Ontem, António Perez Metelo respondeu-me, no debate da TVI, que era «o sistema que ia abaixo» — se se fizesse uma «auditoria às contas públicas». Compreende-se melhor a natureza do sistema, independentemente das pressões francesa e alemã para que essa auditoria não tenha lugar (e não vai ter, como se sabe, porque no país e nesta União se prefere a jogatana ao jogo, a maquilhagem à transparência), depois da entrevista de Teixeira dos Santos e da revisão dos défices e da dívida pública hoje anunciada. O «sistema» é a manipulaçãocontinuada dos números, das estatísticas, dos negócios ruinosos com as PPP, das decisões e da actividade do governo, concertada com acções de propaganda fácil e com falhanços evidentes em todas as previsões. José Sócrates provocou esta crise política para tentar ocultar tudo o resto; é necessário dizer-lhe que um tratante pode mentir quantas vezes quiser, e que pode tentar todas as astúcias para esconder os factos — mas não deixa de ser um magarefe, mesmo se mantiver o discurso aperaltado de um manda-chuva zangado e prepotente. Na situação em que nos encontramos, o país precisa de reencontrar uma certa limpeza, alguém com compostura e credibilidade como interlocutor. E de certa decência.
Francisco José Viegas
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