28.3.12

Os artistas




Por Luís Rosa,
Uma fantasia política de Mário Lino e Paulo Campos ameaça as contas públicas


“O Estado não será responsável pelas dívidas da Estradas de Portugal (EP).” Esta garantia absoluta foi dada por Mário Lino, ex-ministro das Obras Pública, e corroborada pelo seu fiel escudeiro, Paulo Campos, durante a apresentação do miraculoso Modelo de Financiamento do Sector Rodoviário no final de 2007. Num país com pouca memória, e sem tradição de accountability, é bom recordar, numa altura em que a EP é um autêntico sorvedouro de dinheiros públicos, que a dupla Lino/Campos vendeu ao país a teoria fabulosa de que era possível construir mais 1700 quilómetros de novas auto-estradas, adjudicadas entre 2008 e 2010, sem que o Estado pagasse um cêntimo. Essas novas vias juntaram-se aos 900 quilómetros de auto-estradas Scut e a 1500 quilómetros de vias com portagens.
Passados cinco anos sabemos que tudo não passou de uma fantasia que está a custar muito caro ao Orçamento do Estado e afecta a construção de uma alternativa credível por parte do PS.
O endividamento da EP, ao contrário do que desejava a dupla Lino/Campos, tem reflexos directos nas contas públicas, tendo disparado de 65 milhões de euros em 2005 para 2,6 mil milhões de euros em 2011, prevendo-se mesmo que ultrapasse os 4,2 mil milhões de euros em 2015 (ano em que as concessões adjudicadas pelo governo Sócrates começarão a ser pagas).
Refira-se que a questão do endividamento nunca foi uma matéria relevante para aqueles dois ex-governantes, tanto que a administração da EP liderada por Almerindo Marques aceitava teoricamente aumentar a dívida da EP até ao valor dos activos da empresa: 15 mil milhões de euros em 2010.
Mas a teoria do custo zero da dupla Lino/Campos também caiu por terra por via dos pagamentos directos que o Estado faz à EP desde 2008 por conta da Contribuição do Serviço Rodoviário. São transferências directas do Orçamento do Estado, que já ultrapassaram os 2,7 mil milhões de euros.
A questão que os governantes socialistas nunca puseram é simples: o Estado tem capacidade financeira para suportar o serviço de dívida da EP (aquele custaria zero aos contribuintes) e, ao mesmo tempo, transferir mais de 500 milhões de euros anuais para a concessionária pública? Já não tinha em 2009 e hoje ou nos próximos longos anos muito menos.
A situação pode agravar-se, como revela hoje o i, com os mais que certos pedidos de reequilíbrio financeiro que as concessionárias privadas da auto-estradas ex-Scut vão apresentar pelas dramáticas quedas de tráfego. São mais 2,3 mil milhões de euros a aumentar uma factura tão insustentável como evitável. Avisos não faltaram à dupla de artistas.

27.3.12



E o Oscar vai para...

"Nestes nove meses, nós no Governo temos cumprido aquilo que prometemos", garantiu Passos Coelho aos correligionários e ao país durante o Congresso do PSD do passado fim-de-semana. Podia tê-lo dito pondo pudicamente a mão à frente da boca e rindo para dentro como Muttley, mas não: conseguiu dizê-lo com o ar mais sério deste mundo.
Foi aplaudidíssimo. E mais que justificadamente: todo a gente sabe que, como Passos Coelho prometeu, nestes nove meses os portugueses não ficaram sem o 13.oº mês; nem subiu o IVA; nem aumentaram os impostos sobre o rendimento, mas apenas os impostos sobre o consumo; nem "quando [foi] preciso apertar o cinto, não [ficaram] aqueles que têm a barriga maior a desapertá-lo e a folgá-lo"; nem foram "impostos sacrifícios aos que mais precisam" (a Comissão Europeia é que fez mal as contas ao concluir que, em Portugal, "nestes nove meses", as medidas de austeridade exigiram aos pobres o dobro (6%) do esforço financeiro pedido aos ricos (3%); além disso, amigos como Eduardo Catroga, seu braço-direito nas negociações com a "troika", Paulo Teixeira Pinto, autor da sua proposta de revisão constitucional, ou Ilídio Pinho, seu antigo patrão, colocados na EDP, para não falar dos colocados na CGD e em tudo o que é empresa pública, podem testemunhar que, como prometeu, Passos Coelho "não [deu] emprego aos amigos".
Só não se sabe se os aplausos foram para a interpretação se para o despudor.