18.2.10

1748





Uma lenda celta

Uma lenda celta, compilada por Bioy Casares em "Contos breves e extraordinários", conta a história de dois reis inimigos que jogam xadrez enquanto os seus exércitos combatem, demorando-se, como Borges diz, "hasta el alba en su severo/ ámbito en que se odian dos colores".

"Chegam mensageiros com notícias da batalha; os reis não os ouvem e, inclinados sobre o tabuleiro de prata, movem as peças de ouro... Ao entardecer, um dos reis derruba o tabuleiro porque apanhou xeque-mate e, pouco depois, um cavaleiro ensanguentado vem anunciar-lhe: 'O teu exército está em fuga, perdeste o reino'". Manuel Alegre não será propriamente um rei, nem sequer ainda um presidente, mas o silêncio em que parece mergulhado enquanto, à sua volta, o país arde em torno do tema da liberdade, recorda a longínqua lenda. É natural que esteja preocupado com os "tenue(s) rey(s), sesgo(s) alfil(es), encarnizada(s) / reina(s), torre(s) directa(s) e peon(es) ladino(s)" que se alinham no tabuleiro da sua candidatura. Mas jogar o seu jogo alheando-se do país talvez seja prudência (ou, se calhar, imprudência) comprometedora de mais.

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