1.2.11

do modo de vida socretista


Deixa de apitar o comboio fantasma

PEDRO OLAVO SIMÕES

Cerca de um ano depois de entrarem em funcionamento, os comboio de passageiros fizeram hoje, segunda-feira, as últimas viagens na Linha de Leixões.
Dos tempos modernos nascem peculiares sensações de estranheza: há comboios em circulação, num ambiente urbano, que não estão vandalizados. Nem rasgão no estofo nem assinatura estapafúrdia na parede, as carruagens sem mácula poderiam ter acabado de sair da fábrica. Mas não. Circularam perto de um ano numa linha chamada de Leixões, sem a Leixões chegarem, e serviram pouca gente, pouca gente, porque ninguém corrigiu fraquezas operacionais que saltam à vista de qualquer um.
A despedir-se das composições que o levavam a passear entre S. Mamede de Infesta e Ermesinde, Álvaro Coutinho, aposentado, confirmava os erros que geralmente vêm sendo apontados: "Nunca fizeram o que prometeram, que era uma estação junto ao Hospital de S. João e levar o comboio até Leixões, com uma paragem junto à Efacec. A linha está feita, não compreendo por que não fizeram isso".
Nem ele nem a maioria dos cidadãos. Sem articulação viável com outros meios de transporte (no hospital, o metro estaria à disposição de muita gente que não o tem perto de casa) e ligando destinos improváveis (a linha de passageiros só funcionou entre Ermesinde e Leça do Balio), só para poucos este serviço e o investimento público que implicou fizeram sentido. É o caso, por exemplo, de Cláudia Rego, que sozinha representava 50% dos passageiros distribuídos pelas três carruagens que saíram de Leça do Balio às 16.09 de ontem. Um caso invulgar, pois reside em Barcelos, de onde todos os dias se desloca para S. Mamede, onde cumpre um estágio como técnica administrativa na Escola Secundária Abel Salazar: "Comecei em Setembro e acabo em Agosto. Até agora, ando apenas de comboio, de Barcelos para Ermesinde e de Ermesinde para S. Mamede. Daqui para a frente, tenho de usar autocarros, da STCP, e já comecei a sentir no bolso, pois gasto mais vinte e poucos euros de passe".
Vimo-la num comboio despido de gente, mas nem sempre assim é. "Às 9 horas, vê-se muita gente", assegura, e da experiência de alguns meses fica-lhe a impressão de que o número de utentes "tem vindo a crescer". Terá, mas pouco, e logo volta a questão das ligações com outros meios de transporte: "Não há muita sintonia".
Não haverá, realmente. Certo é que o destino da triste carreira de passageiros, ao fim de tão pouco tempo, indicia grande desafinação. Ou o Estado foi perdulário ou não se foi ao encontro das necessidades da população.

2 comentários:

guimaraes disse...

Onde está a população que circunda a linha da Citura? só se for pinheiros, eucaliptos ou mato.

Cego não é aquele que não vê , mas aquele que não quer ver.

Anónimo disse...

ACORDA MATOSINHOS!