"Trabalho político"
Jaime Gama meteu-se aparentemente numa camisa de onze varas ao pretender essa coisa extraordinária que é que os deputados faltosos justifiquem as faltas dadas a pretexto de que estão algures a realizar "trabalho político".
Terá considerado o ingénuo presidente da AR que, não havendo deputados em "part time" - pois o facto de serem pagos a tempo inteiro aponta nesse sentido - , todo o trabalho dos deputados é "trabalho político", pelo que justificar faltas com o argumento de "trabalho político" é uma tautologia talvez excessivamente discreta mesmo para os critérios parlamentares. Só que, alerta judiciosamente a deputada Clara Carneiro, os deputados podem não querer que se saiba em que "trabalhos políticos" andam metidos. E como, convocando o poema de Szymborska, "todas as coisas - minhas, tuas, nossas, /coisas de cada dia, de cada noite - /são coisas políticas", até uma ida à praia, uma tarde no escritório a fazer pela vida ou um furtivo encontro galante podem ser "trabalho político". E entrar em pormenores sobre ele seria, tem razão o deputado Couto dos Santos, "como ir ao confessionário".
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