de verdade. Pois, completando Novalis, também o mais verdadeiro é necessariamente mais poético.
O certo é que a "fauna hipernutrida" de "parasitas do sangue alheio" que José Afonso entreviu na sociedade portuguesa de há mais de meio século está aí de novo, nem sequer com diferentes vestes; se é que alguma vez os seus vultos deixaram de estar "pousa[dos] nos prédios, pousa[dos] nas calçadas". E, com ela, o cortejo venal dos "eunucos" que "em vénias malabares à luz do dia/ lambuzam da saliva os maiorais".
Lembrar hoje José Afonso pode ser, mais do que um ritual melancólico, um gesto de fidelidade e inconformismo.

23.2.11

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Tão amigos que nós éramos

Alguns dos melhores amigos da política externa sem princípios, só com "fins", vigente nas Necessidades, de Ben Ali e Mubarak a Kadhafi, têm estado em apuros. Mas que não contem com Luís Amado, designadamente o "amigo" Kadhafi.

Como aconteceu com a amizade da Internacional Socialista a Ali e a Mubarak, que só "descobriu" que eram ambos ditadores corruptos, expulsando-os por indecente e má figura, quando foram apeados, Luís Amado e o Governo português continuam à espera de perceber no que dá a sangrenta repressão em curso na Líbia para tomar partido.
Será bonito (mas não surpreendente) ver, acaso a revolução popular líbia ponha, como na Tunísia e Egipto, termo à ditadura de Kadhafi, Luís Amado descobrir que o "amigo" de Portugal e da J.P. Sá Couto era afinal um ditador sanguinário.
Para já, a Força Aérea líbia - a que ainda não desertou - e a artilharia da Guarda Revolucionária continuam a bombardear os bairros populares de Benghazi e Tripoli. Fazem-no tão silenciosamente, e as centenas de mortos nas ruas morrem tão discretamente, que o embaixador português Rui Lopes Aleixo ainda não deu conta de nada.
O embaixador Aleixo é um homem prudente. Ainda há pouco, um outro embaixador deu conta de que o homem de mão de Mubarak apoiado por Luís Amado para o cargo de director-geral da UNESCO era um anti-semita e um censor e foi mandado regressar a Lisboa por ter dificuldade em manter os olhos fechados.

22.2.11

2652




Sr. Mata e Sr. Esfola

Como fizeram para reduzir os salários e as prestações sociais, PS e PSD juntaram--se de novo no Parlamento, desta vez para impedir limites (nem sequer para os reduzir, só para lhes pôr freio) aos vencimentos dos gestores públicos.

Gestores públicos é um eufemismo usado para designar "boys" e "girls", em geral sem mais qualificações para gerirem o que quer que seja do que a sua disponibilidade para serem geridos. E se há assunto em que PS e PSD estão de acordo, além de que os pobres é que devem pagar as crises provocadas pelos ricos, é o da protecção dos "seus".
Embora não pareça, há no entanto diferenças entre PS e PSD. Por exemplo, o PS quer despedimentos fáceis & baratos para estimular "o emprego" enquanto o PSD também quer despedimentos fáceis & baratos mas para estimular "a economia". Para quem for despedido é igual, mas visto do lado do PS e PSD é muito diferente.
Do mesmo modo, o PS rejeitou as propostas do BE, PCP e CDS para que os salários dos gestores públicos tivessem como tecto o vencimento do presidente da República por isso ser "da competência do Governo" ao passo que o PSD as rejeitou por serem "populistas". "Boys" e "girls" do PS e PSD continuarão, pois, a poder ganhar mais do que o presidente da República. E não por um mas por dois bons motivos, um o do Sr. Mata outro o do Sr. Esfola.
É assim que PS e PSD conseguem o milagre de estar em desacordo fazendo exactamente o mesmo.

20.2.11


Armando Vara passou à frente de utentes de centro de saúde



 Armando Vara protagonizou, na passada quinta-feira, um episódio polémico num centro de saúde de Lisboa. O ex-ministro socialista passou à frente dos utentes que aguardavam a sua vez e exigiu a uma médica que lhe passasse um atestado médico, alegando estar com pressa e ter um avião para apanhar, avança a TVI.
Perante este cenário, um dos doentes que estava à espera no centro de saúde apresentou uma reclamação. José Francisco Tavares, de 68 anos, reformado e com seis filhos, de acordo com a mesma estação televisiva, dirigiu-se ao centro de saúde com um ataque de sinusite.
Quando chegou, ficou à espera da sua vez, como acontece normalmente nestas situações. Porém, quando Armando Vara chegou ao centro, desrespeitou a ordem de chegada dos doentes e entrou no gabinete da médica.
A médica, surpreendida, - relata a TVI - ainda disse a Armando Vara que o não tinha chamado. “Mas ele respondeu que estava cheio de pressa para apanhar um avião. E a médica que lhe passasse o atestado na hora”, escreve o site da estação de televisão.
A médica acabou por lhe passar o atestado, indica a estação de televisão.
Em declarações à TVI, a directora do centro de saúde, Manuela Peleteiro, explicou o sucedido: “O senhor Armando Vara entrou aí como qualquer utente e passou à frente de toda a gente. Entrou no gabinete da médica sem avisar e sem que a médica percebesse que não estava na sua vez. Foi uma situação de abuso absolutamente inconfundível”.


Armando Vara ainda não se pronunciou acerca deste episódio.