Nacionalização avançou sem testar outras soluções
O anterior ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, quando anunciou a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), no início de Novembro de 2008, afirmou sem rodeios: "Nada será feito que prejudique o interesse patrimonial do Estado e o interesse dos contribuintes". Dois anos e meio depois, verifica-se que a factura para o Estado (logo, para os contribuintes) está, para já, fixada em 2,4 mil milhões de euros, mas pode chegar muito mais longe. Com os créditos que o comprador (BIC) não quer assumir - podem chegar aos 500 milhões -, com as acções judiciais que os antigos accionistas colocaram ao Estado, com as indemnizações aos funcionários a dispensar e com eventuais perdas das sociedades-veículo onde foram colocados os chamados activos tóxicos do banco.
A equipa do antigo ministro das Finanças propunha-se criar uma segunda vida para o BPN com o apoio dos accionistas e do Estado - uma solução híbrida de capitais públicos e privados. Teixeira dos Santos recusou, alegando o interesse dos contribuintes. O plano Cadilhe visava a entrada de capital fresco para resolver o problema do sufoco financeiro. Os accionistas eram chamados a colocar 380 milhões de euros e o Estado 600 milhões de euros em acções preferenciais, neste caso com garantia de um dividendo mesmo em caso de prejuízo. Este dividendo corresponderia a uma taxa de juro idêntica à da dívida pública acrescida de um por cento.O Estado daria ainda o aval a um empréstimo de 500 milhões de euros por parte de seis bancos, recebendo do BPN contra-garantias correspondentes ao dobro do valor pedido. Neste pacote estavam activos efectivos do banco, nomeadamente crédito hipotecário.Este plano permitiria cobrir o buraco do BPN (cerca de 700 milhões de euros), daria ao banco o necessário fôlego financeiro para relançar a actividade depois da gestão Oliveira e Costa (que está a ser julgado) e conferiria ao Estado uma almofada de tempo para analisar devidamente os custos e os benefícios de uma eventual nacionalização. Se corresse mal e não houvese alternativa à nacionalização, o Estado receberia o banco já com a tranche dos 380 milhões de euros lá colocados pelos accionistas.Mas, mesmo em caso de recusa do plano Cadilhe, o anterior Governo poderia ter seguido o exemplo que Espanha encontrou para salvar o Banesto - que caiu igualmente em ruptura financeira. O Governo da Moncloa chamou as principais instituições financeiras do país para se unirem na recuperação do banco e evitarem a emergência de um risco sistémico, numa operação que acabou por ser um sucesso e que terminou com a privatização da entidade a favor do Santander.O caminho da nacionalização do BPN foi o escolhido pelo Governo Sócrates, ainda por cima sem incluir no pacote o accionista do banco, a SLN, onde ficaram importantes activos para os seus donos. Ou seja, o Estado ficou apenas com os ossos e os problemas que vierem a seguir.PÚBLICO
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