19.10.11


A primeira dor de cabeça de Seguro

Por Ana Sá Lopes
Qualquer decisão do PS traça uma estratégia e, eventualmente, um destino



O voto de António José Seguro neste Orçamento não é um voto essencial à salvação da pátria. Ao contrário do que aconteceu com o PSD no Orçamento do Estado de 2011 (que depois de um dramalhão prolongadíssimo e das pressões do Presidente da República acabou mesmo por ser viabilizado por Passos Coelho), a base ampla de apoio ao governo e ao parlamento chega e sobeja para fazer passar o Orçamento.

O desejo insistente do PSD de incluir o PS nessa grande agremiação está muito para além da “ajuda” para cumprir o objectivo de agradar aos “mercados” e consolidar o pacto de sangue à volta do Memorando da troika. Não é preciso ser um druida económico para perceber que os “mercados” não irão gostar de ninguém, e muito menos de um país miserável e periférico, enquanto não houver uma solução global para a crise do euro.


Veja-se a grande França, segunda maior economia europeia, agora já ameaçada pela agência de rating Moody’s de ficar sem a classificação máxima. É interessante o recente alinhamento de Nicolas Sarkozy na dramatização total relativamente ao futuro do euro e da Europa, mostrando que as dúvidas sobre a condução da crise atingiram uma das cabeças do directório.


É um facto que o PS é já parcialmente responsável por este Orçamento a partir do momento em que o governo anterior assinou o Memorando da troika – e neste sentido a abstenção seria a natural reacção política. Mas o Orçamento, como Pedro Passos Coelho disse e bem, vai além do Memorando da troika. E é ao defender a abstenção ou a votar contra este “ir além” que se joga o futuro próximo de António José Seguro.


Há um recuo evidente do PS desde o dia em que Seguro disse que nunca votaria contra o Orçamento, que é a mesma coisa que dizer que essa hipótese era de “0,001%” . Como é possível que depois desta declaração do secretário-geral a direcção do PS tenha recuado e agora afirme que está tudo em aberto? Porque Seguro sabe que, após o discurso de Pedro Passos Coelho, a viabilização deixou de ser um exercício simbólico para europeu ver. Qualquer decisão do PS traça uma estratégia para os próximos tempos e, eventualmente, um destino. Viabilizar significará integrar a coligação de “salvação nacional”, eventualmente disponível para apoiar o governo em caso de o CDS, em risco de perder todo o seu eleitorado, bater com a porta. Votar contra assina a demarcação total do PS não só do Orçamento (de que é parcialmente responsável) mas de uma futura solução governativa. 


Nenhuma das soluções é fácil, mas com este Orçamento a primeira tem todos os condimentos para ser suicida.

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