Vítor Constâncio pode ser acusado de muita coisa, mas não de não ser um fiel representante da deriva ideológica do Partido Socialista em direcção àquilo que poderia classificar-se como uma espécie de neo-liberalismo de fachada social, responsável por Portugal ser hoje, 36 anos depois do 25 de Abril, um dos países da Europa com maiores desigualdades sociais. O mandato de Constâncio à frente do Banco de Portugal notabilizou-se, por um lado, pela total passividade e impotência reguladora em relação às tropelias da banca e, por outro, pela encarniçada defesa da redução dos salários (dos alheios, entenda-se) como panaceia para a solução de todos os problemas financeiros do país. Agora, em vésperas de partir para o assento etéreo a que subiu no BCE, não quis deixar os seus créditos por mãos alheias. Para ele, o PEC é brando de mais e medidas adicionais e mais drásticas "têm de ser ponderadas e seria útil e desejável que acontecessem". José Afonso sintetizou tal discurso em dois versos terríveis de, justamente, "Os eunucos": "Quando os mais são feitos em torresmos/ não matam os tiranos, pedem mais".
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