12.7.11




Do lado de cá do espelho


Aminha simpatia por Duarte Pio de Bragança é por assim dizer literária, já que se apresenta, na tradição da realeza carrolliana, como pretendente a algo que não existe, o trono de Portugal. É certo que não existir é menos do que ser impossível e que a Rainha Branca de "Alice do outro lado do espelho" chegava a acreditar em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço. Considerando, porém, que a pretensão ao tal trono é do lado de cá do espelho (pelo menos tudo indica que seja, isso e a dúzia de títulos nobiliárquicos - algo que também não existe - que igualmente reivindica), a de Duarte Pio de Bragança é certamente uma proeza admirável.
Não menos admirável é ainda o facto de ter declarado em Damasco que o ditador sírio, Bashir al-Assad, é "um homem muito bem-intencionado", que "tem tentado democratizar e humanizar a política, e já conseguiu grandes avanços".
Como sabe quem lê jornais e vê TV, os "grandes avanços" que o ditador tem conseguido desde que, em Março, começaram no país as manifestações pró-democracia, tem sido no número de mortos (já da ordem dos milhares, segundo várias organizações de defesa dos direitos humanos).
Descobriu-se agora, por Duarte Pio de Bragança, que tem tudo sido (mortos, feridos, muitas dezenas de milhares de presos e de refugiados) com a melhor das intenções e com o louvável intuito de "democratizar e humanizar a política".
Sempre do lado de cá do espelho.

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