O Comentador-Comedor no MH
I
Afastamento de professor na DREN – “A directora é membro da Assembleia Municipal de Matosinhos. É um bom quadro e uma mulher determinada e nunca lhe passou pela cabeça que a sua decisão iria tomar dimensão nacional. É preciso quem exerce o poder libertar-se dos que esvoaçam à sua volta, dos chamados “bufos” ou lambe-botas. Quem fez isto está à espera duma recompensa, quis agradar ao chefe. É uma classe que cada vez existe mais. Todos os dias tropeçamos neles”
II
Eleições para a Câmara de Lisboa – “Está provado que a governadora civil não esteve bem quando marcou as datas das eleições. Os partidos não tiveram um comportamento democrático. O problema são as pessoas que estão nos partidos. FOI aberto espaço para outras candidaturas e graças a Deus há muitos candidatos que vão baralhar, embora António Costa vá ganhar, mas sem maioria absoluta”.
III
A COMISSÃO POLITICA concelhia do PS de Matosinhos reuniu-se, recentemente, para abordar a situação politica. As últimas reuniões não demoraram mais de 10/ 15 minutos cada. Naturalmente, o PS, com o acordo celebrado entre os presidentes da câmara e concelhia “reencontrou-se” ficou “coeso e unido”, acabaram as divergências e, de um dia para o outro, todos ficaram muito “solidários e amigos”. Com este “novo PS” não há razões para o debate, nem para o contraditório. O que se disse no passado e o que uns disseram dos outros deixou de ser verdade. Afinal “o foco de todos os males estava no ex- presidente”. Pelo menos é essa a mensagem que se vai construindo no dia-a-dia. Agora, “sem ele”, tudo é diferente e melhor, há total unidade, grande coesão e todos são muito “mesmo muito amigos”.O que lá vai lá vai. A política é assim mesmo: o que é hoje deixa de ser amanhã e que aconteceu ontem, hoje não é verdade.
Foi neste ambiente de “paz, unidade e coesão” que nesta última comissão politica concelhia do PS um dos seus membros, no uso da palavra, se dirigiu à plateia referindo-se a um seu camarada, também presente, afirmando “…anda para ai um rapaz, que não conheço e que parece que é presidente da junta da…”. Tudo isto aconteceu na presença dos dirigentes concelhios que, se não são, deviam ser os melhores políticos e quadros do PS, entre os quais os presidentes da concelhia e seu executivo e da câmara e ainda de todos, excepto um, dos vereadores da maioria do PS, que assistiram impávidos e serenos. O problema não está só na desconsideração pessoal e na afirmação politicamente ofensiva, está antes num estado de espírito reinante, num “partido unido”. O problema não está na atitude, nem no protagonista. A questão é bem profunda, resultando de uma prática seguida com uma cultura instalada que permite o insulto politico gratuito e a tentativa de condenação por delito de opinião com a conveniência de todos, ao assistirem a esta “brilhante” intervenção, autêntica pérola que desfaz de uma penada toda a mensagem e propaganda sobre a unidade e coesão. Antes demonstra uma ofensiva e uma cultura politica de combate aos que ousam manifestar livremente as suas legítimas opiniões. Há silêncios não só comprometedores, também cúmplices e, sobretudo, ensurdecedores.
Com este cenário politicamente surrealista não será difícil surgirem movimentos de cidadania ao arrepio das “amarras partidárias” e, neste sentido, vale a pena citar o meu amigo António Pina quando refere “…ficou famosa uma frase de Marcelo Caetano proferida em já período de acelerada degradação moral e politica do anterior regime: o poder não dialoga, o poder decide. Em épocas de crise a tentação autoritária é sempre maior. Ora o autoritarismo é uma doença social altamente contagiosa”. Para afirmar a seguir que “…sem outro mérito para ter chegado a um lugar de decisão…um protector facilmente num tiranete ansioso por mostrar serviço ao chefe. Convenhamos que só na Coreia do Norte é que perante o que se passa se considera absolutamente normal”