1.4.11




"Aqui havia uma casa"


Ilse Losa contou-me um episódio doloroso do seu regresso à Alemanha no fim da guerra, quando visitou já não sei se Osnabruck se Hannover, onde vivera. Procurou a sua casa e não a encontrou.
Nem sequer o lugar dela, pois a cidade fora de tal modo desfigurada pelos bombardeamentos que todas as referências geográficas (ruas, praças, edifícios) tinham desaparecido numa amálgama indistinta de ruínas onde era impossível a orientação. Tal sentimento de perda irremediável está presente em grande parte da sua obra, especialmente em "Aqui havia uma casa".
Muitos portugueses experimentam hoje um sentimento parecido ante as ruínas daquilo que foi um dia um país e hoje é apenas um patético joguete de interesses alheios. Também "aqui havia uma casa", agora impossível de encontrar à míngua de referências (morais, ideológicas ou outras) e de qualquer projecto que não o da ganhunça. A "choldra ignóbil" de Eça regressou corrompendo tudo, confundindo verdade e mentira e espoliando o presente e o futuro colectivos.
As próprias palavras deixaram de merecer confiança. O Partido Socialista é tão socialista quanto o Partido Social-Democrata é social-democrata e expressões como "Estado social" ou "justiça social" perderam qualquer significado. Daqui a dois meses iremos outra vez a votos. E, como a imensa maioria descontente que se abstém não conta, os mesmos elegerão de novo os mesmos. Que farão mais uma vez o mesmo.

1 comentário:

Livre Pensdor disse...

Realmente,há um conjunto de pessoas que que já à imenso tempo são os pregadores do FMI. Fazendo uma retrospectiva politica dá-me vontade de rir,porque são aqueles que tiveram grandes responsabilidade na gestão deste País. Porque será que gostam tanto do FMI? Quando se sabe que nunca ajudaram ninguém a não ser sustentar parasitas... O José Mário Branco diz bem o que é a tal organizarão e a sua função...
Um Lavrense Atento