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Daí que tenha às vezes a impressão de que a minha razão (e no entanto sou, até em excesso, comummente racional) preside a uma ausência.
Na vida, só em raros momentos felizes razão e coração batem unanimemente, sem ressentimentos, pois se a razão é complacente, poucas vezes o coração se submete às considerações da razão.
A Revolução Cubana, que faz 50 anos, é um difícil conflito que tenho comigo mesmo. Ao longo dos anos, o meu coração, transbordante de jovens rebeldes descendo da Sierra Madre de rifles na mão e corações limpos, sangrou com Padilla preso e humilhado ("Diz a verdade,/ diz, ao menos, a tua verdade./ Depois, deixa que qualquer coisa aconteça"), com Arrufat, Reynaldo Arenas, Raul Rivero… "La sangre, no quería verla", e fechava os olhos.
Mas se o coração explica tudo, mesmo o inexplicável, a razão não. Cuba é hoje a recordação de algo íntegro e novo que, se calhar, nunca aconteceu senão dentro do meu coração.
Artur Melo e Castro (foto do blogue MarcoHoje)
São várias as questões prementes. Uma delas: Norberto Soares vai mesmo ser o candidato do PS, ou conseguirá Artur Melo reverter a situação a seu favor?
Depois de, num primeiro momento ter anunciado que abandonaria a direcção da Concelhia do PS e entregaria o cartão de militante, Melo decidiu recuar e enfrentar a Distrital. Tanto quanto parece, o primeiro passo correu-lhe bem, ao ser apoiado pelo Secretariado local do seu partido. No próximo sábado, reúne a Comissão Política do PS local, onde tenciona recolher apoios bastantes que lhe permitam um passar ao ataque.
Ao dar estes passos, Artur Melo está a querer dizer que cumpre os estatutos do partido e, assim, a colocar em dificuldades a Distrital que o renegou. Resta saber o que pensam do assunto os responsáveis nacionais do PS que, em última instância, poderão ter a última palavra.
Tanto quanto sei, Artur Melo tem confiança absoluta de que será o candidato socialista. Não partilho do seu optimismo. Desde logo, porque não vejo como é que o Distrital pode voltar a aceitar a sua candidatura, depois de ter chegado até onde chegou, sem perder a face. E, mesmo que recue, será muito difícil ao PS explicar a sucessão de cambalhotas, que não deixarão se ser aproveitadas pelos adversários.
Creio que a acontecer uma reviravolta ela poderá vir do lado de Norberto Soares. Os primeiros sinais já foram dados. Num primeiro momento, Norberto assumiu-se como candidato do PS; depois veio dizer que ainda está em reflexão sobre a matéria; mais tarde começou a dizer que talvez seja candidato independente apoiado pelo PS.
Para além de revelar alguma confusão, o discurso de Norberto permite algumas especulações: estará já arrependido de ter dado o salto para o PS? Será verdade o que se vai ouvindo, no sentido de que as hostes "norbertistas" acolheram mal a solução e há já alguns dissidentes?
Não espantaria, pois, que Norberto Soares recuasse à sua condição de independente (tal como se apresentou ao eleitorado e garantiu que se manteria), deixando, novamente, tudo em aberto no PS.
Só que, aqui, novo problema se depara a Melo. A recolocar-se como candidato, ou consegue uma grande vaga de fundo que faça esquecer as trapalhadas; ou as trapalhadas marcarão até ao fim a sua candidatura, fragilizando-a de morte.
Não está fácil por isso, a vida política de Artur Melo. Mas também não está fácil a vida da Distrital do PS, seja qual for a solução que venha a adoptar, porque, em qualquer caso, será uma solução de recurso ou uma solução contranatura.
Abertos tais cenários, há quem vá sustentando que o PS poderá ser obrigado a apresentar uma terceira via. Ainda aqui, no entanto, grandes dificuldades: ou o PS apresenta uma grande figura que possa unir as facções desavindas, ou arrisca-se a ser pior a emenda do que o soneto, deixando todos desagradados e tornando o PS uma candidatura residual.
O que nem sequer me passa pela cabeça é que o PS avance com uma tereceira via liderada por militantes locais que contribuiram para que Artur Melo fosse esfaqueado. O que, no fundo, poderá ter estado na génese de todo o problema.
Sobre o efeito que estas trapalhadas terão na candidatura de Norberto, falaremos mais tarde.
Foi, por isso, um tremendo choque para o meu pobre, "limpo" e "aberto" coração ficar a saber pelo Tribunal Constitucional que o alargamento de 90 para 180 dias do período experimental afinal "dificulta o acesso […] à segurança no emprego". A agitação que vai no meu coração, com aurículas e ventrículos recriminando-se mutuamente e a tricúspide mergulhada em profunda crise de confiança nas instituições! De tal modo que, quando quis convencer o coração de que, como o primeiro-ministro garante agora, "a avaliação dos professores é indispensável para a melhoria do sistema educativo em Portugal nos próximos anos", o coração, outrora crédulo, me fez - imagine-se! - um manguito. Ou talvez não tenha sido a mim.