14.7.09

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O erro de governar ao centro

Duas razões se perspectivam para o risco de o PS perder as próximas eleições legislativas. A primeira refere-se à dificuldade das principais figuras do PS, a três meses das eleições legislativas, convencerem a esquerda do campo socialista de que não governaram à direita na área dos direitos sociais, incluindo o trabalho, a educação e a saúde. Para uma abstenção próxima das anteriores eleições europeias, o PS desceu de 46% em 2004 para 26% em 2009, uma derrocada de 20%, inimaginável até para os que traçavam os piores cenários. O voto útil minimizará esta derrocada, mas as subidas simultâneas do BE, PCP e dos votos em branco (4%) sugerem que só muito dificilmente grande parte desse eleitorado seja recuperável nas próximas eleições legislativas.

A segunda razão prende-se com a crescente irrelevância eleitoral do PS no campo do centro-direita. Para os interesses do centro-direita é irrelevante quem governa, desde que assegurada a agenda de desregulamentação dos mercados e o controle do Estado por interesses privados. O resultado do PSD nas europeias e a continuação das bem sucedidas campanhas de descredibilização de figuras do governo fazem adivinhar que, no campo do centro-direita, se manterá o deslocamento de votos do PS para o PSD. Por sua vez, a crise de confiança nas instituições e a crise económica inaugurou um ciclo político, na qual a fórmula socialista de governar ao centro perdeu eficácia. O PS encontra-se entalado entre o protesto da esquerda e o aproveitamento oportunista da direita. Um novo projecto de poder de centro-esquerda implicará a reconciliação do PS com os valores do socialismo democrático. Daí que não se perceba a relutância dos líderes do PS em aceitarem propostas programáticas substantivas defendidas pela Corrente de Opinião Socialista. Como sugere Manuel Alegre no editorial do presente número da ops!:, se o PS pretende ganhar as eleições são precisas novas ideias, pessoas e figuras no Partido Socialista.

A fragilidade técnica do discurso político
Este número da ops! – Revista de Opinião Socialista – é apresentado precisamente um ano depois do lançamento da revista. Vários especialistas, independentes e militantes do Partido Socialista colaboraram com a revista, incluindo reputados académicos desconhecidos do grande público, personalidades institucionais e militantes de base do PS. Uma das grandes dificuldades da comunidade académica especializada prende-se com a dificuldade em escrever e difundir as suas ideias numa linguagem acessível e não excessivamente formalizada. A classe política portuguesa enfrenta um problema diferente, relacionado com a não pouco frequente fragilidade da base científica e/ou técnica da sua actividade política. Fragilidade que mina a confiança dos portugueses nas instituições, nos seus governantes, nos seus parlamentares. Portugal lucraria com uma classe política menos endógena e fechada sobre si própria. Esta revista demonstra que é possível estabelecer sinergias, juntar diferentes linguagens e perspectivas capazes no seu todo de formular análises e projectos coerentes, tecnicamente bem sustentados e plurais nas suas ideias. Em boa verdade, basta apenas vontade.

Nuno David na OPS!

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