13.12.09

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É o PSD desnecessário?

Por Vasco Pulido Valente
O PSD descobriu agora que para evitar um "suicídio" lento precisa de uma nova "identidade ideológica". Quase por milagre, as brilhantes cabecinhas que o têm dirigido perceberam - se calhar com esforço - que a sociedade portuguesa mudou um pouco desde 1980. O país já não é um país rural e a Igreja Católica Apostólica Romana já não anda em guerra aberta com o "marxismo" (ou seja, com o PC e o PS) e perdeu para sempre a sua antiga influência. Pior ainda: a parte do partido que perseguiu Sá Carneiro por causa de Snu Abecassis deixou de existir, como deixou de existir o pessoal técnico e político herdado de Marcelo Caetano. A "mudança na continuidade", que o PSD de certa maneira foi durante vinte anos e lhe garantiu uma breve hegemonia do regime, está morta e enterrada.
A ironia é que o PSD não se entende com o Portugal moderno ou "modernizado" que ele próprio, no "cavaquismo", criou. Um Portugal urbano (mesmo na província); um Portugal permissivo, indiferente à moral cristã; um Portugal a que o Estado-Providência vai garantindo uma vida obviamente mísera mas não desesperada; e, sobretudo, um Portugal dividido entre uma classe média com uma cultura de massa e sem definição exacta e uma subclasse amorfa, que não é reconhecível ou tratável pelas velhas categorias da teoria clássica (o campesinato, o proletariado e por aí fora). Nesta sopa turva o PSD não sabe o que fazer. E não será com certeza uma congregação de sábios, como alguma gente propõe, que o pode orientar. Tanto mais que uma "identidade ideológica" (signifique isso o que significar) só se encontra na acção.

Ora a acção do PSD é desastrosa. Não vale a pena falar da interminável querela interna que dia a dia o desacredita - um partido que publicamente confessa a sua falta de unidade (Marcelo) ou a sua completa irrelevância (Balsemão) talvez ganhe o Céu, mas não ganha votos. Nem ganha votos de certeza a campanha parlamentar contra a alegada corrupção do Governo e do primeiro-ministro. Ou a proposta de política económica para atenuar a crise, que na aparência favorece os "ricos" (subsidiando as PME) e reserva a caridade para os pobres (prometendo, aliás nebulosamente, ajuda às famílias). O PSD, de resto, tende às vezes para o populismo ou o liberalismo, como qualquer direita numa social-democracia e, quando se toma por social-democrata, conforme o seu nome, não é tão convincente como o PS. Nesta barafunda, começa a emergir a suspeita de que o país se prepara para o dispensar como um anacronismo sem utilidade.

no PÚBLICO

1 comentário:

A Chalandra disse...

O problema do PSD é que as elites são neo-liberais e as bases sociasi-democratas ou sensíveis a apelos pouplistas conjunturais. O outro problema é que se fosse posto emprática o programa congeminado pelas elites, a sua base social de apoio seria a primeira a ser atingida negativamente.