1.9.11

Ao que parece a c.p.c. tem construído muitas escolas:



Sócrates foi a Berlim ter um encontro a sós com Merkel

Ex-primeiro-ministro esteve na última sexta- -feira com a chanceler alemã e uns dias antes com Zapatero. Antecipou-se a Passos Coelho



Afinal José Sócrates não está em retiro ou a estudar Filosofia em Paris. Os seis anos que esteve no poder continuam a marcar a sua vida. O vício da política e de estar no centro das decisões nacionais e europeias levou-o a Berlim e a Madrid, não fosse Passos Coelho pensar que tinha o caminho livre nas suas deslocações pela Europa.

Sexta-feira passada, Sócrates encontrou-se em privado com a sua grande amiga Angela Merkel. O encontro foi confirmado ao i pelo gabinete de imprensa do governo federal alemão. Os temas discutidos ficaram no segredo dos deuses, mas com certeza que a situação portuguesa, as posições do governo do PSD/CDS e a forma como a Alemanha tem enfrentado a crise das dívidas soberanas na zona euro estiveram no centro da conversa privada. O que não deixa de ser curioso, já que este encontro aconteceu uma semana antes de Passos Coelho aterrar em Berlim para um encontro com Merkel. O primeiro- -ministro chega hoje à Alemanha e vai por certo encontrar uma Angela Merkel com um conhecimento profundo de tudo o que se passa em Portugal. Resta saber se vai encontrar um caminho aberto ou um terreno minado pela diplomacia paralela, a que Sócrates parece estar dedicado.Mas não se pense que os encontros bilaterais e as suas ambições diplomáticas ficaram por Berlim. Dias antes, o diplomata freelancer aterrou em Madrid, mais uma vez à frente de Passos Coelho, para ter um encontro igualmente privado com Zapatero, o seu "melhor amigo político", como Sócrates fazia questão de afirmar sempre que tinha oportunidade de mostrar a intimidade entre os socialistas ibéricos.

Fonte oficial de Moncloa confirmou o encontro, que classificou como de amigos, sem precisar o dia da semana passada em que ocorreu. Tal como em Berlim, também aqui os temas têm cláusula de confidencialidade e a mesma fonte chegou mesmo a afirmar ao i que ninguém encontrará registo algum das conversas tidas entre Zapatero e Sócrates. Passos Coelho chegou ontem a Madrid e esteve com o chefe do governo espanhol sem adivinhar que o seu antecessor já lá tinha estado a facilitar ou a minar as relações entre o governo de direita e um governo socialista que vai a votos a 20 de Novembro e que tem fortes possibilidades, lá como aconteceu por cá a 5 de Junho, de ser copiosamente derrotado.

A quem conhece José Sócrates, não espanta esta tentação de influenciar as decisões e condicionar a margem de manobra dos adversários políticos. Estamos igualmente bem habituados ao pouco sentido de fair play político do ex-primeiro-ministro. O que talvez fosse mais difícil de imaginar é que os dirigentes políticos europeus aceitassem jogar intrigas de bastidores. Resta esperar que tais malabarismos não tenham maior consequência que aquela que tiveram outros números circenses de José Sócrates. Estaríamos nesse caso diante de práticas de política paralela que, a ser apadrinhadas ao mais alto nível dos salões europeus, seriam motivo de preocupação. Não é segredo para ninguém o facto de o chumbo do PEC 4 em Março não ter caído no agrado de Angela Merkel, a ponto de Passos Coelho não ter sido depois poupado à reprimenda da chanceler alemã e de Sarkozy. Pelos vistos, o primeiro-ministro português está longe ainda de poder contar, junto dos amigos de Sócrates, com a confiança que nele depositaram os portugueses no recente acto eleitoral.

Pode não nos agradar que os políticos europeus lidem assim com o governo português, mas temos que nos acostumar, pois a situação em que nos deixou a governação socrática condena--nos mais que nunca a uma posição sem voz nem decisão, recebidos em regime de segunda classe, calados e sempre de mão estendida.

Alerta laranja

Uma aflitiva dúvida mantém, há dois dias, o meu cérebro em alerta laranja (cor apropriada): para que raio quererá o Ministério das Finanças saber do meu colesterol e dos meus triglicerídeos (e dos seus, leitor) e o Ministério da Saúde saber quanto pagamos pela prestação da casa?
Diz a Comissão Nacional de Protecção de Dados que o que o Governo pretende é "excessivo", "intrusivo" e "compromete o sigilo médico" e fiquei ainda mais intranquilo. De facto, o Governo "passaria a ter acesso (...) ao perfil de saúde dos cidadãos, o que é assustador". E é. Eu (ou você, leitor) confidenciaríamos ao médico que tínhamos uma gonorreia e o médico iria logo (o Governo quer saber tudo "em tempo real") contar aos drs. Paulo Macedo e Vítor Gaspar. E se eles decidissem privatizar (crise obriga) essa preciosa informação, vendendo-a, por exemplo, à nossa seguradora? E se o diagnóstico fosse fatal e o médico decidisse não no-lo dizer imediatamente e o Governo soubesse a triste (ou alegre, sei lá) notícia primeiro que nós?
Não seria mais fácil o Governo mandar o SIS e o SIED porem escutas nos gabinetes de consulta do SNS? Ou então arranjar informadores como o que, em 9 de Junho de 1972, mandou à PIDE/DGS o Relatório n.º 202/72/SC informando que minha mulher tinha "uma doença cancerosa" e que tanto eu como ela éramos "afectos ao regime". Mas mais competentes que esse, pois nem ela felizmente tinha nem nós éramos.

31.8.11

Governo escolhe assessores para venda da EDP sem concurso


Segundo apurou o Negócios, os valores de comissões em causa ascendem a 15 milhões de euros para a EDP e de cinco milhões para a REN.


O Governo escolheu a Perella Weinberg Partners (PWP) como assessor financeiro para as privatizações da EDP e REN, em conjunto com o Caixa - Banco de Investimento. A escolha da sociedade internacional de serviços financeiros não foi feita através de um concurso público, obrigatório para adjudicações acima dos 75 mil euros. 

29.8.11




Jornalista mas patriota


Revela o "Expresso" que espiões do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) obtiveram ilegalmente, tudo indica que da Optimus, uma lista dos telefonemas e SMS do então jornalista do "Público" Nuno Simas para fins pouco claros mas que se julga visarem a identificação das suas fontes.
Tenho uma boa notícia para o SIED e, já agora, também para o Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP): no que me diz respeito escusam de recorrer a práticas criminosas e podem solicitar-me directamente todos os números para que telefono e me telefonam que, com a patriótica intenção de facilitara vida aos esforçados espiões da República, terei o maior gosto em fornecer-lhos de imediato.
Proponho-me ainda gravar as comunicações que fizer e receber (e, no caso de cartas e correspondência avulsa, incluindo publicidade não solicitada, fotocopiar), mandando tudo ao SIED e ao SIRP, bem como, se for caso disso, igualmente informação detalhada sobre a cor e padrões da minha roupa interior.
Por fim, já que possuo cópia (ilegal, mas isso que importa?) das informações a meu respeito obtidas pela PIDE/DGS nos saudosos tempos anteriores ao SIED e ao SIRP, terei também o maior gosto em partilhá-las com o Sistema de Informações da República.
Só com uma mais que justa condição: que me seja deduzido em sede de IRS o valor da poupança em pessoal e meios que assim proporcionarei ao agora Estado Democrático.