Que "concertação"?
Se a experiência continua a ser critério de verdade (com o revisionismo de valores que por aí vai, já não sei nada), não é difícil perceber a recusa do PCP em aceitar o apelo de Passos Coelho no Pontal à "concertação social", conceito ainda mais enigmático na boca do actual Governo que na do anterior.
A diminuição drástica do rendimento dos portugueses (refiro-me a trabalhadores e pensionistas, não aos "25 mais ricos de Portugal", cujas fortunas cresceram com a "crise" para 17,4 mil milhões de euros) através do famoso "imposto por precaução"; o aumento dos transportes públicos; o anúncio de despedimentos fáceis e baratos, num país com centenas de milhares de desempregados; a subida do IVA da electricidade e gás de 6% para 23%; o fim de comparticipações em despesas de saúde dos utentes do SNS, mais o que estará para vir, não são tranquilizantes quanto ao que Passos Coelho entenderá por "concertação social". Sobretudo porque, num país em que o salário mínimo é de 485 euros e a pensão média não chega aos 400, a generalidade destas medidas não foi objecto de qualquer tipo de "concertação".
À luz de tal experiência, a "concertação" de Passos Coelho parece-se mais com a proposta do pote de ferro ao pote de barro para irem juntos aos trambolhões rio abaixo do que com a "justiça social" prometida pelo PSD na campanha eleitoral. No conto popular, o ingénuo pote de barro acaba, recorde-se, despedaçado.
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