O Marcelo no incursões
Au Bonheur des Dames 171
Malhar, diz ele
Abram alas! Passa o Malho!
Chapeau bas! Viva o pimpolho!
E é tratar de abrir o olho,
Porque ele vem de chanfalho.
Lembram-se do Joãozinho das Perdizes? Se calhar não... já ninguém lê Júlio Dinis, escritor malogrado, morto demasiado cedo para poder ser conhecido por mais alguma coisa do que “A morgadinha dos canaviais”, “Uma família inglesa” ou as eternas pupilas.
Se as leitoras se derem ao trabalho verificarão, contudo, que JD pintou como nenhum outro a mudança social e política. Foi um cronista do fontismo ou pelo menos da vontade de mudar o país. E em “Os fidalgos da casa mourisca” mostra como a decadente aristocracia rural começa a ser substituída pelos empresários agrícolas que em breve os substituirão.
O Joãozinho, pitoresca criação sua, era um reaccionário de bom coração que varria feiras a varapau. Malhava forte e feio nos adversários, fiado na sua força, na sua classe e no punhado de apaniguados que lhe deviam obediência. E gabava-se disso.
Do que ele gostava era de malhar na esquerda, se por isso pudermos significar os arautos de um Portugal que tentava emergir do espesso mundo rural nortenho.
Abram alas! Passa o Malho!
Chapeau bas! Viva o pimpolho!
E é tratar de abrir o olho,
Porque ele vem de chanfalho.
Lembram-se do Joãozinho das Perdizes? Se calhar não... já ninguém lê Júlio Dinis, escritor malogrado, morto demasiado cedo para poder ser conhecido por mais alguma coisa do que “A morgadinha dos canaviais”, “Uma família inglesa” ou as eternas pupilas.
Se as leitoras se derem ao trabalho verificarão, contudo, que JD pintou como nenhum outro a mudança social e política. Foi um cronista do fontismo ou pelo menos da vontade de mudar o país. E em “Os fidalgos da casa mourisca” mostra como a decadente aristocracia rural começa a ser substituída pelos empresários agrícolas que em breve os substituirão.
O Joãozinho, pitoresca criação sua, era um reaccionário de bom coração que varria feiras a varapau. Malhava forte e feio nos adversários, fiado na sua força, na sua classe e no punhado de apaniguados que lhe deviam obediência. E gabava-se disso.
Do que ele gostava era de malhar na esquerda, se por isso pudermos significar os arautos de um Portugal que tentava emergir do espesso mundo rural nortenho.
Deixou, como parece agora comprovar-se, discípulos. Que gostam de “malhar”. Malhar nos adversários mesmo que estejam no mesmo partido ou, no que se convencionou chamar “esquerda”. Podia dar-lhes para “malhar” na Direita, ainda que isso pareça um problema porquanto, e aos olhos de muito boa gente, o partido dos malhadores, ou caceteiros costume ancorar por essas bandas. Como é o caso, diga-se de passagem, quando um partido socialista resolve pôr princípios na naftalina e fazer mal o que a direita costuma fazer bem.
Parece que esta fúria de varapau atacou agora o dr. Santos Silva. Endoidou-o a pontos de o fazer confessar essa pulsão pauliteira à boca de um microfone, perante um auditório regougante. A ocasião presta-se a estas bravatas à velha moda de Fafe: o líder é atacado e a melhor defesa é varapau nos que aparecem. Enquanto o marmeleiro vai e vem, folgam os fripóres...
Não deixa de ter graça, o dr. Santos Silva apontar o trabuco à “esquerda chique” presumindo-se que isso significará o Bloco onde, como ele estará lembrado, ainda há um par de antigos trotskistas, com quem fez nos anos de juventude algum caminho.
Parece que esta fúria de varapau atacou agora o dr. Santos Silva. Endoidou-o a pontos de o fazer confessar essa pulsão pauliteira à boca de um microfone, perante um auditório regougante. A ocasião presta-se a estas bravatas à velha moda de Fafe: o líder é atacado e a melhor defesa é varapau nos que aparecem. Enquanto o marmeleiro vai e vem, folgam os fripóres...
Não deixa de ter graça, o dr. Santos Silva apontar o trabuco à “esquerda chique” presumindo-se que isso significará o Bloco onde, como ele estará lembrado, ainda há um par de antigos trotskistas, com quem fez nos anos de juventude algum caminho.
Nestas coisas de gente que vê a luz e se converte, raras vezes se falha um velho rancor contra os antigos camaradas. Santos Silva elegeu essa rapaziada “gauchiste” como alvo. E o PC, claro. O PC é opunching ball das impotências socialistas ou que se afirmam como tal. À falta de um bey de Tunes para chibatar (como mandava Eça) serve o PC. E agora não só serve como convém: está em crescimento, ameaça com a sua candidatura autónoma retirar o tapete na Câmara de Lisboa, é vigoroso nas ruas sobretudo porque com a sua experiencia e com a sua capacidade polariza os descontentamentos sociais.
S.S., com o seu tom de Vichinsky, com um toque de Jdanov, mete tudo no mesmo saco, oposições e críticos internos, e afinfa tonitruante com a promessa de “malha” em que se opuser. Nem nisto é original. Já o camarada Coelho, agora travestido em empresário, ameaçava nos bons tempos que “quem se mete com o P.S. apanha”. Não parece que essa premonição de Coelho tenha tido ganho de causa mas já ninguém se lembra dessa fanfarronada. Nem de Coelho, acolhido agora ao eremitério de uma sinecura aprazível e bem paga. Não é único ex-dirigente do P.S. a poder gozar os benefícios de uma “retraite dorée”, que os exemplos abundam. Chega-se a pensar que há quem só queira chegar a altos cargos partidários, políticos e governamentais para rapidamente “passar à peluda” no seio de uma empresa generosa e grata. E que pague bem, convém acrescentar. Que pague muito bem, que ainda há.
O Joãozinho das Perdizes, no romance daquele que poderia eventualmente ter sido uma espécie de Balzac português, acabou por se retirar das lides façanhudas e acatar a nova ordem. Já não recordo como se converteu à nova economia e que destino lhe dá Júlio Dinis. Nem isso interessa. Este joãozinho é apenas lembrado por um velho e inútil cronista, perdido num blog entre tantos outros para provação de escassas mas gentis leitoras que lhe aturam os humores bilioso e colérico. Ou, por outras palavras, não ficou na história. E os seus modernos clones deste século XXI e português também não.
S.S., com o seu tom de Vichinsky, com um toque de Jdanov, mete tudo no mesmo saco, oposições e críticos internos, e afinfa tonitruante com a promessa de “malha” em que se opuser. Nem nisto é original. Já o camarada Coelho, agora travestido em empresário, ameaçava nos bons tempos que “quem se mete com o P.S. apanha”. Não parece que essa premonição de Coelho tenha tido ganho de causa mas já ninguém se lembra dessa fanfarronada. Nem de Coelho, acolhido agora ao eremitério de uma sinecura aprazível e bem paga. Não é único ex-dirigente do P.S. a poder gozar os benefícios de uma “retraite dorée”, que os exemplos abundam. Chega-se a pensar que há quem só queira chegar a altos cargos partidários, políticos e governamentais para rapidamente “passar à peluda” no seio de uma empresa generosa e grata. E que pague bem, convém acrescentar. Que pague muito bem, que ainda há.
O Joãozinho das Perdizes, no romance daquele que poderia eventualmente ter sido uma espécie de Balzac português, acabou por se retirar das lides façanhudas e acatar a nova ordem. Já não recordo como se converteu à nova economia e que destino lhe dá Júlio Dinis. Nem isso interessa. Este joãozinho é apenas lembrado por um velho e inútil cronista, perdido num blog entre tantos outros para provação de escassas mas gentis leitoras que lhe aturam os humores bilioso e colérico. Ou, por outras palavras, não ficou na história. E os seus modernos clones deste século XXI e português também não.
* a quadra inicial veio publicada dentro de um soneto no nº 1 de O Malho em 20 de Setembro de 1902 e era assinada por Lingua de Mel como informa o blog brasileiro memoriaviva
Sem comentários:
Enviar um comentário