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Cheques carecas
Ninguém sabe se as medidas de austeridade ontem anunciadas irão ou não satisfazer a insaciável fome especulativa dos fantasmáticos "mercados financeiros" e reduzir do défice. Justifica-se, assim, a cara de caso de Sócrates na TV. A história recente de Portugal tem sido a história do Monstro, como um dia Cadilhe o chamou, identificando-lhe o pai (que, recorde-se, não era exactamente Sócrates). Tendo apanhado com a chamada "crise internacional" em cima, Sócrates é apenas o último a sair e, por isso, o que tem que fechar a porta. Mas só num país de despudorados costumes é que ministros responsáveis, ao longo de décadas, pela engorda do Monstro, em vez de serem levados a tribunal como os seus colegas islandeses, aparecem a dar conselhos sobre a redução do défice a um boquiaberto líder da Oposição. Porque, convocando Pound, as opiniões são como os cheques: a sua validade depende da cobertura que tiverem. A crer na cobertura que dão às suas opiniões financeiras as passagens pelas Finanças de, por exemplo, Medina Carreira, Salgueiro ou Catroga, Passos Coelho ficou com muitos cheques carecas em mãos.
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