Creio ser uma evidência que a vitória eleitoral na Câmara de Matosinhos vai ter um de três nomes: ou Guilherme Pinto, ou Narciso Miranda ou Guilherme Aguiar.
Poderão ocorrer vitórias menores, ou de segunda linha, que serão significativas: um segundo vereador do PC e um, ou mesmo dois, do Bloco.
Seriam resultados que, a verificarem-se, teriam repercussão política importante, sobretudo no pântano que vão ser as alianças pós-eleitorais.
Não as considerarei aqui porque não interessam ao ponto onde quero chegar.
Parece-me óbvio que Matosinhos necessita de uma alteração dos métodos, das políticas, dos modos de estar e actuar.
E seria bom que estas eleições permitissem uma renovação de pessoas, de mentalidades, de posturas.
Precisava de ter um corpo de eleitos para governar os seus destinos e que fossem exemplo de lisura, de correcção, de verticalidade, de isenção...
Em suma, que fossem gente séria!
Infelizmente tal não vai acontecer.
Não acontece com nenhuma das candidaturas da área, por assim dizer, socialista: nem com a candidatura «independente» do comedor, nem com a candidatura «clandestina» de Guilherme Pinto.
Não são mais do que duas faces da mesma moeda: a continuação por vias paralelas e idênticas da mesma «tropa», da mesma maneira de estar e agir no poder autárquico.
Nada as distingue senão a disputa pessoal, a rivalidade edipiana, a procura das mesma benesses se calhar ilícitas.
Comungam das mesma culpas e misérias, do mesmo passado triste, pesam-lhe nas consciências - pesariam se as tivessem - os mesmos erros, os mesmos defeitos, os mesmos crimes.
Vão travar entre si uma luta fratricida em que se vão mutuamente acusar dos factos que em comum e de comum acordo praticaram.
E que silenciaram; só agora os vão atirar para a praça pública na justa medida em que pensem que com isso podem beneficiar no ganho de votos.
Mas a candidatura do PSD/CDS, encabeçada por Guilherme Aguiar, não é melhor e também não traz nada de novo.
Não percebo, aliás, como pôde a direita, num ano em que finalmente estava mais perto de ganhar as eleições, escolher este candidato e, pelo que se vai sabendo, esta lista.
É, parece-me, manifesto que é um candidato e uma lista impostos às estruturas locais do PSD.
Escrevo com o único conhecimento de causa que tenho, que é a leitura dos jornais e dos blogs; mas se for assim é fácil adivinhar pouco empenhamento na campanha e o esmorecimento de votantes habituais.
Por outro lado é um afloramento da mesma maneira de estar, da mesma forma de agir, do mesmo entendimento da política que têm as candidaturas originárias do PS.
É o mesmo negocismo, a mesma defesa de interesses pessoais, a mesma falta de lisura.
Tudo isto agravado com o facto - não despiciendo - de ser um homem dos futebois. Com a carga negativa e desprezível que tal pode conter.
Portanto, ganhe qual dos três ganhar, Matosinhos perde.
E perde sobretudo com a vitória de qualquer uma das listas que vêm da área do PS.
Acredito que uma delas será a vencedora; e inclino-me - mero palpite - a crer que seja a lista «clandestina».
O PS tem em Matosinhos pessoas que poderiam renovar a governação da Câmara; pessoas que fariam a diferença em relação aos últimos trinta anos.
Que poderiam mostrar uma outra forma de dirigir uma autarquia, com lisura, com dignidade, com seriedade.
Infelizmente a vitória quer de Narciso quer de Guilherme Pinto impedirão essa tão necessária renovação.
Seja qual deles que ganhe tudo vai ficar na mesma, no mesmo pântano.
O único facto localmente significtivo será que o perdedor sai pela direita baixa e desaparece da política local.
Quanto ao demais, os «irmãos desavindos» vão, mais cedo ou mais tarde no decurso dos próximos quatro anos, fazer as pazes, pacificar as relações, e voltar a unir-se.
O poder e as benesses que ele traz são mais importantes que divergências de ocasião.
E daqui a quatro anos voltam a concorrer, unidos e amigos, para se perpetuarem e reproduzirem.
Assim eliminando o risco de qualquer renovação na administração autárquica do PS, perpetuando-se no poder e prejudicando Matosinhos e os matosinhenses.
Este teria sido o momento de alterar as coisas.
Não tendo havido o golpe de asa para o fazer, não voltará tão cedo a haver outra oportunidade.
Os amáveis leitores que tiveram a paciência de ler até aqui perceberão o ponto a que queria chegar!