17.3.11

BURACOS

Buracos... Quem conheça José Sócrates pressentia que o seu semblante durante o discurso de Cavaco Silva era mais de ausência, do que de preocupação. Ou melhor, percebia-se que havia algo que o preocupava mais do que as palavras que estava a ouvir. Mas foi só na 6.ª-feira que se percebeu o que era: nada menos do que engendrar um modo de tapar dois buracos que os técnicos da Comissão Europeia e do BCE tinham descoberto: um no Orçamento deste ano, de cerca de 0,75% do PIB, outro nas contas do orçamentais de 2012, de 2,75%. E de o fazer rapidamente, antes do Conselho Europeu, que iria reunir-se dois dias depois. É que, se não fosse resolvido antes deste Conselho começar, deixaria o primeiro-ministro português ainda mais fragilizado do que tem estado, sem qualquer margem reivindicativa perante os seus pares. A verdade é esta, o resto é conversa. Nasceu assim o PEC IV, a anunciar mais uma vez o que na véspera se tinha garantido não ser necessário fazer: cortes, sempre mais cortes, sem nenhuma luz ao fundo do túnel, que só pode vir de um crescimento da economia, de que há muito, infelizmente, se parece ter desistido.

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