O mais incrível no congresso de Matosinhos foi a falta do perfume da decadência. A capitulação de Sócrates perante o FMI foi uma derrota pesada, retirou ao PS um filão eleitoral mas o assunto foi reciclado numa mensagem razoavelmente verosímil para sustentar uma narrativa eleitoral na conjuntura mais difícil para o PS desde o fenómeno Cavaco de 1991. O "ou eu ou o FMI" de há 15 dias foi triturado, mas a liquidificadora Sócrates misturou o novo discurso (uma espécie de "comigo o FMI será menos mau") com uma encenação prodigiosa, "os amigos", Ferro, etc. etc. e a total ausência de alternativas internas.
O silêncio de António José Seguro é inexplicável. Não é possível que o principal candidato à sucessão não tenha nada para dizer no congresso. Mais activos foram Ana Gomes, Carlos César, Francisco Assis e até Jaime Gama no seu discurso de alegada despedida. Mas como o jogo de xadrez ainda está longe do xeque ao rei - e porventura nem sequer próximo desse grande momentum do jogo que é o "comer a rainha" - os passos são medidos ao milímetro. Ninguém sabe o que vem a seguir: se o PS vai perder bem, perder mal ou até, miraculosamente, sobreviver. O PSD de Passos Coelho ainda não teve o seu "momentum" e é duvidoso que o anúncio do enigma político Fernando Nobre como cabeça de lista por Lisboa sirva para isso.
Alegre perdeu "os cidadãos" quando se transformou no candidato oficial do PS. Alguém acredita que Nobre segure os seus "cidadãos" na pele de candidato número 1 do PSD oficial? Até porque a mudança de públicos foi excessivamente rápida e radical: há só dois meses, Nobre fez uma campanha tendencialmente à esquerda e anti-sistema... Falta ainda alguma coisa para o xeque ao rei.
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