13.8.11


Como o governo Sócrates gastou em viagens, carros e telemóveis

por Ana Sá Lopes,
Álvaro Santos Pereira ficou estupefacto com as contas de telemóveis, viagens e carros. As contas continuam a chegar



O gabinete do antigo secretário de Estado do Comércio e da Defesa do Consumidor, Fernando Serrasqueiro, gastou numa viagem de uma semana a Lima e à cidade do México, em Março passado, 35 459,76 euros. O valor, discriminado numa factura enviada pela Abreu ao Ministério da Economia, revela que as passagens de avião custaram 20 669,76 euros, o alojamento 12 060 euros e 2730 euros foram gastos em serviços de aluguer de carros e motoristas.

A comitiva do ministério era composta apenas por três pessoas - o secretário de Estado e dois elementos do seu gabinete - mas as despesas pagas aos 20 empresários que foram "estabelecer contactos" para avaliar as possibilidades de exportações (um procedimento habitual em algumas deslocações oficiais) fez com que acabassem por sair 35 mil euros dos cofres públicos. A viagem tinha o objectivo "de apostar nas vendas e no investimento português numa região geográfica cuja economia continua a crescer a um ritmo mais elevado do que os mercados tradicionais portugueses, sobretudo aqueles da União Europeia". Fernando Serrasqueiro, o então secretário de Estado, que liderou a comitiva, apostava no Peru e no México por serem "países com uma dinâmica de crescimento que, para os valores europeus, são muito significativos em termos de crescimento do produto interno bruto (PIB), na ordem dos quatro e dos sete por cento, e são, por isso, de ter atenção", segundo declarações à Lusa, na véspera da viagem. 

Depois de o ministro da Economia ter denunciado o "ambiente de ostentação que era uma ofensa para os portugueses" e com que se deparou quando chegou ao ministério, o i questionou os serviços para identificarem os gastos que traduziam, segundo o ministro, a tal "ostentação". 

Os contratos de leasing, na altura referidos en passant por Álvaro Santos Pereira, que transitaram dos anteriores ministérios das Obras Públicas e Economia ascendem a 20 mil euros por mês, uma despesa de 241 mil euros por ano.

Curiosamente, o carro que mais encargos representa ainda não está no Ministério da Economia. Foi encomendado já em fim de ciclo, em Março, quando o governo já estava por um fio (caiu a 23 de Março, depois do chumbo do terceiro Plano de Estabilidade e Crescimento) pelo gabinete do então secretário de Estado da Energia e Inovação. Trata-se de um AOV (Aluguer Operacional de Viaturas) com contrato blindado que o ministério de Álvaro Santos Pereira não teve capacidade de romper: o custo do automóvel comprado em fim de festa vai custar ao Estado 95 mil euros nos próximos três anos. 

O Ministério da Economia e do Emprego herdou também dos antecessores duas facturas no valor de 36 541,93 euros cada (ao todo, 73 083,72 euros), para pagamento de dois automóveis eléctricos Nissan Leaf, que têm de ser pagos até final de Setembro.

Ao Ministério da Economia continuam a chegar outra facturas de viagens, reparações de automóveis e contas de telemóvel. Agora o ministro decidiu estabelecer plafonds nos telemóveis, para evitar que se repita uma factura igual à que chegou da TMN, respeitante a Fevereiro, enviada ao gabinete de um ex-secretário de Estado no valor de 6737,77 euros. Outra, enviada pela Vodafone para o gabinete do ministro - também datada de Fevereiro -, exige um pagamento ao erário público no valor de 4637,96 euros. 

Além destas "ostentações" havia outras: o motorista do ex-secretário de Estado Paulo Campos ganhava em média 4157,26 euros por mês. Destes, 3673,86 euros diziam respeito ao pagamento de horas extraordinárias. A esta remuneração acresciam ainda 483,40 euros mensais a título de subsídio de risco e de lavagem de viaturas.

Agora Álvaro Santos Pereira está empenhado em reduzir a despesa dos serviços que tem sob a sua tutela. MO facto de ter a chefe de gabinete mais bem paga do governo, cujo serviço de origem era a PT, acabou por se tornar uma arma de arremesso para a oposição.

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