29.1.12

Panóptico

Muda o governo, a censura repete-se

"Temos de controlar bem os gajos que escrevem", disse Armando Vara a Rui Pedro Soares num telefonema que consta no processo Face Oculta. Essa era uma das linhas de acção ilegítima ou eticamente reprovável do grupo de Sócrates no governo e na PT. Agora, o ministro Relvas está empenhado em sujar o actual governo fazendo o mesmo na RTP: foram afastados cinco comentadores da RDP por causa de uma crónica radiofónica de Pedro Rosa Mendes criticando o programa ‘Reencontro’ da "RTP Angola".
Por:Eduardo Cintra Torres
A atracção pelo controle dos media do Estado passa de governo em governo. Não há solução no parlamento para este atentado aos direitos e liberdades, porque o PS tolera o que o PSD faz, tal como o PSD tolera o que PS faz quando é governo. A ERC é o exemplo acabado do conluio dos dois partidos do "centrão". Os outros partidos toleram porque recebem migalhas de tempo na RTP.
Foi para aquele tipo de controle e censura que o ministro Relvas mandou criar o cargo de "director-geral de conteúdos" na RTP, uma criação à margem da lei que a sua ERC sancionou (sendo Arons de Carvalho, da ERC, autor de um manual sobre Direito da Comunicação Social, o caso é ainda mais de bradar aos céus). Há quatro anos, o ainda agora presidente da RTP, Guilherme Costa, quis criar o cargo para outra pessoa, e não o fez por não haver legislação. Agora, com Relvas, fez o que não chegou a fazer com Sócrates.
No operador público, mas também nalguns media privados que não querem problemas com o poder político, a maior ou menor ligação ao "bloco central" é um cancro sem remissão. Quem ocupa cargos de direcção jornalística, com os melhores salários, mantém os media dentro do modelo de jornalismo que o "bloco central" acha aceitável — e mantém os seus lugares. Além da RTP, vários privados movem--se num padrão e lógica de "bloco central" que condiciona a investigação jornalística e diminui a diversidade de opinião ("são sempre os mesmos", é o que toda a gente me diz).
O "director-geral" da RTP, Luís Marinho, disse ao ‘DN’ de sexta que é fã do "centrão" PS-PSD (conforme cada um está no poder, presume-se). Em 2007, sendo Director de Informação da RTP, declarava-se fã do "óptimo" primeiro-ministro Sócrates. Este figurão esteve envolvido no programa ‘Reencontro’ de Relvas & Fátima, um dos mais execráveis programas jornalísticos ao serviço do poder político dos últimos anos, e também apareceu agora no caso da censura às crónicas de Pedro Rosa Mendes na rádio "pública".
Eis os resultados da nomeação ilegal do "director-geral" da RTP por indicação de Relvas. Este sabe porque o escolheu. O ministro Relvas já fez mais mal à imagem do governo de Passos Coelho em seis meses do que todos os outros ministros juntos.