28.9.11




O crimede Rastani


O que o corretor da Bolsa de Londres Alessio Rastani disse na BBC e lhe granjeou notoriedade instantânea foi o que toda a gente sabia mas tinha medo de ouvir: os Estados pouco podem fazer quanto à presente crise porque "quem governa o Mundo é Goldman Sachs [banco que esteve, em 2007, na origem da crise financeira internacional] e o Goldman Sachs não está interessado no resgate do euro".
E mais: euro e bolsas vão afundar-se e milhões de pessoas perder as suas poupanças para os bolsos concretos dos abstractos "mercados" e a crise e miséria de muitos constitui uma grande oportunidade de enriquecimento de uns poucos, como os venturosos "25 mais ricos de Portugal", cujas fortunas cresceram, com os despedimentos mais a desgraça generalizada do país, para 17,4 mil milhões.
O crime assacado a Rastani foi o de défice de hipocrisia pois há coisas que os lobos pensam e fazem mas não dizem aos cordeiros. Falou como "porta-voz dos mercados" e não escondeu as intenções: "O nosso [especuladores financeiros] trabalho é ganhar dinheiro com [a crise]. Todas as noites sonho com mais uma recessão".
Talvez façam assim mais sentido justificações como "a troika exige" dadas pelos serventuários locais dos "mercados" para as políticas recessivas em curso e o "aviso" deixado pelo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro aos pagantes do costume de que a recessão será, em 2012, ainda mais profunda que o previsto.

27.9.11

Estradas falidas

As receitas da empresa Estradas de Portugal não chegam para cobrir os seus custos. Faltam por ano mais ou menos 500 milhões de euros. Nada de novo? Errado: tudo isto é novo. Porque o modelo de financiamento do sector tem parcos anos e foi jurado como um milagre financeiro que tudo resolveria. Não resolveu. Aliás: nem sequer solveu.
Por:Pedro S. Guerreiro, Director do Jornal de Negócios

A Estradas de Portugal tem como objectivo básico cuidar da conservação e manutenção de grande parte das estradas em Portugal, nomeadamente as chamadas estradas nacionais. Ora, a falta de sustentabilidade da empresa tem como consequência a dificuldade de manter os níveis de conservação e manutenção. É por isso também é que se vê notícias sobre pontes que estão em risco de ruir e estradas com mais problemas do estado do pavimento ou de sinalização.
De escândalo em escândalo, vamos conhecendo os terrores criados por um Estado que foi descuida-do e incompetente na gestão de dinheiros públi-cos. Agora, serão as estradas: um buraco nas con-tas é como um buraco numa estrada. Só tapando com dinheiro. Adivinhe de quem...

26.9.11

O dr Pinto acha que deu uma entrevista ao JN

O dr. Pinto não deu uma entrevista: há uma amiga do dr Pinto no JN que lhe fez o favor de lhe emprestar um quarto de página para o dr. Pinto ter a ilusão que está politicamente vivo.
E que é capaz de ter intervenção política.

O texto publicado é uma amalgama de vacuidades, de lugares comuns, de irrelevâncias sem sentido ou eficácia.
O dr. Pinto faz aquilo que toda a vida fez: fala bem, fala redondo, mas não diz nada.
Não tem um projecto, muito menos consistente.
Não tem uma ideia para o distrito ou para o norte; ameaça com um putativo «conselho de sábios», que não se sabe quem são, ou mesmo se existe.
Não diz, em concreto, nada de útil, porque nada de útil ou relevante tem para dizer.

Só quer fazer prova de vida.
E topa-se à légua: se se agitar, se ameaçar com um esboço de uma putativa candidatura, se provocar frenesim, os outros candidatos, que são feitos da mesma massa, vão ter de o levar em conta.

E lá lhe darão um lugar político relevante.
E lá lhe prometerão que o levam a deputado.
E o dr. Pinto lá deixará a Câmara ao herdeiro natural: o vice.
(eu sei de alguém que se sentirá mais uma vez comido, e que mais uma vez não vai ter coragem de enfrentar os factos da vida)
  
Vale a pena ler o texto do subdirector do JN, Paulo Ferreira:


O presidente da Câmara de Matosinhos apresentou anteontem, nas páginas do JN, ainda que com carácter oficioso, a candidatura à liderança do distrital do Porto do Partido Socialista (PS). Não é que não se conhecesse há muito a intenção de Guilherme Pinto, mas antes desta conversa com a jornalista Carla Soares nunca o autarca ousara dizer que, "se as eleições estivessem marcadas, estaria a dizer-lhe [à jornalista e, logo, ao Mundo] que era candidato".
Assumida a candidatura e postas de lado as questões de mercearia que a podem atrapalhar (José Luís Carneiro, presidente da Câmara de Baião e indefectível apoiante de António José Seguro também quer ser presidente da distrital do Porto, por um lado, e, por outro, os contornos, cada vez mais nítidos, de uma candidatura de Manuel Pizarro, ex-secretário de Estado da Saúde e proeminente figura na estrutura socialista, à Câmara do Porto nas próximas autárquicas podem incomodar, ou mesmo desfazer, os planos de Guilherme Pin to...), afastada esta mercearia, dizia, importa saber ao que vem o autarca de Matosinhos.
E por que razão importa? Importa, sobretudo, porque, nos últimos anos, o PS do Porto ora se tem consumido em guerrinhas internas (arte em que, de resto, é há muito especialista), ora tem esquecido o fundamental papel que deve ter no questionamento do que é hoje a cidade do Porto e a Região Norte.
Guilherme Pinto parece ciente disso - e por isso propõe a elaboração, com a ajuda de especialistas, de "um guia daquilo que será ou deve ser a actuação do distrito e do Norte nos próximos anos". Pomposamente, o autarca de Matosinhos quer chamar ao documento "Porto liderante". Erro: o documento devia chamar-se "Norte liderante".
Não é, contudo, este equívoco de linguagem (o diabo, como se sabe, está nos pormenores...) que mais espanta na conversa de Guilherme Pinto. O que mais espanta é o facto de o anunciado candidato à distrital socialista ser incapaz de assumir o óbvio: se quer um "Porto liderante", Guilherme tem que começar por nos explicar os motivos porque não temos, desde há muitos, um "Porto liderante", sendo que não vale resguardar-se na prestação do actual presidente da Câmara da cidade.
Quero dizer: Guilherme Pinto tem que assumir um corte (radical, diria mesmo) com o que, no passado recente, a distrital tem feito para que o Porto seja "liderante". O problema é que o autarca de Matosinhos não vê mal nenhum. Mais: por ele, apesar de as circunstâncias exigirem o contrário, o ex-presidente da distrital deveria ter continuado no posto (Renato Sampaio demitiu-se em Maio).
Conclusão: Guilherme tem palavras para dizer, espera que os estudiosos apontem o caminho a seguir, mas, por evidente precaução política (não pode ser outra coisa), não arrisca dizer o que pensa do passado. Sucede que o passado conta. Expiar os erros não é pecado, antes ajuda a avançar. E tudo o que um candidato a líder de uma estrutura tão importante com a distrital do Porto do PS não pode fazer é começar a (pré)campanha titubeante. É um erro sério, que não deixa antever um candidato... liderante.