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Câmaras pagam 13 milhões por ano aos bancos pelos estádios do Euro 2004

Juros e amortizações das dívidas contraídas para a construção de palcos do Euro 2004 asfixia municípios


ALEXANDRA SERÔDIO, JOÃO PAULO COSTA, JOÃO PEDRO CAMPOS E PEDRO VILA-CHÃ


Em tempo de crise, as autarquias de Braga, Aveiro, Coimbra, Leiria, Faro e Loulé têm mais um problema: a factura dos estádios construídos a pensar no Euro 2004. Só em encargos com a banca, as seis câmaras pagam, por ano, mais de 13 milhões de euros.
A factura é elevada e o futuro dos estádios edificados para o Euro 2004 provoca, em alguns casos, acesas discussões nas reuniões camarárias. Não admira. O Euro 2004 foi um sucesso, mas o retorno não chega para suavizar os custos.
Seis anos após o torneio que coloriu Portugal de Norte a Sul, o quadro é bem mais negro. As autarquias estão asfixiadas, mas os bancos não esperam. A Câmara de Aveiro paga, por ano, quatro milhões de euros em juros e amortizações, repartidos por empréstimos ou locações financeiras contratualizadas para pagar a construção do Estádio Municipal Mário Duarte; a edilidade de Coimbra despende 1,5 milhões de euros; Leiria, 1,2 milhões; Faro e Loulé, proprietárias do Estádio do Algarve, liquidam à banca 1,5 milhões. A Câmara de Braga é recordista: o Estádio AXA, onde actua o líder da Liga, representa uma factura de cinco milhões de euros anuais para a autarquia da cidade dos Arcebispos. A soma das verbas despendidas, com juros e amortizações, por estas seis autarquias ascende a 13,2 milhões de euros.
A factura dos estádios tem mais parcelas. A manutenção provoca outra dor de cabeça. Segundo dados a que o JN teve acesso, custa à edilidade de Braga, directa ou indirectamente - em alguns casos estão envolvidas empresas municipais -, 150 mil euros por mês.
Em Coimbra, as despesas correntes são da responsabilidade da Académica, clube que utiliza o estádio (em 2010, esta parcela poderá chegar a 450 mil euros), mas em Aveiro, por exemplo, o pagamento da manutenção é desembolsado pela autarquia: 25 mil euros mensais.
A fraca afluência de público (ver peça à parte) traduz-se num problema que não ajuda à dinamização destas gigantescas estruturas. Recentemente, Raul Castro, presidente da Câmara de Leiria, revelou que uma das soluções para o Estádio Municipal Magalhães Pessoa poderia, no limite, passar pela venda do recinto a um investidor, salvaguardando a utilização para fins desportivos.
A dinamização destes espaços é, de facto, um dos grandes desafios. O vereador do executivo de Aveiro, Pedro Ferreira, explica, ao JN, que a revitalização do estádio passa, a curto prazo, "por envolver o Beira-Mar na gestão do equipamento e utilizá-lo para fins não futebolísticos ou desportivos, dotando-o, por exemplo, de espaços comerciais".
Não obstante serem os grandes responsáveis pelo endividamento das autarquias, há quem não tenha medo de novos financiamentos. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madail, revelou, em Outubro do ano passado, que os estádios de Braga e Algarve também poderiam, para além de Luz, Dragão e Alvalade, emergir como opções para a candidatura ibérica ao Mundial 2018/22, o que envolveria, em qualquer dos casos, um aumento da lotação em mais 12 mil lugares. A autarquia minhota mostrou-se disponível, apesar de, num endividamento global de 80 milhões de euros, apenas quatro milhões não serem imputados ao Estádio AXA.
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Pertence às autarquias de Faro e Loulé e é gerido pela Empresa de Concepção, Execução e Gestão do Parque das Cidades Loulé/Faro. Para além de jogos de escalões inferiores, destaque para o facto de ter recebido as finais da Taça da Liga e o Rally de Portugal.


JN

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