2.4.09

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Lá se vai mais um sonho


Perdemos os sonhos ou são os sonhos que nos perdem? O meu sonho de menino sempre foi ser presidente de uma empresa intermunicipal de tratamento de resíduos; e quando, em vez de estudar, me punha a ler o "Cavaleiro Andante", minha mãe dizia-me: "Estuda se queres vir a ser presidente de uma empresa intermunicipal de tratamento de resíduos", sabendo que só isso era capaz de me arrancar da companhia de Tartarin de Tarascon e de Tintin.

Chegado a esse lugar de exílio que é a idade adulta (o que sucedeu mais ao menos na altura em que Tintin deixou de usar calças de golfe), procurei em vão informar-me acerca de como seria possível realizar tão desmesurado sonho. Só agora, já velho, o descobri. Para se ser presidente de uma empresa intermunicipal de tratamento de resíduos é recomendável, pelo menos em Braga, ter sido condenado por tentativa de corrupção de um vereador, o que (uma condenação por corrupção) é, como se sabe, uma inalcançável miragem em Portugal. Sem meios para tentar corromper vereadores, terei que me ficar pelo jornalismo, que também é uma actividade do sector do tratamento do lixo.




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