12.11.08

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Passado procura-se


Em tempos como os nossos, de rasteiro presente, o passado (como essa espécie de versão republicana da linhagem que é o "currículo") tornou-se um bem escasso, e quem não tem passado adequado a cada circunstância arranja-o. Em recente entrevista ao DN, Sócrates não resistiu a reivindicar-se da "geração Kennedy": "Lembro-me do debate que houve na América quando, pela primeira vez, um católico se candidatou a presidente (…) Lembro-me bem do que isso significou".

Só que a eleição de Kennedy de que Sócrates se "lembra bem" foi em 1960, tinha ele 3 anos… Por sua vez, Santana Lopes gabava-se um dia destes na "Pública" dos seus hábitos de leitura, que vão muito além de Machado de Assis, revelando que, aos 8 anos, saía de casa todos os dias às 8 da manhã para comprar "A Bola". Ora "A Bola" (melhor dito, ora bolas…) só começou a ser publicada diariamente em 10 de Fevereiro de 1995, já Santana ia em 39 anos. O romance "O vendedor de passados", de Agualusa, pode ser uma ideia comercial inovadora e não apenas uma fantasia literária. Só falta arranjar quem tenha passado e memória para vender. Mercado há.

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