16.8.10

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PS
Sócrates vai a Matosinhos por ‘provocação’
A rentrée do PS está a ser marcada por guerras internas. Narciso Miranda acusa o líder de dar prioridade a questões ‘mesquinhas’ e de ‘mercearia’

O PS já conseguiu o feito de transformar a sua rentrée numa feia discussão doméstica. A pesar de Sócrates ir discursar a Mangualde no próximo fim-de-semana, o arranque do seu ano político é só daqui a três semanas em Matosinhos. Mas a escola desta cidade, um lugar maldito em 2004, e a expulsão de vários militantes locais, entre os quais Narciso Miranda, está a abrir feridas no PS.
O ex-autarca de Matosinhos considera que a escolha da sua terra para o comício da rentrée socialista, dia 4 de Setembro, é «uma provocação indecorosa». Em declarações ao SOL, acusa mesmo José Sócrates de ter tomado essa decisão para «ajudar» a recandidatura de Renato Sampaio à federação do Porto.
«Vejo esta escolha por razões de mercearia e razões mesquinhas. É uma interferência do secretário-geral nas eleições para a federação», afirma. Esta leitura é, aliás, partilhada por dirigentes do PS mais próximos de Sócrates, que estranham o desejo do líder em abrir uma nova frente de polémica que estava adormecida.
Por causa da marcação da rentrée, o Conselho de Jurisdição do PS reuniu-se na semana passada para concluir o processo de expulsão de cerca de 100 militantes de Matosinhos por terem integrado uma lista às últimas eleições autárquicas, liderada por Narciso, contra o candidato oficial do PS.
O antigo autarca, que vai recorrer da decisão quando for notificado, queixa-se de nunca ter sido ouvido e de o processo estar cheio de erros processuais, cometidos por «gente com a ambição do poder».
Recorde-se que Narciso Miranda caiu em desgraça no PS com o caso da lota de Matosinhos, na campanhas das europeias, em 2004. O então cabeça-de-lista Sousa Franco morreu depois da visita à lota em que militantes do PS afectos a Narciso entraram em confronto com os de outra facção, de Manuel Seabra. Depois de alguns anos na sombra, Seabra foi reabilitado politicamente por Sócrates, que o promoveu à Comissão Nacional e lhe deu um lugar de deputado.

Guerra no Porto 
Grande parte dos militantes de Matosinhos agora expulsos são apoiantes do adversário de Renato Sampaio, José Luís Carneiro (próximo de figuras como Francisco Assis e António José Seguro). Daí que o ambiente esteja a aquecer.

Esta semana, Carneiro recebeu o apoio de mais duas figuras do PS, Manuel dos Santos e Vera Jardim, e o outro lado reagiu de imediato. A governadora civil do Porto, Isabel Santos, apoiante de Renato Sampaio, disse ao SOL que «estranha» o apoio de Vera, um militante de Lisboa, e lança a farpa: «Surpreende-nos que, sendo provedor do Consumidor, no caso recente da agência de viagens Marsans não se tenha revelado tão preocupado e tão afoito quanto com esta candidatura que nem sequer é da sua federação»«São factos que registamos e relevamos face à sua provecta idade», acrescenta.
A importância das eleições para as federações que ocorrerão a partir de Outubro é maior do que em anos anteriores, pois joga-se aí o futuro do PS. Numa altura em que os socialistas não sabem se vai haver ou não eleições antecipadas, cabe aos dirigentes eleitos fazer as novas listas de deputados e jogar com os alinhamentos em torno do actual líder e dos seus possíveis sucessores. Renato Sampaio, por exemplo, é um socrático da primeira fila e uma eventual derrota poderia significar um sinal do isolamento do socratismo.

‘Purga’ em Coimbra 
Em Coimbra, José Sócrates e André Figueiredo, secretário-nacional para a Organização, estão no centro de outra polémica.

«Não quero crer que o camarada André Figueiredo esteja a tomar parte de uma purga eleitoral interna no PS. O camarada não repete em Coimbra aquilo que fez na Guarda. Não o permitirei. Este é um primeiro aviso», afirmou ao SOL o actual presidente da federação socialista, Victor Baptista, que se candidata de novo ao cargo. Em causa, o facto de não ter tido acesso aos cadernos eleitorais até dia 9 de Agosto. Baptista escreveu dois ofícios a Sócrates, alertando-o para a situação, mas não obteve resposta.
Em resposta ao SOL, o gabinete de imprensa do PS comentou que «os cadernos eleitorais devem ser enviados até 9 de Agosto» e que «enviados não é o mesmo que disponibilizados».

3 comentários:

guimaraes disse...

"tiro o chapeu" para lhe dar os meus parabens pela crónica,que súbtil, inteligente,concreta e objectiva.
Espero ler mais crónicas suas, dentro deste contexto.

J.G.

Rui Viana Jorge disse...

Espero que não se repita o fenómeno da doca porque não desejo a morte a ninguém.
Mas lá que umas boas galhetas em algumas trombas vinham a callhar lá isso vinham.
Peixeiras de Matosinhos aqui está uma boa hipótese para despachar umas boas solhas ou até quem sabe anunciar que chegaram as chaputas

Anónimo disse...

sr rui viana olhe lá se as trombas e as galhetas não lhe caíam a matar neste seu texto sem pés nem cabeça.