3.1.09

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Um velho «conhecido» sempre bom de revisitar: A Cidade Surpreendente

2.1.09

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"Cuba en el corazón"

Não sei se acontece o mesmo com toda a gente: o meu coração vai sempre uns metros à frente da minha razão; quando a razão chega, já o coração - ou lá o que é - partiu de novo.

Daí que tenha às vezes a impressão de que a minha razão (e no entanto sou, até em excesso, comummente racional) preside a uma ausência.

Na vida, só em raros momentos felizes razão e coração batem unanimemente, sem ressentimentos, pois se a razão é complacente, poucas vezes o coração se submete às considerações da razão.

A Revolução Cubana, que faz 50 anos, é um difícil conflito que tenho comigo mesmo. Ao longo dos anos, o meu coração, transbordante de jovens rebeldes descendo da Sierra Madre de rifles na mão e corações limpos, sangrou com Padilla preso e humilhado ("Diz a verdade,/ diz, ao menos, a tua verdade./ Depois, deixa que qualquer coisa aconteça"), com Arrufat, Reynaldo Arenas, Raul Rivero… "La sangre, no quería verla", e fechava os olhos.

Mas se o coração explica tudo, mesmo o inexplicável, a razão não. Cuba é hoje a recordação de algo íntegro e novo que, se calhar, nunca aconteceu senão dentro do meu coração.

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POR J.M. COUTINHO RIBEIRO, ÀS 00:05 | COMENTAR

Artur Melo e Castro (foto do blogue MarcoHoje)

 

São várias as questões prementes. Uma delas: Norberto Soares vai mesmo ser o candidato do PS, ou conseguirá Artur Melo reverter a situação a seu favor?

Depois de, num primeiro momento ter anunciado que abandonaria a direcção da Concelhia do PS e entregaria o cartão de militante, Melo decidiu recuar e enfrentar a Distrital. Tanto quanto parece, o primeiro passo correu-lhe bem, ao ser apoiado pelo Secretariado local do seu partido. No próximo sábado, reúne a Comissão Política do PS local, onde tenciona recolher apoios bastantes que lhe permitam um passar ao ataque.

Ao dar estes passos, Artur Melo está a querer dizer que cumpre os estatutos do partido e, assim, a colocar em dificuldades a Distrital que o renegou. Resta saber o que pensam do assunto os responsáveis nacionais do PS que, em última instância, poderão ter a última palavra.

Tanto quanto sei, Artur Melo tem confiança absoluta de que será o candidato socialista. Não partilho do seu optimismo. Desde logo, porque não vejo como é que o Distrital pode voltar a aceitar a sua candidatura, depois de ter chegado até onde chegou, sem perder a face. E, mesmo que recue, será muito difícil ao PS explicar a sucessão de cambalhotas, que não deixarão se ser aproveitadas pelos adversários.

Creio que a acontecer uma reviravolta ela poderá vir do lado de Norberto Soares. Os primeiros sinais já foram dados. Num primeiro momento, Norberto assumiu-se como candidato do PS; depois veio dizer que ainda está em reflexão sobre a matéria; mais tarde começou a dizer que talvez seja candidato independente apoiado pelo PS.

Para além de revelar alguma confusão, o discurso de Norberto permite algumas especulações: estará já arrependido de ter dado o salto para o PS? Será verdade o que se vai ouvindo, no sentido de que as hostes "norbertistas" acolheram mal a solução e há já alguns dissidentes? 

Não espantaria, pois, que Norberto Soares recuasse à sua condição de independente (tal como se apresentou ao eleitorado e garantiu que se manteria), deixando, novamente, tudo em aberto no PS.

Só que, aqui, novo problema se depara a Melo. A recolocar-se como candidato, ou consegue uma grande vaga de fundo que faça esquecer as trapalhadas; ou as trapalhadas marcarão até ao fim a sua candidatura, fragilizando-a de morte.

Não está fácil por isso, a vida política de Artur Melo. Mas também não está fácil a vida da Distrital do PS, seja qual for a solução que venha a adoptar, porque, em qualquer caso, será uma solução de recurso ou uma solução contranatura.

Abertos tais cenários, há quem vá sustentando que o PS poderá ser obrigado a apresentar uma terceira via. Ainda aqui, no entanto, grandes dificuldades: ou o PS apresenta uma grande figura que possa unir as facções desavindas, ou arrisca-se a ser pior a emenda do que o soneto, deixando todos desagradados e tornando o PS uma candidatura residual.

O que nem sequer me passa pela cabeça é que o PS avance com uma tereceira via liderada por militantes locais que contribuiram para que Artur Melo fosse esfaqueado. O que, no fundo, poderá ter estado na génese de todo o problema.

Sobre o efeito que estas trapalhadas terão na candidatura de Norberto, falaremos mais tarde.

 

29.12.08

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Assim se fecham corações

Como podia eu, com um coração tão vasto que, como canta Jacques Brel, só se consegue ver metade dele, deixar de acreditar no que me garantia há meses, olhos nos olhos, o primeiro-ministro, que "ninguém que esteja com o coração limpo, com o coração aberto, pode concluir que esta proposta do Governo de Código do Trabalho não se destina a combater a precariedade e a defender os trabalhadores"?

Foi, por isso, um tremendo choque para o meu pobre, "limpo" e "aberto" coração ficar a saber pelo Tribunal Constitucional que o alargamento de 90 para 180 dias do período experimental afinal "dificulta o acesso […] à segurança no emprego". A agitação que vai no meu coração, com aurículas e ventrículos recriminando-se mutuamente e a tricúspide mergulhada em profunda crise de confiança nas instituições! De tal modo que, quando quis convencer o coração de que, como o primeiro-ministro garante agora, "a avaliação dos professores é indispensável para a melhoria do sistema educativo em Portugal nos próximos anos", o coração, outrora crédulo, me fez - imagine-se! - um manguito. Ou talvez não tenha sido a mim.