20.1.10

1682


Como valorizar a má moeda

por Ana Sá Lopes
Se um dos rituais primários do regime manda a que todos os ex da pátria sejam condecorados, como poderia Pedro Santana Lopes ficar de fora? Foi, em pleno direito, um deles, ainda que, sem as graças que a conjuntura reservou a outros, tenha acabado exangue e transformado no bode expiatório das misérias nacionais do pós-Constituição de 1982. Claro que, na circunstância, Santana Lopes cumpriu esforçadamente a sua parte, multiplicando os famosos "episódios" que serviram a Jorge Sampaio para despachar o justificativo pela dissolução parlamentar. Mas nunca como nesse já obscuro ano de 2004 foi possível reunir uma tão gigantesca coligação negativa, quase uma variante de "desígnio nacional", que reconciliou inimigos, irmanou rivais e fez convergir simples opositores no "ódio ao Lopes". De certa maneira, foi uma festa. 


O mais ilustrado "Zé Pereira" desta festa e deste bombo acabaria por ser Cavaco Silva que se lembrou apropriadamente de adaptar a teoria económica de Gresham à conjuntura política, no famoso artigo do "Expresso" em que instou a que a "boa moeda expulsasse a má moeda". Não eram precisos grandes semiólogos do "cavaquês" para descobrir de quem Cavaco falava. Sampaio tomou nota e dias depois estava a expulsar a moeda Lopes, abrindo caminho à ascensão de Sócrates e a uma mais tranquila candidatura de Cavaco a Belém. Agora, com a condecoração, o Presidente cumpre, diz, "um acto de justiça". Mas, evidentemente, a um ano das presidenciais, prepara-se para não desvalorizar a má moeda que, em baixa, ainda valia quase 30% na última cotação interna do PSD. ?ana.lopes@ionline.pt








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