16.7.10

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O Cronista Indelicado

PS e PSD dormem numa cama de casal

PS e PSD são como aqueles colegas de trabalho – posso garantir que conheci vários – que andam enrolados mas não querem que as pessoas saibam. Chegam em carros separados, entram por portas diferentes, saem para almoçar com cinco minutos de desfasamento, tratam-se com indiferença quando há público, mas no final do dia dormem alegremente na mesma cama.
Por:João Miguel Tavares

Na verdade, nem sequer enganam ninguém – toda a gente sabe que há ali truca-truca, e tudo aquilo não é mais do que um jogo de aparências, mais ou menos hipócrita, quase sempre para evitar justificações e fugir às perguntas incómodas. Quando nos deparamos com tal situação no nosso local de trabalho, encolhemos os ombros e pensamos: 'É lá com eles.' Quando nos deparamos com tal situação no nosso país, não há forma de evitar que seja connosco.
E a mim chateia-me um bocado estar metido no meio de uma relação entre PS e PSD feita de cotoveladas quando a luz está acesa e ‘french kisses’ quando a luz está apagada. Os bons modos mandam agir ao contrário: discute-se o que há para discutir em privado para evitar a peixeirada em público. Só que PS e PSD, claro está, adoram peixeirada, por uma razão simples: os berros evitam a troca de argumentos com pés e cabeça, que é coisa que dá um certo trabalho e, sobretudo, que compromete – é preciso fazer escolhas políticas e (horror) defender pontos de vista ideológicos.
Como é óbvio, esta gente não se quer comprometer. O PS, porque a distância que vai entre aquilo que diz hoje e o que defendeu ontem dá para correr a maratona. O PSD, porque apesar de ser cúmplice de variadíssimas medidas de austeridade prefere que ninguém repare nisso para daqui a um ano poder dizer: 'A culpa foi daquele senhor de cabelo grisalho.' E por isso continuamos assim, entre o vem cá e o chega para lá, entre a canelada e o apalpão. Numa dança infantil e sem futuro.

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