10.8.11


Mais um aumento de impostos

por Ana Sá Lopes,

Pôr toda a gente, incluindo desempregados, a financiar a diminuição da TSU é como dizer ''os pobres que paguem a crise, que os ricos não aguentam''



Passos Coelho jurou que não o faria - que não haveria de subir o IVA intermédio para compensar a redução da taxa social única. Mas o estudo ontem divulgado pelo governo aponta para essa quebra de mais uma promessa do primeiro-ministro - talvez tivesse sido melhor se levássemos antes à letra tudo o que disse Eduardo Catroga, o autor do programa do governo. Esse, pelo menos, já tinha garantido há muito tempo que não haveria hipótese de compensar a descida da TSU sem aumentar os impostos, a taxa intermédia do IVA. E há um mês o próprio Passos já estava a claudicar: o governo não tinha a intenção de aumentar o IVA, mas estava obrigado a cumprir o memorando da troika. Parece que é assim que vai acontecer.

A taxa social única serve para pagar a segurança social. A segurança social serve para várias coisas, desde financiar reformas douradas (muitas delas inconcebíveis), mas também para pagar subsídios de desemprego - que, com o programa de austeridade em curso, tudo indica que venham a ter cada vez mais utilidade. Pôr toda a gente, incluindo desempregados, a financiar a diminuição da taxa social única - logo, da contribuição que os empregadores tinham que dar para a segurança social -, não deixa de ser uma ideia à medida do pensamento dominante: os pobres que paguem a crise, que os ricos já não aguentam mais.

Os portugueses são absolutamente plácidos: basta dizer que aguentaram uma ditadura durante 48 anos e a resistência era diminuta. Vivia-se, como dizia Salazar, habitualmente. As pessoas, mesmo as da oposição ao regime, tinham vidas absolutamente normais e conspiravam nos cafés. Alguns, muitos, foram presos. Mas estamos sempre a falar de uma minoria.

Seremos o melhor dos povos para resistir ao que vem aí. É difícil imaginar a curto prazo as multidões da Grécia nas praças de Lisboa. Mas o que se está a passar em Londres por estes dias - e os ingleses são razoavelmente pacíficos fora dos estádios de futebol - mostra que há um monstro à solta na Europa. Um monstro difuso que mistura miséria, racismo, descontrolo, evidentemente crime, nacionalismo e outra vez miséria e cortes nos serviços públicos. Não sabemos onde isto vai parar. Sabemos que só agora começou.

Passos Coelho pode falar de sacrifícios e mais sacrifícios antes de ir de férias, que dificilmente haverá reacções. Está-nos no sangue: aguentamos tudo, ou quase. Portugal será o último sítio onde a revolta chegará. Mas, assim de repente, ninguém imaginaria que chegaria a Notting Hill, um bairro de classe média que ficou famoso pelos amores entre Hugh Grant e Julia Roberts. Espere-se o pior.

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