22.1.10

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A CANDIDATURA DE ALEGRE E A DIREITA DO PS



A DIREITA DO PS TENTA BOICOTAR A CANDIDATURA

O anúncio feito por Manuel Alegre há uma semana de que estava disponível para se candidatar à Presidência da República deixou a direita do PS numa situação embaraçosa. Quando esta direita se preparava para lançar um nome que a representasse na Presidência, Alegre adiantou-se e deixou-a, para já, sem solução. Porque já se viu, em eleição anterior, que Alegre tem condições para disputar uma parte significativa do eleitorado do PS contra um candidato do aparelho.
Na impossibilidade ou na dificuldade de encontrar uma solução que a satisfaça, essa direita publicamente representada por Vitorino, Vitalino Canas, José Lello, Correia de Campos, Vital Moreira e outros vai tentando desacreditar a candidatura dizendo que ela não tem condições para ganhar, porque não conquista o centro. E Vitorino, perfidamente, vai mesmo mais longe: procura desacreditar o discurso da Alegre exactamente nos tópicos em que ele mais agrada ao eleitorado de direita.
Como aqui repetidamente tem sido dito, o PS tem no seu seio uma componente que reage vivamente a qualquer discurso político que defenda aquilo a que poderíamos chamar a democracia económica. Essa componente do PS muito ligada aos meios plutocráticos, de que são exemplo indiciário as transferências de Pina Moura e de Coelho para a presidência de grandes empresas oligopolistas, reage com todos os meios que tiver à sua disposição para impedir qualquer tipo de repartição mais equitativa de rendimentos.
Esta componente, em que Vitorino igualmente se insere não apenas ideologicamente, mas também pela sua voraz apetência pelo mundo dos negócios, é dominante no PS no plano governamental. Sócrates e a sua relação privilegiada com todas as grandes empresas, sejam elas da construção civil, da banca, dos seguros, das energias, representa no governo essa componente que frequentemente coloca o partido na contradição sentida por milhares de militantes e apoiantes entre os princípios que afirma defender e a prática política que na realidade prossegue.
A luta desta componente, dominante no PS, contra Cavaco Silva e contra o bloco conservador que o apoia não é uma luta ideológica decorrente de uma visão muito distinta sobre a forma de entender a governação nos planos económico e social. Mais ou menos investimento público, mais ou menos dívida, mais ou menos apoios sociais a quem já perdeu tudo e praticamente vegeta na sociedade sem direitos efectivos, eis no que consistem as diferenças. Depois haverá outras, que, embora tenham aparentemente um grande peso ideológico, não são muito decisivas e se manifestam em matérias que não custam dinheiro ou que têm limitado peso económico, como o regime do divórcio, a interrupção voluntária da gravidez ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em que de facto o PS de uma maneira geral, inclusive com o apoio da sua componente direitista acima referida, se distingue de Cavaco e da política do PSD e do CDS.
Mas o que verdadeiramente opõe Sócrates a Cavaco é a luta pelo poder. É decidir quem o tem e quem o exerce. Sociologicamente esta contradição assume grande relevo quando na sociedade não há, proveniente doutras forças antagónicas, uma ameaça verdadeiramente séria, como é actualmente o caso, não apenas em Portugal, mas na maior parte do mundo capitalista avançado.
E o que vai ser decisivo na escolha de Sócrates em matéria de candidatura presidencial é a sua avaliação sobre dois factores: a possibilidade de uma vitória por maioria absoluta em eleições legislativas antecipadas (evento que Cavaco no actual mandato vai tentar a todo o custo impedir), caso em que jamais apoiaria Alegre; e a possibilidade, fora daquela hipótese, de Alegre poder bater Cavaco, caso em que haveria alguma chance de esse apoio se verificar, nomeadamente se houver uma certa pressão do eleitorado PS nesse sentido.

JM Correia Pinto no POLITEIA

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