FACE OCULTA'
Auditoria à Refer na gaveta
por ANA TOMÁS RIBEIRO com MARINA MARQUES
Inspecção-Geral das Obras Públicas concluiu averiguações há dois meses. Resultados em segredo.
A Inspecção-Geral das Obras Públicas (IGOP) já concluiu, há pelo menos dois meses, as inspecções a todas as empresas tuteladas pelo ministério. A acção foi desencadeada pelo ministro António Mendonça, em Novembro de 2009, na sequência do processo "Face Oculta". Mas, até agora, uma das empresas investigadas, a Refer - gestora da rede ferroviária nacional -, não conhece o relatório final da inspecção, garantiu ao DN fonte da empresa.
Há dois meses, em comunicado, divulgado pela Lusa, o Ministério das Obras Públicas dava conta de que a Inspecção-Geral já tinha concluído os trabalhos. Em síntese, garantiu que 22 das empresas nunca tiveram qualquer relacionamento com as empresas do sucateiro Manuel Godinho, mas que sete tinham mantido esse contacto - dentro dos parâmetros legais - e que em cinco delas tinham sido detectadas irregularidades nos procedimentos.
Estas cinco empresas eram a Estradas de Portugal, a Refer, o Metropolitano de Lisboa, a Transtejo e a CP. Embora em nenhuma tivessem sido detectadas situações de fraude ou corrupção, o comunicado concluía "que o sistema de controlo interno não existiu ou não funcionou eficazmente", pelo que tinham sido accionadas medidas de natureza disciplinar e de gestão" nas respectivas empresas. Porém, a Refer - que está no centro da investigação judicial, com várias referências a irregularidades nos negócios com o empresário da sucata - garante ainda não conhecer o relatório final.
O desconhecimento, de resto, alarga-se a outro ponto do comunicado de Fevereiro do ministério, que garantia que seriam realiza-das novas inspecções, pela IGOP, nas cinco empresas em que tinham sido detectadas irregularidades. De acordo com a mesma fonte da empresa, as averiguações na Refer já terminaram, mas também ainda não sabem resultados.
Contactada pelo DN, fonte oficial do Ministério das Obras Públicas disse apenas que ainda não havia resultados das inspecções. E explicou que foi pedido pelo ministério que estas incidissem sobretudo nas áreas onde foram detectadas irregularidades.
Foi na Refer, através de uma auditoria interna, mandada executar pela administração, que foram detectadas as primeiras irregularidades relativamente a negócios com a O2, a empresa de Manuel Godinho, com base em suspeitas fundamentadas nas denúncias do roubo de carris da linha do Tua.
As escutas da Polícia Judiciária vieram depois a revelar que o empresário já estava a perder negócios há algum tempo naquela empresa, precisamente desde que foi detectado o seu envolvimento no desaparecimento daqueles carris, e tentava, através do seu amigo Lopes Barreira, o empresário de Armando Vara, ex--administrador do BCP mover influências para ganhar novos concursos.
Fonte da empresa garante, porém, que esta tem vindo a implementar um conjunto de medidas de controlo de procedimentos, na sequência da auditoria interna - anterior à divulgação pública do caso "Face Oculta" - que detectou as primeiras irregularidades com as empresas de Godinho, mas apenas por decisão e iniciativa da administração da Refer.
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