2.2.11

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Prendas para que vos quero

Tenho andado a matutar nas afirmações do ex-presidente Jorge Sampaio à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa onde foi defender o seu amigo José Penedos, arguido de crimes de corrupção e participação económica em negócio no chamado processo "Face Oculta".

Conta quem lá esteve que Sampaio garantiu ao tribunal que o amigo está acima de qualquer suspeita; o que é uma maneira de dizer, pois Sampaio foi justamente defendê-lo de muitas e graves suspeitas... Mas até aqui tudo bem, é o seu papel como testemunha de defesa e ele cumpriu-o zelosamente, prescindindo até da faculdade de testemunhar por escrito porque "os papéis são silenciosos" (e não falam aos jornalistas à saída dos tribunais).
Mas Sampaio foi mais longe, fez questão de revelar que, na Presidência, recebeu prendas "que não cabiam em três salas". Mais: que "nunca compr[ou] uma caneta ou um relógio" (mostrou até a caneta que trazia, que lhe terá sido oferecida não sabe por quem). E que, apesar disso, "nunca se senti[u] minorado na [sua] honestidade".
Quererá Sampaio dizer que receber prendas é sempre coisa inteiramente inocente? Que ninguém recebe prendas para cobrar favores? Que, pelo facto de ele próprio ter recebido prendas, três salas delas, sem dar nada em troca toda a gente (no caso todos os seus amigos) fazem o mesmo? E, já agora, acha Sampaio que quem o ouve à porta de um tribunal ou lá dentro é estúpido?

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