Pinhal Interior: Revela inspecção de Finanças
Encargos de um milhão por semana
A auto-estrada do Pinhal Interior, a mais extensa concessão adjudicada nos últimos três anos, vai implicar encargos muito superiores às receitas: entre 2010 e 2030, segundo uma auditoria da Inspecção-Geral de Finanças (IGF) à Estradas de Portugal (EP), o projecto custará ao erário público cerca de um milhão de euros por semana.
Por:António Sérgio Azenha/Alexandre SalgueiroO trabalho da IGF indica que a auto--estrada do Pinhal Interior, à semelhança dos dados apurados para as concessões do Douro Interior e do Litoral Oeste, irá gerar encargos superiores às receitas em mais de mil milhões de euros. Com uma despesa anual média de 50,6 milhões de euros, esta via rápida terá custos semanais de quase um milhão de euros.
A obra foi adjudicada, por parte do Governo de José Sócrates, à Ascendi Pinhal Interior – Estradas do Pinhal Interior, um consórcio liderado pela Mota-Engil, BES e Opway, em Janeiro de 2010. O Estudo Integrado dos Impactos Económicos Globais indicava que esta via rápida gerava um encargo líquido de 874 milhões de euros, mas o Executivo, baseado nos benefícios gerados pelo projecto, avançou.
Para o então Governo de José Sócrates, a análise custo/benefício deixava claro que o saldo era positivo em 199 milhões de euros. Ou seja: segundo os dados detidos então pelo Executivo, mesmo sendo os custos totais de 869 milhões de euros, os benefícios económicos e sociais previstos ultrapassavam os mil milhões de euros.
Por isso, o Governo frisou na altura que "os benefícios gerados pela construção do Pinhal Interior superam em muito os custos que lhe estão associados". Só em poupança de tempo o Executivo garantia que os benefícios atingiam 741 milhões de euros.
Com a EP a apresentar um endividamento de 3,4 mil milhões de euros e a ter sérias dificuldades de financiamento, a auditoria da IGF acaba por realçar os prejuízos gerados por esta obra.
TRAÇADOS LEVANTAM ALGUMAS DÚVIDAS
Na região do Pinhal Interior ninguém questiona a necessidade dos 520 quilómetros de estradas concessionados à Ascendi. O que já não é consensual é o uso dado ao investimento estatal (mais de 1300
milhões de euros) e as soluções adoptadas para os traçados.
"Há estradas que não fazem sentido e que foram um desperdício de dinheiro", diz Carlos Marçal, empresário da área do turismo, apontando a recente ligação entre Proença-a-Nova e Oleiros como "desnecessária". Além disso, critica o traçado do troço Cernache do Bonjardim-IC8, "que devia ter uma saída junto à Zona Industrial da Sertã". O problema, adianta Marçal, "é que estes desenhos resultam de estudos feitos em 1991 e que já não estão adequados à realidade". Já Diamantino Calado, presidente da Junta de Cernache, está satisfeito com a ligação à Sertã, mas defende que "igualmente urgente é uma estrada nova para Ferreira do Zêzere e, depois, para Tomar".
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