20.3.10

1936


AS VOZES DO PS CONTRA O PEC



ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO, TUDO NÃO PASSA DE SIMPLES CONVERSA
Várias vozes se tem manifestado contra o PEC dentro do PS. Vozes com intensidade diferente: umas exprimem um lamento tímido, típico de quer deixar uma nota para memória futura; outras parecem ir um pouco mais além, falam num partido que deixou cair “sem cuidado” as bandeiras de esquerda; outras ainda culpam Bruxelas do que se passa cá dentro.
A experiência diz-nos que faz parte da mistificação ideológica do PS a existência de vozes discordantes como factor legitimador do partido como partido de esquerda. Não interessa para este efeito saber qual a verdadeira intenção de quem fala – seguramente há intenções diferentes – mas o resultado prático das palavras dissidentes.
Nos trinta e seis anos que levamos de democracia nunca tais palavras, quase sempre proferidas desorganizadamente, tiveram qualquer efeito prático relevante e raramente, raríssimamente, consubstanciaram uma proposta política alternativa. São palavras ditas apenas para que se fique a saber que dentro do partido também há gente que não concorda com as políticas de direita, gente que até está de acordo com as críticas (não com a oposição) que a esquerda lhes faz. Objectivamente o efeito prático de tais palavras acaba por ser o de manter a ficção de que o PS é um partido de esquerda, mesmo quando, pelas políticas que pretende pôr em prática, não se encontra ninguém no espectro político português à sua direita.
Se, de facto, Soares, Cravinho, Alegre, Pedroso (que até poderia concordar com as privatizações!) e tutti quantti estão realmente contra o PEC e contra a política de direita que o PS se propõe pôr em prática por que não convocam um Congresso para discutir o assunto e tentar alterar o rumo político do Governo?
Jamais o farão, jamais porão em causa a política do Governo, por mais reaccionária que seja. Tais vozes, tal como as de alguns deputados, ficarão muito satisfeitas se o seu simples e triste destino for o de ficarem para “memória futura” e se, além disso, o Governo se disponibilizar (como seguramente o fará) a prestar-lhes “esclarecimentos convincentes”, como Lacão com a sua conhecida naïveté já antecipou.

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