Uma anedota
Com o Governo à deriva e a oposição a reboque, este País parece, cada vez mais, uma anedota de que não dá vontade de rir.
Por:Constança Cunha e Sá, Jornalista
A semana passada confirmou o óbvio: num País à beira da bancarrota, deixámos de ter um Governo nacional para nos transformarmos num protectorado da União Europeia, dependentes das imposições orçamentais da sra. Merkel e do sr. Sarkozy que, em dois fatídicos dias, deitaram por terra os delírios megalómanos com que o eng. Sócrates tem vindo a entreter o País e a sua proverbial teimosia. Poder-se--ia esperar que este simples facto – que alguns saúdam com despropositado optimismo – introduzisse, entre nós, um módico de realismo e de bom senso, capaz de inverter o caminho sem retorno em que nos vamos progressivamente afundando. Mas isso seria, obviamente, esperar de mais de um Governo, que já não existe enquanto tal, e de uma Oposição que se deixou enredar num acordo que nega o essencial do seu discurso e hipoteca a existência de uma verdadeira alternativa a um modelo socialista que sempre privilegiou a despesa do Estado em detrimento do esforço dos contribuintes.
Não vale a pena perder tempo a enumerar tudo o que foi dito, nos últimos tempos, pelo eng. Sócrates e pelo dr. Passos Coelho sobre o aumento de impostos que, agora, e graças à frutuosa colaboração entre os dois, se abateu, de forma brutal, sobre todos os portugueses. Há muito que o Governo, encurralado entre as fantasias do chefe e os constrangimentos da realidade, tem vindo a dizer o mesmo e o seu contrário: sobre o aumento dos impostos, a realização das grandes Obras Públicas ou a importância dos apoios sociais, tendo como pano de fundo um discurso esquizofrénico onde o País ora se apresenta como um poço de dificuldades ora irradia luminosamente a salvo da crise e das suas consequências.
O dr. Passos Coelho, por sua vez, depois de ter engolido todas as críticas que fez à dra. Ferreira Leite, vem agora, depois de ter patrocinado o maior assalto ao contribuinte de que há memória, ensaiar um pedido de desculpas patético que o transforma no primeiro líder da Oposição a conseguir dar o dito por não dito antes mesmo de chegar ao Governo. E isto sem ter garantido, como afirma, qualquer corte substancial na despesa do Estado e sem se perceber bem que garantias lhe deu o Governo em matéria de Obras Públicas, numa altura em que secretários de Estado e ministros se contradizem diariamente sobre o adiamento dos investimentos públicos. Com o Governo à deriva, a Oposição a reboque e o Presidente da República entretido com o casamento dos homossexuais, este País parece, cada vez mais, uma anedota de que não dá vontade de rir.
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