No dia 29 de manhã foi desencadeado o ataque geral. A divisão Merle, na minha direita, recebeu ordem para avançar com o ataque da véspera e, caso encontrasse demasiada resistência, aguardar que o centro do inimigo fosse penetrado para ir mais além.
A divisão Mermet, seguida da cavalaria de Lahoussaye e de Caulaincourt, foi encarregue do ataque do centro, tendo como objectivo final a cidade do Porto.
Confiei aos generais Delaborde e Franceschi o ataque da esquerda. Deviam forçar a direita do inimigo, conquistar todas as barreiras e fortificações que encontrassem e entrar no Porto pelo norte. As minhas colunas da direita e da esquerda tinham com elas artilharia, mas não a puderam utilizar. Afectei duas baterias de artilharia ligeira à do centro. Os resultados foram excelentes. Tinha determinado como grito de guerra "Napoleão e Glória". Todos o repetiram em uníssono: não havia um único soldado que não estivesse determinado a vencer. Como tal, a vitória não foi posta em causa nem por um instante. Às dez horas as divisões Mede e Delaborde entraram em acção; uma meia hora depois tive de atrasar o movimento da primeira e forçar o do general Delaborde. Entretanto retinha o general Mermet. O inimigo, vendo que apenas as duas alas eram atacadas, resolveu desguarnecer o centro e retirou parte das tropas que aí tinha para as colocar na sua esquerda. Na mesma altura, ordenava ao general Mermet que atacasse e os dois redutos principais que constituíam a chave da posição do inimigo foram conquistados. A nossa artilharia ligeira tinha tido apenas tempo de disparar algumas rajadas, quando já quatro companhias de infantaria entravam pelas seteiras e ocupavam as obras de defesa onde centenas de portugueses eram mortos e vinte canhões apreendidos. Organizei a posição connquistada. Por minha ordem, o general Rouyer, com dois batalhões, ao dirigir-se para a direita, obrigou o inimigo a evacuar os redutos que ainda ocupava em frente do general Mede, enquanto o 47.° de infantaria era lançado sobre o Porto.
Por seu lado, o general Delaborde atingia o extremo norte da cidade com o 17.° de infantaria ligeira, após ter tomado vários redutos e se ter apoderado de cinquenta peças de canhão. O 86.° e um batalhão do 70.°, apoiados pela cavalaria de Francesschi, combatiam ainda no nosso flanco esquerdo e atrasavam um pouco a entrada na cidade. Entretanto, o general Mede, apoiando o ataque do centro, precipitava o seu avanço e contornava a esquerda inimiga. O capitão Chevillé, à cabeça de uma centena de infantes, chegava em primeiro lugar aos redutos, entrava pelas seteiras e assumia o seu comando. Os ocupantes, soldados ou camponeses armados, intiimidados por esta audácia, tentavam fugir, mas nem um escapou. Imediatamente à nossa direita debandaram todos, e os fugitivos afogaram-se no mar ou no rio. O general Mede tinha-se apoderado de mais de sessenta canhões; os obstáculos que o inimigo tinha multiplicado neste local eram de tal forma avultados que ficámos ainda mais espantados no dia seguinte, por os termos transposto, do que tínhamos ficado no próprio dia em que os ultrapassámos.
O 47.° e o 17.° de infantaria ligeira tinham-se juntado no Porto e tinham encontrado todas as avenidas cortadas, barricadas e guarnecidas de artilharia. Das janelas, disparavam sobre os nossos soldados; mas foi tudo tomado. O major Dauture chegou à ponte do Douro quando os portugueses tentavam cortá-la, protegidos pela sua poderosa artilharia colocada na margem esquerda no convento da Serra.
Não havia um minuto a perder ou a ponte estava perdida. Quando o general Donnadieu e o major Dauture lá chegaram, encontraram-na obstruída com mais de dois mil indivíduos de todas as idades e sexos. No pânico, tinham feito cair um dos pontões e tinham sido engolidos com ele. A cavalaria do bispo, em fuga nesse mesmo instante, passava por cima dos corpos deste infelizes, calcando-os sem piedade sob os pés dos cavalos. Foi assim que conseguiu escapar, alguns momentos antes da entrada dos franceses.
Os nossos soldados, mais generosos, apressaram-se em socorrer alguns dos afogados que ainda davam sinais de vida; outros, para evitar passar por cima deles, colocaram pranchas nos dois lados e atiraram-se para o outro lado da ponte, apesar das tremendas descargas de canhão do inimigo.
A tomada da ponte era muito importante; foram enviados reforços ao coronnel do 47.° que as dispôs habilmente de forma a conquistar o arrabalde de Vila Nova de Gaia bem como a margem esquerda do Douro.
À nossa direita, o general português Lima tinha cometido a imprudência de fazer ver às suas unidades o perigo da respectiva situação. A sua voz foi imediatamente abafada por clamores, celerados precipitaram-se sobre ele e trespassaram-no. Um batalhão francês, que se dirigia para este local, chegou tarde demais para o salvar. Este mesmo batalhão tomou então de assalto dois fortes e encontrou em cada um quinze bocas-de-fogo e munições. O general Lorge, mantido em reserva à direita de Infesta com a brigada de dragões e um batalhão do 31.°, desincumbiu-se muitíssimo bem das missões de limpeza e de perseguição que tinha recebido.
Éramos senhores do Porto e a ponte estava passada. Duzentos soldados do bispo, refugiados no paço episcopal, faziam ainda fogo contínuo sobre tudo o que aparecia. Soldados franceses dispersos, de todos os regimentos, reuniram-se e, de sua própria iniciativa, lançaram-se sobre este foco de resistência, forçaram a entrada e passaram a fio de espada os que tiveram a temeridade de os esperarem; os outros foram apanhados nas ruas.
Assim terminou esta batalha, que ficará, infelizmente, demasiado célebre. O Imperador não a tinha previsto e eu fui obrigado a travá-la. As perdas do inimigo eram imensas, e superiores a 8000 homens. No Douro (seja na foz seja na ponte) pereceram mais de 2000. Muitos feridos tinham-se refugiado nos bosques e em casas abandonadas. Não puderam ser socorridos a tempo. O número de prisioneiros elevava-se a 250, entre os quais 25 ingleses dos quais 3 eram oficiais, vindos recentemente de Lisboa.
Memórias do Marechal Soult
Livros Horizonte, 2009
1 comentário:
O marechal foi um grande homem tavamos melhor entregues aos franceses que aos bifes
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