15.4.11

O tesourinho

Anulou-se meio TGV? A Mota-Engil processa. Anula-se o outro meio? Processa a Soares da Costa. Estão cobertas de razão. Mas os advogados mandam menos que os políticos. E os políticos têm de rever estes contratos com a mesma crueldade com que reviram os dos funcionários do Estado para lhes cortar salários. 




Vícios privados culpas públicas

O à-vontade com que o ainda ministro das Finanças continua, na situação de emergência financeira em que o país se encontra, a dispor do dinheiro dos contribuintes e dos sacrifícios dos portugueses mais vulneráveis não tem, pelos vistos, limites. Agora diz que o Estado está "disponível" para entrar no capital dos bancos.

Isto depois de o mesmo Estado ter enterrado milhões no BPP e BPN e se ter endividado a juros usurários em benefício dos bancos, que intermediaram a dívida pública com dinheiro obtido no BCE a 1% e emprestado ao Estado a 7,8 e 9%. E que, quando a coisa deu para o torto, exigiram ao Governo a entrada do FMI, cuja "ajuda" inclui uma fatia específica para a Banca (se calhar para o negócio das privatizações a pataco que aí vem).
Disse-o o director-geral do FMI: "O problema de Portugal não é tanto a dívida pública como o financiamento dos bancos e a dívida privada".
De facto, a dívida pública portuguesa (previsão para 2011) corresponde a 97,3% do PIB e é inferior à de países como a Irlanda (107%), Grécia (150,2%), Bélgica (100,5%) ou Itália (120,2%). Mesmo as da França e Alemanha andam, respectivamente, pelos 86,8% e 75,9%.
Já a dívida privada, de que pouco se fala e cujas principais fatias são da Banca e do imobiliário, é de 220% do PIB! É essa dívida que a Comissão Administrativa de FMI, BCE e CE vem agora cobrar a pobres, pensionistas e desempregados. A bem da Nação, como sempre.

14.4.11



República Espanhola

o PS visto por Marta Rebelo

De gravata cor-de-rosa PS – fushia, em rigor cromático – polegar pronto a elevar o moral, teleponto de lente cristalina sem lugar a enganos mas engasgos de emoção, o líder pergunta se estão com ele. E em apoteose estão todos. Todos se convencem que dia 5 de Junho chegará a vitória. O FMI passa a ser sigla desconhecida e o PSD a besta, numa amnésia colectiva de euforia telegénica produzida pelo maior realizador e protagonista da era mediática da política nacional: José Sócrates, senhoras e senhores. Chegou, discursou, venceu? Não. Mas na bolha da Exponor e até às 14h de domingo passado todos queriam tanto que sim.

Fui delegada de sofá (por doença grave) o que me concedeu o distanciamento necessário para analisar aquelas pessoas. Muitas fazem parte do meu quotidiano há tantos, muitos anos. Sou leal, não sou cega. E foi muito mais fácil colocá-los no divã em frente ao meu sofá, tomar-lhes o pulso aos pecados e antever-lhes as vontades recalcadas, com a TV a intermediar-nos o encontro.



Sejamos verdadeiros: o que é que há para salvar? Nem a face. Vencer as legislativas é ganhar uma carga de trabalhos, a gestão da bancarrota e ter o triste contentamento de ser eleito pelos que votarão encolhendo os ombros enquanto a caneta faz a cruz. As sondagens são cruéis: quem vier a seguir, será tão mau quanto quem está. Mas o poder é uma vertigem de loucura, vício e ilusão da possibilidade do salvamento constante. E em euforia estudada, quase acreditando nela, estava lá a constelação dos maiores: José Sócrates, António José Seguro, António Costa, Francisco Assis. 

Depois, porque a união foi cozida com linha de pesca, da que não quebra senão mordida por um tubarão – e o único que tínhamos retirou-se, Jaime Gama – estavam Carlos César, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues. E Edite Estrela a organizar os «peço a palavra» a Almeida Santos, o que valeu a Ana Gomes ser enxotada para a meia-noite de sábado e o pavilhão vazio. Erro – e este PS não costuma fazer destes: as TV´s só queriam uma voz dissonante. Mesmo sem gravata de cor estudada, Ana Gomes teve quase tanto palco quanto Sócrates.



Mas vamos ao futuro. E depois do adeus, o que faziam eles ali? Primeiro é preciso que haja adeus do grande líder. Sócrates é dos que cai de pé. Não bebe cicuta, fareja-a à distância. Vai a eleições. Perde-as, mas por uma unha negra. E quero ver Cavaco a obrigá-lo a retirar-se para outras pistas de sky para possibilitar o bloco central de todos. O homem da esquerda moderna pode bem ganhá-las por uma unha negra, e o imbróglio não muda de figura. Mas muda a vida interna do PS.

Seguro respira já os ares do próximo congresso, que muitos dizem ser dentro de três meses. Será eleito, pois claro. Na surdina, nos bastidores, a fazer a sua cama com lençóis de algodão egípcio desde 2004, tecido pelos melhores artesões do aparelho socialista, não acredito que alguém vença Tozé. Tal como não lhe antevejo qualquer feito relevante. Não sabe escolher gravatas nem combinar-lhes as cores. Fala pouco, não vá comprometer-se. No congresso, dirigia-se aos jornalistas dizendo lugares comuns como um jogador da bola na flash interview. Não me identifico com gente que só faz e fala em off, para evitar o compromisso. António José Seguro é o amante que anda com a caixa do solitário no bolso há anos, à espera do momento propício para fazer o pedido sem correr o risco da noiva dizer que não. Calculismo é só forma, e por mais quilates que o diamante tenha não há gemas perfeitas. Pode viabilizar o bloco central? Pode. Vai ser Secretário-Geral do PS? Vai. Um dia Guterres, num momento intimo a quatro, prognosticou que Seguro faria a liderança da esquerda do PS. E como anda há tanto tempo a preparar-se, é seguramente impoluto. Encontrem-lhe lá a careca, desafio-vos. Encontrem-lhe lá o génio ou as ideias, peço-vos.



Se, e só se, daqui a três meses se repetir o conclave socialista, Francisco Assis, atira-se ao caminho de Seguro. Perde, mas como provou em Felgueiras, não tem medo nenhum de levar tareia e tem tempo. É determinado, este nosso povo gosta mais dos fortes do que dos das falinhas mansas, como Seguro. Não tem o aparelho do PS em todo o seu esplendor, mas tem os que vêm minando a vida a António José e se preparam para lhe dar guerra. Tem os que ainda acharem que devem alguma coisa a Sócrates, que tem com António José um ódio mútuo de décadas – mas esses serão tão poucos, num partido as dívidas eclipsam-se todas na má sorte. Tem uma certa continuidade do status quo, sem estar demasiado comprometido com o dito. Tem fibra própria, imagino-lhe um pequeno-almoço menos metódico do que o de Tozé, que se atira voraz às fibras dos cereais saudáveis para o corpo e a mente todas as manhãs. Só que é aqui que Seguro é impossível de bater: no método, na organização, na espera. Nem precisa de esticar muito as pernas quando descansa de esperar sentado. 

Depois o eterno amado António Costa. No PS sempre me disseram «costista». Estes alinhamentos lembram-me a «cosa nostra», mas tenho uma admiração assumida pelo edil de Lisboa que me vem ainda da menoridade. Hoje ouso dizer que os timmings vão estando contra ele. E que está errado se vê com solidez a mudança directa dos Paços do Concelho para o Palácio de Belém, à semelhança do seu mentor Sampaio. António, precisa de escolher a cor de gravata certa para o palco adequado, e esticar o tempo como num jogo de xadrez. Xeque-mate?



Manuel Alegre, porque era preciso, foi morder a mão do PCP e do BE, que lhe deu de comer e uma bela indigestão em Janeiro; Ferro Rodrigues voltou, é um homem bom e nestes anos chamou os bois pelos nomes; Carlos César é determinante. Porém não sei que vento ou casamento virá dos Açores. César não gosta de Sócrates, isso um leigo percebe. Foi alegrista como poucos atentando contra a moderação lisboeta; disse à porta do Congresso que o governo cometeu erros e identificou-os: demorou demasiado tempo a reconhecer a existência da crise, a «internalizá-la», foi demasiado keynesiano e a estratégia falhou. Depois, debaixo dos holofotes, disse como os outros, «Zé, estou contigo». É, como figura, mais forte do que Seguro, mas socialistamente mais insular; facilmente se entenderia com Costa, são ambos rijos; com Assis, depende da direcção dos ventos nas Lajes. Curiosamente, disse o mesmo que Ana Gomes foi bradar a palco. Mas lá dentro, na cenografia magnificamente orquestrada alinhou pelo diapasão da unidade.

Este PS precisa de definição. Precisa o país, precisamos todos. Estou certa de que já todos recuperaram da embriaguez do fim-de-semana. E sóbrios, esperam pelo futuro do líder. Sócrates não sucederá a Sócrates, isso todos pensam e (quase) todos anseiam. Eu, a quem «elogiaram» como «a menina bonita do PS», «a socranete n.º 1», ou «a estrela em ascensão», respondo que a idade traz rugas; então e Edite Estrela?; e as estrelas acabam cadentes. Estou desiludida, afastada e farta desta engrenagem do meu partido (vá, chamem-me o que quiserem). Não sei se estou contigo, Zé – eu manifestante com a Geração à Rasca. E sem humildade de plástico, não me tenho na conta de futuro de nada. Todavia, avance quem for contra Seguro, regresso com o arsenal que aprendi a reunir com todos estes. Estarei com Costa sempre. Com Assis, se for ele a avançar. Posso porém garantir-vos que o meu arsenal não caberá nunca numa lata de salsichas nobre, daquelas pequeninas e de seis unidades, de qualidade dúbia mas que de repente geraram uma corrida às prateleiras dos supermercados. Que partidos são estes?!

Este fim-de-semana o PS esteve ocupado numa vitória colectiva, reunido para um espectáculo de pirotecnia do mais elevado teor de unidade e de tiro ao alvo social-democrata, o criador de todas as desgraças do rating do país e, afinal, da sua paupérrima condição. Vamos ver quem atira na lata de salsichas certa.

fernando

O álibi

por MANUEL MARIA CARRILHO


Ao ver as reportagens do Congresso do PS, a pergunta que mais frequentemente me ocorreu foi como é que os Portugueses, na angustiante situação que vivemos, olhariam para aquele espectáculo.
Um espectáculo que exibia uma incómoda exuberância de meios ao mesmo tempo que revelava uma montagem atenta ao mais ínfimo pormenor (com música, abraços e lágrimas). Mas de onde, na verdade, não brotava uma só ideia, uma só preocupação com o País, uma só proposta para o futuro...
Onde, pelo contrário, era bem visível a obsessão com o poder e a preocupação em bajular o líder no seu bunker, seguindo um guião e repetindo "ad nauseam" um só argumento, com uma disciplina de fazer inveja ao PCP!...
Ter-se-á atingido aqui o lúgubre apogeu do "socialismo moderno", esse híbrido socrático que ficará na história por ter esvaziado o Partido Socialista de quase todos os seus valores patrimoniais e diferenciadores, reduzidos agora a um mero videoclip.
Como na história ficará também a indigência intelectual e o perfil ético de tantos "senadores" do PS que subiram ao palco para - com completo conhecimento de causa sobre o gravíssimo estado do País - acenar cinicamente aos militantes e aos Portugueses, por puro e interessado calculismo político.
O Congresso assumiu a estratégia de Sócrates que é, há muito, clara: ignorar os factos e sacudir as responsabilidades. Inventando uma boa história, que seja simples, que hipnotize as pessoas e, sobretudo que as dispense de olhar para os últimos seis anos de governação, para os números do desemprego, do défice, da dívida ou da recessão. Ou de pensar nas incontornáveis consequências de tudo isto no nosso futuro. Eis o marketing político no seu estado mais puro, e mais perverso.
Esta história começou a ser preparada logo em Janeiro, quando era por demais evidente o que se iria passar com o nosso endividamento e com as nossas finanças públicas. Sócrates lançou então o slogan "Defender Portugal", insinuando subliminarmente que os adversários do PS só podiam ser adversários de Portugal.
Montado o cenário, faltava apontar os vilões. Primeiro, o inimigo externo, e para isso diabolizou-se o FMI, qual dragão que paira ameaçadoramente sobre as nossas cabeças, e contra o qual o herói luta com denodo. Um pouco mais tarde, com o chumbo do PEC IV, estava encontrado o inimigo interno. Um inimigo que "tira o tapete" ao nosso herói, exactamente quando este "ia salvar Portugal". Ferido, o herói não sai de cena. Ei-lo que se reergue, determinado, para mais uma batalha. Desce o pano, e agenda-se o segundo acto para dia 5 de Junho.
Há que reconhecer: tudo isto foi muito bem planeado, teatralizado e concretizado, de modo a que esta fábula funcione não só como um álibi para Sócrates mas, também, como uma "cassete" de campanha.
Montada a história, trata-se agora de repeti-la. É como se todos os dirigentes socialistas passassem a falar pelo teleponto do próprio Sócrates, como se todos tivessem esse teleponto dentro da própria cabeça - e isso, como vimos, funciona, pelo menos em mundos como o da "bolha" do Congresso de Matosinhos.
A força da história avalia-se pelo modo como deforma os factos e maquilha a realidade. Em Matosinhos, ela foi muito eficaz para esconder aquilo que na verdade mais perturba os socialistas: esta é a terceira vez que o FMI é chamado a intervir em Portugal, e, sendo verdade que veio sempre a pedido de governos liderados pelo PS, esta é a primeira vez em que vem devido a erros de governação do próprio PS.
Isto nunca tinha, de facto, acontecido: em 1977/78 o FMI veio por causa dos "excessos" revolucionários, e em 1983/84 para corrigir os deslizes do governo de direita, da Aliança Democrática. Em ambas as situações o PS apareceu, com a coragem de Mário Soares, a corrigir os erros de governações anteriores e a defender o interesse nacional. Desta vez é diferente: o FMI é chamado a Portugal justamente devido à acção de um governo do PS, dirigido pelo seu secretário-geral.
Para grandes males, grandes desculpas? É o que parece. Esta história inventada pelos conselheiros de Sócrates vai fazendo o seu caminho. Espalha-se com mais desenvoltura que um programa eleitoral, e consegue fazer com que muita gente, sem dar por isso, acredite no inacreditável: num dia o nosso primeiro-ministro estava "quase a conseguir salvar-nos", e no dia seguinte o chumbo do PEC IV abriu um buraco de 80 mil milhões de euros...
Não consigo conformar-me com este modo de "fazer política". Sofro, como milhares de socialistas, e certamente muitos mais portugueses, com este tipo de comportamento que joga no "vale tudo" para permanecer no poder. Ao arrepio de todos os valores, ignorando as mais elementares regras da ética, transformando a política num mero exercício de propaganda que se avalia por um único resultado: continuar no poder.
O Partido Socialista ficou reduzido ao álibi de Sócrates. Um secretário-geral que deu sem dúvida provas como candidato eficaz, mas que também já as deu como governante medíocre, conduzindo o País à bancarrota e à mais grave crise que o País já conheceu desde o 25 de Abril de 1974.
Foi com estes dados que o PS saiu do Congresso, à espera de um milagre eleitoral no próximo dia 5 de Junho. Mário Soares falava prudentemente, aqui no DN de anteontem, no risco de um duche gelado que entretanto o PS corre. Mas mesmo que tal não aconteça, não haja ilusões: ganhe ou perca, no dia seguinte às eleições este PS do álibi vai estar como estava na véspera - com uma mão-cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Talvez, finalmente, a olhar para o abismo onde nos conduziu. E quanto a Portugal, o que será de nós?

13.4.11

O lobo e o cordeiro. Uma história triste

O lobo e o cordeiro. Uma história triste

por Ana Sá Lopes, 
Passos Coelho, efectivamente, mentiu ao país durante um mês. "Omitiu deliberadamente" o encontro a sós com José Sócrates na véspera da apresentação do PEC IV e transformou-o num "telefonema do primeiro-ministro" para sustentar a inflexibilidade negocial de Sócrates e o desejo do primeiro-ministro de provocar uma crise política.
Como José Sócrates se esteve nas tintas para o Presidente da República, não custava nada à opinião pública acreditar na verosimilhança da versão do líder do PSD - um telefonema breve para despachar um assunto sem despacho possível.
Porque mentiu Passos Coelho? Por orgulho ferido, simplesmente. Não queria voltar atrás, em público, na sua promessa grandiloquente de nunca mais se reunir a sós com o primeiro-ministro.
Mas correu tudo mal. Passos Coelho foi apanhado em duas mentiras (ou inverdades, a palavra de preferência dos políticos) em sequência. Primeiro voltou atrás na promessa de nunca mais se reunir a sós. Depois de se desdizer nisto, inventou um telefonema em substituição de um encontro. Foi penoso ver Passos Coelho na TVI explicar que houve de facto um telefonema - para marcar o encontro, claro.
Há qualquer coisa de tocante na ingenuidade de Passos Coelho, embora isso provavelmente não lhe renda grande coisa: como é que imaginou que o encontro com Sócrates permaneceria secreto? Se as coisas tinham corrido tão bem antes - ao ponto de fazer aquela jura desajustada de "nunca mais a sós" -, porque imaginou que Sócrates cumpriria a jura secreta? É quase comovente. Numa luta entre o lobo e o cordeiro, ganha sempre o lobo - o risco de esta metáfora se tornar significativa à medida que a campanha avançar é muito grande para as ambições eleitorais do PSD.
Mas a "omissão deliberada" de Passos Coelho vem trazer alguma luz sobre os acontecimentos que levaram à demissão do governo. Apesar de tudo, e ao contrário das aparências que o gesto do "telefonema" parecia manter, Sócrates tentou mesmo negociar com Passos. E saiu do famoso encontro convencido de que poderia haver alguma abertura para que o PSD desse o aval ao plano de austeridade exigido por Bruxelas. De resto, as palavras cautelosas de Miguel Relvas, o secretário-geral do PSD, na manhã seguinte, confirmam a hesitação do PSD. Numa conferência de imprensa na sede do partido, Relvas mostrou abertura a viabilizar as exigências de Bruxelas. Só depois de o resto da direcção ter sido ouvida - e nomeadamente depois de Marco António ter feito a famosa ameaça de que ou haveria eleições no país ou haveria no PSD - é que a decisão de chumbar o PEC IV se tornou irreversível.
Os portugueses podem estar com Sócrates pelos cabelos, mas as hesitações, as omissões e as confusões de Passos Coelho não servem de grande bálsamo. Ontem quem esteve a ganhar foi Portas, que se pôs acima deste insuportável ruído.

12.4.11

Estrada para nenhures


Dinheiro Vivo

Estrada para nenhures

Ouve-se José Sócrates a falar no Congresso do PS deste fim-de-semana e fica-se basbaque: deve ser outro país aquele de que fala. Depois vê-se a unanimidade apoteótica dos socialistas em torno de Sócrates e fica-se preocupado: as fileiras não estão cerradas, estão é encerradas – encerradas à realidade.
Por:Pedro S. Guerreira, Director do Jornal de Negócios
O fogo-de-artifício serve de manobra de diversão: enquanto se olha para o ar, não se vê o chão. Mas o chão fugiu--nos de debaixo dos pés.
O País foi intervencionado. Pediu ajuda. Entrou em bancarrota. O País falhou, ficou sem dinheiro, sem crédito, sem credibilidade. A realidade é esta, é triste, é mesmo vergonhosa. Esse falhanço é colectivo mas não fomos nós ‘todos' que falhámos. Primeiro porque não fomos todos irresponsáveis, depois porque temos chefes, que elegemos e que não são inimputáveis. O Governo pode invocar a crise internacional como atenuante mas não é aceitável que dois dias depois de ver o País ajoelhar-se em súplica aos credores se feche num discurso de triunfo.
Hoje aterra em Lisboa a equipa do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Devíamos ter vergonha por tê--los chamado. Tenhamos ao menos esperança de que sejam eles a ajudar os portugueses. Porque os que cá estão não parecem talhados para isso.

Portugueses pagam a energia mais cara

Portugal tem das energias mais caras entre o grupo de países industrializados, revela o relatório ontem divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que analisa a política ambiental do País na última década.
Os preços da electricidade e do gás natural para consumo doméstico são 61% mais caros do que a média dos países da OCDE, com base em preços de 2009. A cobrança de impostos na gasolina é também das mais altas, atingindo os 64% em 2009. No relatório ‘Evolução do Desempenho Ambiental’, a OCDE sustenta que Portugal deve liberalizar o mercado da electricidade, acabando com "o serviço universal entregue à EDP". Sustenta a OCDE que Portugal deveria alargar os impostos relacionados com o ambiente, para concretizar a consolidação orçamental sem comprometer a recuperação económica.
Na apresentação do relatório, no Oceanário de Lisboa, o director do Ambiente da OCDE, Simon Upton, avançou com exemplos de impostos a criar: "Taxa sobre segunda habitação no Litoral, actividades turísticas em zonas naturais ou o uso de pesticidas." A OCDE reconhece o esforço que tem sido feito em Portugal na obtenção de receitas de impostos ambientais, que atingem os 8% do total de receitas, "bem acima da média dos países da OCDE". A ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, defendeu o aumento de impostos, numa lógica de poluidor/pagador. "É altura de aplicar tarifários e taxas", referiu. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Sérgio Vasques, que também esteve presente na cerimónia, ouviu a recomendação da OCDE, que indica o fim de incentivos fiscais, como o de abate de automóveis. Também os mecanismos de apoio as renováveis mais maduras, como a energia eólica ou a biomassa, devem acabar. 

11.4.11

Ontem como hoje


Por fim do ano de 1878, e por espírito de emitação, o Banco Ultramarino expiou, como o Banco de Bruxelas, as leviandades de uma péssima administração e o abuso de um guarda-livros, de um exército deempregados e de directores que meteram a mão nas algiberas… dos outros, postas sob a sua salvaguarda. No dia imediato ao do desastre, o tesouro público punha à disposição do Banco Ultramarino a soma de dois milhões de francos, o dobro dos desvios de fundos. Aqui temos guada-livros, tesoureiros, empregados e directores que vão ao banco dos réus  responder perante a justiça – se a justiça intervier no caso – por factos que se lhes imputam, e o governo corre em auxílio do cofre despojado! Porquê?...Por que razão?... Como é que os dinheiros do Estado têm que ver com uma sociedade constituída por accionistas, de entre os quais alguns grandes e minúsculos empregados são uns gatunos?E com que direito aqueles que administram os dinheiros públicos aos quais as cortes consignam destino especial, podem aplicá-los em socorrer um banco em falência?... Questões importantes em toda a parte mas que seriam aqui impertinentes.

Maria Rattazzi, Portugal de Relance, 1880, Antígona, Lisboa 2004, pag. 232-233
Declaração


Eu abaixo assinado declaro por minha honra que tanto me faz ser candidato a Presidente da República como candidato a Deputado, ou a outro tacho qualquer.

Se alguma vez falei contra os Partidos foi porque estava distraído, ou melhor fui traído por quem me escreve os discursos. Não sou de Direita nem de Esquerda, porque isso já não se usa. Sou por Portugal. É sempre bom que qualquer Partido me aceite porque assim lhe vai ser mais fácil o discurso da abertura á sociedade civil. Lamento não ser ex comunista porque daria mais garantias mas nunca me deixaram lá entrar. Sou muito popular no meu bairro, tenho os impostos em dia e não sou devedor de nada.

Espero contactos para:

Portuga Reguila

O desprezo pela política




O desprezo pela política

Se a linguagem da política se rege hoje apenas por critérios de conveniência e oportunidade, sem procurar qualquer relação com o sentido ou com a verdade (mesmo expressões como "falar verdade ao país" são profundamente mentirosas), os congressos partidários constituem só encenações histriónicas para o exterior, sobretudo para as TV, e perderam há muito a preocupação de exibir algum simulacro de debate.

Os recentes congressos do PS e do PSD Madeira exemplificam exuberantemente uma coisa e outra, a corrupção da linguagem política que, amplificada e banalizada pelos meios de comunicação de massa, contamina depois a linguagem comum, e a natureza meramente teatral dos congressos, tornados instâncias de glorificação unanimista das lideranças, quaisquer que sejam (recorde-se que até a moção de Santana Lopes foi aprovada no Congresso de Barcelos sem votos contra) e onde aos congressistas cabe o papel dos espectadores dos "directos" televisivos: bater palmas.
Que Jardim chame publicamente Sócrates de "criminoso" não significa nada; amanhã, se as circunstâncias o recomendarem, abraçá-lo-á e elogiá-lo-á. E também isso não significará coisa alguma.
Os cidadãos (pelo menos os poucos que ainda votam) reconhecem aos políticos uma espécie de "capitis diminutio" moral que leva a que tolerem na corporação política o que considerariam moralmente inaceitável na sociedade civil. Essa é também uma forma de desprezo.

Liquidificadora Sócrates

Liquidificadora Sócrates

por Ana Sá Lopes


O mais incrível no congresso de Matosinhos foi a falta do perfume da decadência. A capitulação de Sócrates perante o FMI foi uma derrota pesada, retirou ao PS um filão eleitoral mas o assunto foi reciclado numa mensagem razoavelmente verosímil para sustentar uma narrativa eleitoral na conjuntura mais difícil para o PS desde o fenómeno Cavaco de 1991. O "ou eu ou o FMI" de há 15 dias foi triturado, mas a liquidificadora Sócrates misturou o novo discurso (uma espécie de "comigo o FMI será menos mau") com uma encenação prodigiosa, "os amigos", Ferro, etc. etc. e a total ausência de alternativas internas.
O silêncio de António José Seguro é inexplicável. Não é possível que o principal candidato à sucessão não tenha nada para dizer no congresso. Mais activos foram Ana Gomes, Carlos César, Francisco Assis e até Jaime Gama no seu discurso de alegada despedida. Mas como o jogo de xadrez ainda está longe do xeque ao rei - e porventura nem sequer próximo desse grande momentum do jogo que é o "comer a rainha" - os passos são medidos ao milímetro. Ninguém sabe o que vem a seguir: se o PS vai perder bem, perder mal ou até, miraculosamente, sobreviver. O PSD de Passos Coelho ainda não teve o seu "momentum" e é duvidoso que o anúncio do enigma político Fernando Nobre como cabeça de lista por Lisboa sirva para isso. 
Alegre perdeu "os cidadãos" quando se transformou no candidato oficial do PS. Alguém acredita que Nobre segure os seus "cidadãos" na pele de candidato número 1 do PSD oficial? Até porque a mudança de públicos foi excessivamente rápida e radical: há só dois meses, Nobre fez uma campanha tendencialmente à esquerda e anti-sistema... Falta ainda alguma coisa para o xeque ao rei.

10.4.11

Viva a democracia islandesa

REFERENDO

Islandeses dizem 'não' ao pagamento de dívida

por Lusa
Os islandeses votaram no sábado em referendo que o Estado não deve pagar a dívida de cerca de quatro mil milhões de euros à Holanda e ao Reino Unido, de acordo com os resultados prelimiares divulgados esta madrugada.

Segundo a rádio pública islandesa, 7.685 eleitores votaram "não" e 5.286 votaram "sim" ao pagamento de quase quatro mil milhões de euros a credores externos.
O dinheiro serviu para indemnizar milhares de depositantes lesados pela falência do banco islandês IceSave.
O referendo foi convocado pelo presidente da Islândia, Olafur Grimsson, que a 20 de Fevereiro deste ano vetou, pela segunda vez, a lei IceSave (que tinha sido aprovada pelo Parlamento islandês), e que estabelece o pagamento de 3,9 mil milhões de euros aos credores externos.
Esta foi a segunda vez que os islandeses decidiram se queriam ou não que dos seus bolsos saisse uma parte significativa do valor total das indemnizações que o governo da Islândia se comprometeu a pagar a Londres e a Haia.
O Icesave foi uma das instituições financeiras que faliram na sequência da crise financeira mundial que atingiu com especial dureza a Islândia, com cerca de 320 mil habitantes, provocando a queda da moeda e da economia do país.
Na primeira consulta popular de 2010, mais de 90 por cento dos islandeses rejeitou contrair uma dívida pública que se prolongaria por vários anos.