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O “socialismo democrático” e a transformação do PS num partido de classe

13 de Dezembro de 2009 por Tiago Mota Saraiva
Esmiucemos um pouco o discurso de Armando Vara na sua entrevista a Judite de Sousa à luz daquilo que o partido socialista tem vindo a denominar como o socialismo democrático, e retirando desta análise o Caso Face Oculta.
Ao contrário de outros partidos inscritos na Internacional Socialista, o PS português não abdicou de reivindicar para a sua orientação política o socialismo, na sua vertente muito repetida recentemente, de socialismo democrático. Contudo, embora a sua acção prática seja visível, sabe-se pouco de onde vem e para onde vai este socialismo.
Não me parece que, actualmente, algum dirigente do PS reconheça no socialismo científico a base do “socialismo democrático” (se assim fosse havia que perguntar “como?” e “em trânsito para o quê?”) e também não encontro a vontade de pensar no amanhã igualitário de Saint-Simon ou More.
Do “socialismo democrático” sabe-se que defende a economia de mercado e o papel central do estado como dinamizador da iniciativa privada. O “socialismo democrático” diverge de Marx, entre muitas outras coisas, ao não interpretar o socialismo como um processo transitório para uma sociedade mais justa e igualitária, discorda da necessidade de colectivização dos bens de produção e defende que os principais meios financeiros deverão ser privados, embora regulados pelo Estado.
Mas é chegados à “luta de classes” que o “socialismo democrático” começa a revelar uma das suas principais características. O “socialismo democrático”, não abdica da luta de classes, mas sim da emancipação colectiva. Atente-se à lógica política dos principais exemplos de sucesso do “socialismo democrático” seja do deputado da província (a expressão é do próprio) Ricardo Gonçalves aqui relatado, de todo o discurso de classe de Armando Vara aquando da entrevista a Judite de Sousa e, porque não lembrá-lo, da forma como José Sócrates se orgulhou publicamente dos projectos que fazia.

O “socialismo democrático” alicerça-se num partido de classe, mas não da classe operária, como de uma forma subreptícia Vara pretende fazer crer quando diz que subiu na vida à custa do seu trabalho. Gonçalves, Vara ou Sócrates não subiram na vida à custa do seu trabalho, da sua qualidade ou das suas capacidades técnico-científicas, mas sim à custa dos seus silêncios, posicionamentos e amizades. O “socialismo democrático” não pretende a emancipação colectiva ou que o sistema de classes seja posto em causa, mas pretende, criar condições para que grupos específicos, e sem aspirações revolucionárias, possam assumir o poder sem colocar em causa a estruturação social. Só assim se pode compreender o ódio de classe para com o aristocrata Alegre ou Nogueira Pinto e a subjugação perante os grandes grupos económicos e interesses que dominam o país há quase um século.
O “socialismo democrático” nos termos e moldes em que tem vindo a ser praticado é, portanto, uma faceta subreptícia da exploração e do capitalismo, na qual se pretende transmitir a ideia errada que, à custa do seu trabalho, o indivíduo explorado (e não o colectivo dos explorados) se pode emancipar e, como a nossa realidade política bem o demonstra, esses indivíduos, são escolhidos a dedo.

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