2.4.09

554

Eu assino por baixo:

(Dedicado ao Carlos Alberto e a todos os meus camaradas que acreditam, sinceramente, que há uma campanha negra em curso) 




Nunca se deve dar o poder a um tipo porreiro


No início, ninguém dá nada por eles. Mas, pouco a pouco, vão conseguindo afirmar o seu espaço. Não se lhes conhece nada de significativo, mas começa a dizer-se deles que são porreiros. Geralmente estes tipos porreiros interessam-se por assuntos também eles porreiros e que dão notícias porreiras. Note-se que, na política, os tipos porreiros muito frequentemente não têm qualquer opinião sobre as matérias em causa mas porreiramente percebem o que está a dar e por aí vão com vista à consolidação da sua imagem como os mais porreiros entre os porreiros. Ser considerado porreiro é uma espécie de plebiscito de popularidade. Por isso não há coisa mais perigosa que um tipo porreiro com poder. E Portugal tem o azar de ter neste momento como primeiro-ministro um tipo porreiro. Ou seja, alguém que não vê diferença institucional entre si mesmo e o cargo que ocupa. Alguém que não percebe que a defesa da sua honra não pode ser feita à custa do desprestígio das instituições do Estado e do próprio partido que lidera. O PS é neste momento um partido cujas melhores cabeças tentam explicar ao povo português por palavras politicamente correctas e polidas o que Avelino Ferreira Torres assume com boçalidade:· quem não é condenado está inocente e quem acusa conspira. Nesta forma de estar não há diferença entre responsabilidade política e responsabilidade criminal. Logo, se os processos forem arquivados o assunto é dado por encerrado. Isto é o porreirismo em todo o seu esplendor. 

Acontece, porém, que o porreirismo de Sócrates, pela natureza do cargo que ocupa, criou um problema moral ao país. Fomos porreiros e fizemos de conta que a sua licenciatura era tipo porreira, exames por fax, notas ao domingo. Enfim fudo "profes" porreiros. A seguir, fomos ainda mais porreiros e rimos por existir gente com tão mau gosto para querer umas casas daquelas como se o que estivesse em causa fosse o padrão dos azulejos e não o funcionamento daquele esquema de licenciamento.E depois fomos porreiríssirnos quando pensámos que só um gajo nada porreiro é que estranha as movimentações profissionais de todos aqueles gajos porreiros que trataram do licenciamento do aterro sanitário da Cova da Beira e do Freeport. E como ficámos com cara de genuínos porreiros quando percebemos que o procurador Lopes da Mota representava Portugal no Eurojust, uma agência europeia de cooperação judicial? É preciso um procurador ter uma sorte porreira para acabar em tal instância após ter sido investigado pela PGR por ter fornecido informações a Fátima Felgueiras. 

Pouco a pouco, o porreirismo tornou-se a nossa ideologia. Só quem não é porreiro é que não vê que os tempos agora são assim: o primeiro-ministro faz pantomina a vender computadores numa cimeira ibero-americana? Porreiro. Teve graça não teve?  Vendeu ou não vendeu? Mais graça do que isso e mais porreiro ainda foi o processo de escolha da empresa que faz o computador Magalhães. É tão porreiro que ninguém o percebeu mas a vantagem do porreirismo é que é um estado de espírito: és cá dos nossos, logo, és porreiro. 

E foi assim que, de porreirismo em porreirismo, caímos neste atoleiro cheio de gajos porreiros. O primeiro-ministro faz comunicações ao país para dizer que é vítima de uma campanha negra não se percebe se organizada pelo ministério público, pela polícia inglesa e pela comunicação social cujos directores e patrões não são porreiros. Os investigadores do ministério público dizem-se pressionados. O procurador-geral da República, as procuradoras Cândida Almeida e Maria José Morgado falam com displicência como se só por falta de discernimento alguém pudesse pensar que a investigação não está no melhor dos mundos ... 

Toda a gente é paga com o nosso dinheiro. Não lhes pedimos que façam muito. Nem sequer lhes pedimos que façam bem. Mas acho que temos o direito de lhes exigir que se portem com o mínimo de dignidade. Um titular de cargos políticos ou públicos pode ter cometido actos menos transparentes. Pode ser incompetente. Pode até ser ignorante e parcial. De tudo isto já tivemos. Aquilo para que não estávamos preparados era para esta espécie de falta de escala. Como se esta gente não conseguisse perceber que o país é muito mais importante que o seu egozinho. Infelizmente para nós, os gajos porreiros nunca despegam. 

Helena Matos, no Público de hoje 

4 comentários:

Carlos Alberto disse...

Vejo que o Leixão, como outros,já fizeram a investigação, a acusação, a produção de prova, o julgamento e a condenação.
Então para que serve existirem o MP a PJ e dos Tribunais?
«O "espírito" da Inquisição, que ainda perdura por ai, deu-nos acusadores, denunciantes, e gente reles que rejubila com o rumor, a suspeita permanente.
Provas? Não são necessárias.
Presunção de inocência? Para quê?
Somos uns gajos tão porreiros que até fingimos que isto não está escrito:
"(...)quando foi encostado à parede pelos investigadores, Smith confirmou a autenticidade da gravação, mas disse que tinha inventado a história dos pagamentos ilícitos para justificar o desaparecimento do dinheiro."
Pois, não te o selo de garantia do CM, ou do programa de variedades da Dª Manuela, não é válido.
Caro Leixão, rasgue a Constituição da Republica Portuguesesa, e todos os Códigos Legais, Fechem-se o Tribunais e despeçam-se os Juízes.E já agora, como você trabalha no ramo aproveite e mude de vida. Porque daqui em diante, como gajos porreiros que somos, bastará que a justiça se faça nas primeiras páginas dos jornais e nos espectáculos de variedades das 6ª feiras, em horário nobre. A pipa de massa que o Estado não iria poupar...

Um homem do Norte disse...

è tudo porreirismo...mas nós é que sofremos..POVO..e ainda por cima aquele Cherne..Porreiro Pá!

Isto já não vai lá sem uma marcha do POVO...ou pelo Voto..

Nota: O 1º de Maio vai ser lindo..vai vai..

Força Leixão..

leixão disse...

Caro Carlos Alberto.
Não fiz nem faço investigação criminal, nem disso trato.
Nem me reporto às «fugas» para a comunicação social que têm várias origens e se destinam a fins diversos e opostos.
O juízo que faço, e que em minha opinião deve ser feito pelos cidadãos deste país, é sobre os actos e decisões públicas, o da sua razão de ser e razoabilidade.
E muitos deles publicados até no Diário da República.
Se tais factos estão também a ser investigados em inquéritos criminais, isso não pode nem deve impedir de os apreciar e sobre eles formar opinião.
Há de convir que tudo quanto respeita à substância das decisões que levaram ao licenciamento e construção do Freeport (decisões que são públicas e políticas), ao momento em que foram tomadas e as condições em que o foram são susceptíveis de debate público.
E não é sério pretender ocultar esse debate a propósito de que se cruza com processos judiciais.
Finalmente quero deixar bem claro que - e este caso demonstra-o - não tenho nem por sérias, nem por boas, nem por isentas as sucessivas afirmações que tem vindo do Ministério Público.
Nestas incluindo a que se referem à participação do Sócrates em tudo isto.
E que, em minha opinião, dada a forma como actua, é o maior «cancro» da nossa justiça e, mesmo, um risco para a democracia.

Anónimo disse...

Muito bem Leixão..Carlos Alberto é Master Voice..