…é a sua proximidade com o mundo económico e financeiro. Ideológica e politicamente nenhum governo desde o 25 de Abril teve tão grande proximidade com estes meios. Mas, sublinho, proximidade e promiscuidade não são a mesma coisa, embora andem próximas.
Voltando à proximidade e à promiscuidade. Os governos socialistas de Guterres e Sócrates mostraram essa promiscuidade, mas não tinham a proximidade. Os nossos meios empresariais gostam, e precisam, de andar perto do governo, e os socialistas foram sempre os seus preferidos em tempos de vacas gordas. Mas era uma relação entre diferentes, que se entendiam por mútuo interesse, não frequentavam os mesmos meios, não falavam a mesma língua. Mesmo nesta promiscuidade, a racionalidade política do interesse próprio não implicava a incorporação ideológica de qualquer racionalidade outra, económica ou empresarial. Os nossos grandes empresários e banqueiros, com as conhecidas excepções, andavam pelos gabinetes ministeriais, ou melhor ainda, comunicavam de “homem de mão” com “homem de mão”, normalmente através dos poderosos assessores do governo Sócrates. Elogiaram e apoiaram Sócrates quando lhes convinha, e durante longo tempo foi assim, mas mantinham-no longe das famílias, dos seus meios sociais, da “sociedade”, que apenas os aceitava quando tinham a etiqueta de parvenu escrita na testa e não havia confusão entre o upstairs e odownstairs.
Agora é diferente, chegou ao poder um outro tipo de pessoas, que não fazem parte da elite económica, mas foram por ela empregada e patrocinada. Não são donos, mas gestores secundários de alguns interesses dos donos. Sabem como funciona umoffshore e como ganhar dinheiro nos “negócios”, como despedir, como contratar, e são tratados, pela mesma elite de antigamente, com a distância social que as grandes famílias dos grupos económicos cultivaram sempre com os de fora.
Só que eles olham para o mundo da economia, das empresas e da gestão, como sendo o mundo “real”, os seus heróis são as pessoas de sucesso nesse mundo, a ideologia que cultivam é uma teorização das ideias sobre o estado e a sociedade que consideram que, se o interesse empresarial for garantido, o interesse público também o é. Por isso, enquanto os socialistas faziam um trade off com o poder económico, o actual poder interiorizou as regras, necessidades e impulsos desse poder. Daí a proximidade. O acordo da troika dá uma forte legitimidade e uma cobertura política a estes procedimentos, mas para o governo mostrar que a proximidade que tem ao mundo dos negócios é só isto, cada passo que envolva esse mundo tem que ser explicado em detalhe e sem ocultação.
É isso que exige que operações como a da mudança de gestão da CGD, da venda do BPN e o processo futuro das privatizações tem que ser explicado tintim por tintim, têm que ser explicados para patetas, para dummies, para que não haja nenhuma dúvida sobre a defesa nestes casos do interesse público.
Pacheco Pereira no ABRUPTO
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