6.8.11

Impotência

Por Vasco Pulido Valente    
Anteontem António José Seguro, contra a tradição estabelecida, indicou o seu próprio nome para conselheiro de Estado (a eleição pela Assembleia da República não passa de uma formalidade). Isto não surpreende. Seguro, como Passos Coelho, é o produto da "cultura de partido" que tomou conta e apodreceu a democracia portuguesa. Para eles, só conta, e só contará sempre, o interesse do PS ou do PSD, nomeadamente o seu poder sobre o Estado. Este "Centrão" partidarizou tudo. Partidarizou o funcionalismo, as câmaras, o Tribunal Constitucional, o sector público e grande parte do sector privado da economia. Hoje é rara a instituição que esteja livre da influência directa ou indirecta dos partidos. A crise começou aí e, até agora, excepto pelo que a intervenção estrangeira forçou o Governo a fazer, não há sinais de arrependimento ou reforma.

E como haveria? A televisão e a imprensa acharam, pelo contrário, um enorme encanto nas carreiras paralelas de Passos Coelho e António José Seguro. Nenhum se distinguiu pela carreira académica ou profissional. Nenhum deu até hoje qualquer excepcional contribuição à política portuguesa. Cresceram os dois no incubatório infecto das "juventudes" partidárias, que, no PS e PSD, acabaram os dois por presidir. E chegaram os dois, dificilmente, à maturidade na atmosfera de rivalidade e de intriga em que vive, e para que vive, aquela espécie de ambiciosos menores. Não admira (e devia admirar) que Passos Coelho deixasse Paulo Portas fora do Conselho de Estado e que Seguro não tirasse o inefável Alegre, muito manifestamente para dulcificar os militantes.   

Tanto um como o outro "subiram", de resto, onde "subiram" por vontade desses militantes, que não representam nada, nem ninguém. À volta de 15.000 votos transformaram António José Seguro em secretário-geral do PS e uns milhares mais Passos Coelho em presidente do PSD. E são, de facto, essas "bases", largamente míticas, que, em última análise, escolhem o primeiro-ministro. Seguro, por exemplo, só aceitou debater com Assis na televisão uma única vez (porque não queria perturbar a fidelidade da sua gente) e resolveu exigir uma "campanha" à porta fechada para não correr o risco de que Portugal soubesse o que ele andava a dizer. A impotência dos portugueses neste regime é, na prática, total. 

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