Ministério da Justiça trava contrato assinado no último dia do anterior Governo
Por Mariana Oliveira, Susana Azevedo
O Ministério da Justiça, liderado por Paula Teixeira da Cruz, anunciou ontem que está a reavaliar a transferência de instalações do Tribunal da Maia para a zona industrial do concelho e admite que quer suspender o novo contrato de arrendamento, assinado por Luís Meneses, presidente do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-estruturas da Justiça (IGFIJ), no último dia de funções do anterior Governo.A nova titular da pasta informou igualmente que irá fazer um levantamento "de todos os contratos de adjudicação de obras, serviços, equipamentos e arrendamentos, relativos ao ministério" que agora tutela.
"Todo o processo relativo ao contrato de arrendamento outorgado a 20 de Junho do corrente ano, para a instalação do tribunal e outros serviços de justiça da Maia, está a ser reavaliado, com vista à sua suspensão, estando ainda em curso o apuramento de eventuais responsabilidades", lê-se na nota.
De manhã, o presidente da Câmara da Maia, o social-democrata Bragança Fernandes, contestou numa conferência de imprensa a transferência do tribunal para a zona industrial e exigiu a abertura de um inquérito "no sentido de se apurarem responsabilidades" e "os verdadeiros interesses" que ditaram a decisão. À tarde, o assunto foi abordado na primeira reunião entre a ministra da Justiça e o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto. À saída, o bastonário apelou a Paula Teixeira da Cruz para que "impeça a consumação do negócio" relacionado com a "vergonhosa" transferência do Tribunal da Maia e pediu que o caso seja averiguado.
O imóvel para onde está previsto que o tribunal se transfira está licenciado como prédio de escritórios. "Muito dificilmente a câmara aceitará que o edifício seja para o tribunal", avisou Bragança Fernandes, admitindo que os serviços camarários se recusem a licenciar a utilização do edifício para este fim. A distância de cerca de cinco quilómetros do centro da cidade, a par da falta de estacionamento e de transportes públicos na zona, foram os motivos apontados pelo autarca, que sempre se opôs a esta solução.
Também presente na conferência de imprensa de ontem, o presidente do Conselho Regional do Porto da Ordem dos Advogados, Guilherme Figueiredo, salientou outra questão: "A simbologia do Palácio da Justiça não pode, de maneira nenhuma, estar conformada com uma zona industrial".
A 20 de Junho, foi celebrado o contrato de arrendamento de parte de um prédio urbano entre a Nova Casa - Imobiliária e Construções, SA - um fundo imobiliário - e o IGFIJ, do Ministério da Justiça, representado pelo seu presidente, Luís Meneses. Válido desde a passada quinta-feira e até 29 de Junho de 2026, o contrato estabelece uma renda mensal que varia entre os 69 mil euros, nos primeiros três meses, e os 76.300 euros. Este valor, frisou Bragança Fernandes, é "quase o dobro" do que o tribunal paga actualmente. As partes assumem ainda o compromisso de, durante o período de vigência inicial - 15 anos -, "não fazer cessar o presente contrato".
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