25.11.09

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Causas e Consequências

E mesmo assim

O PSD é hoje uma agremiação inútil de figuras menores, de ambições miúdas e de improváveis vaidades.

De repente, quando o partido repousava em sossego, entregue à sua doce inutilidade, o PSD decidiu voltar, mais uma vez, às primeiras páginas dos jornais. Para falar do buraco orçamental apresentado pelo Governo? Do aumento de impostos sugerido pelo dr. Constâncio? Dos níveis históricos do desemprego? Ou mesmo da dívida pública que se revelou, mais uma vez, em todo o seu esplendor? Não, em vez destes temas que poderiam maçar os portugueses, o PSD preferiu patrioticamente dar a mão ao Governo na avaliação dos professores. A táctica, de uma opacidade a toda a prova, teve os efeitos que se advinham. Numa só penada, o partido não só mandou às ortigas uma das suas principais promessas eleitorais (suspender o actual modelo) como ficou cúmplice do PS numa dos seus mais intrincados imbróglios políticos.
Ciente de que poderia haver algumas dúvidas no ar, o dr. Aguiar Branco, que ameaça candidatar-se à liderança do partido, ofereceu-nos generosamente a sua criativa visão dos factos. Antes de mais, ficámos a saber que o PSD, depois de se ter comprometido com os portugueses durante meses a fio, percebeu, há meia dúzia de dias, que "as circunstâncias" tinham mudado. Que circunstâncias são essas que mudam num tão curto espaço de tempo é, como se imagina, um mistério difícil de destrinçar. Segue-se que toda esta questão, como o líder parlamentar do partido salientou, é uma questão meramente "semântica", que não afecta o essencial. Infelizmente, não é. Tendo em conta o estado em que se encontra o PSD, admito que não tenha ocorrido ao dr. Aguiar Branco que qualquer acordo entre o Governo e o principal partido da oposição é um acto político que não se compadece com interpretações subtis de natureza gramatical. E este acordo em concreto, quer se queira quer não, é politicamente desastroso para o PSD: para além de quebrar o isolamento do PS no Parlamento, os sociais-democratas ficam a partir de agora irremediavelmente associados ao Governo num problema para o qual este não tinha saída.
Se alguma dúvida houvesse, este caso, por si só, confirmaria o caos que se instalou no PSD – um partido sem liderança efectiva, movido por pequenos ódios e enrodilhado nas mais inverosímeis intrigas, que parece ter como principal objectivo transformar-se naquilo que já é: uma agremiação inútil de figuras menores, de ambições miúdas e de improváveis vaidades. Encontrar um chefe, no meio desta balbúrdia institucionalizada, é naturalmente um feito impossível de concretizar. Só por milagre. E mesmo assim!



Constança Cunha e Sá, Jornalista

1 comentário:

Anónimo disse...

Podem ser todos EXCELENTES; todos MEDíOCRES; ou todos MAUS, mas isso não pode depender de cotas pré-estabelecidas.
Assim sendo, com esta lógica irracional que domina na avaliação idealizada pelo PS, também o Sr PRIMEIRO MINISTRO JÁ SABE À PARTIDA quantos Ministros irão ser EXCELENTES (no máximo); quantos irão ser BONS (no máximo); e quantos irão ser MEDÍOCRES (podem ser todos).
Zé da Burra o Alentejano