3.8.11

do socretismo/passismo como modo de vida

BPN: negócios das arábias
Octávio Teixeira




Para a nacionalização do BPN alegou-se o risco sistémico da sua falência e a garantia dos depositantes. Alegações falaciosas. Quinze dias antes o ministro das Finanças tinha declarado (e dessa vez bem) que o BPN não representava um risco para o sistema, dada a sua reduzida dimensão. Quanto aos depósitos já então fora anunciada a elevação da garantia de todos os depósitos bancários para 50 ou 100 mil euros, os que poderiam suscitar a preocupação do Estado. Para além da falácia da argumentação, e contra muitas opiniões, foi nacionalizado o BPN, mas não a empresa sua proprietária (Sociedade Lusa de Negócios) que detinha um património suficiente para tapar o buraco do Banco. De facto o que se passou com o BPN não foi uma nacionalização mas uma socialização dos prejuízos e salvação dos seus accionistas. 

Agora, o actual Governo reprivatiza a la carte o BPN, só o bife de lombo, pagando 510 milhões (o novo aumento de capital deduzido do preço de venda) para que o BIC possa, alegremente e sem riscos, aumentar o seu peso no sistema bancário. Assumindo desde já um prejuízo para o erário público, para os contribuintes, de 2.400 milhões. Mas os custos serão mais avultados. Os activos considerados "lixo" já transferidos para o Estado serão acrescidos dos activos "quase lixo" ou apenas com risco que não interessem ao adquirente. Suportará os custos do despedimento de 800(!) trabalhadores. E ainda nada sabemos sobre os milhares de milhões, garantidos pelo Estado, que a CGD já injectou no BPN… 



Quer a "nacionalização" quer a "venda" do BPN são negócios das arábias. Mas não para os contribuintes. Esses estão condenados a pagar os dislates e favores governativos com aumentos brutais dos impostos, dos transportes, do gás e do que mais se verá. 


Jornal de Negócios



BIC laranja, BIC cristal
Pedro Santos Guerreiro 


A privatização do BPN é o melhor negócio do ano. O Governo tinha um prazo muito apertado e é preciso elogiar a excelente capacidade de negociação, a rapidez, o valor, a separação dos activos. Quanto mais se sabe da operação, mais é preciso sublinhar o mérito do homem-chave deste sucesso: parabéns, Eng.º Mira Amaral.

O problema do BPN já existia e já era enorme. Mas é chocante ver o Estado português ajoelhar-se assim. O negócio não é mau, é péssimo. É inexplicável que o Montepio tenha sido arredado. 
E é dinheiro dos contribuintes que está em causa. Portugal está a iniciar um processo acelerado de privatizações, não pode fazê-lo sem transparência, como é o caso. O ministro das Finanças também tem muito orgulho desta venda do BPN? 

A nacionalização teve de ser feita. Mas demorou-se uma eternidade a resolver o problema, assim agravando-o. A responsabilidade é inteira do Governo de José Sócrates: nunca quis reconhecer o "buraco" nas contas públicas nem assumir o despedimento dos dois mil trabalhadores que lá estavam. E, verdade ou consequência, o BPN foi arma de arremesso político contra Cavaco Silva. Uma desgraça, é o que é. 

No ano passado, Sócrates quis privatizar. Colocou como preço mínimo 180 milhões de euros, exigiu que não houvesse despedimentos e quis vender um banco ainda intoxicado por créditos maus. O Governo quis enganar alguém. Obviamente, ninguém quis o banco. 

Veio a troika. Obrigou o novo Governo a cortar o problema num mês. O Governo abriu a gaveta e tirou de lá a proposta do PS. Uma proposta vergonhosa: o Estado queria vender o BPN ainda contaminado por maus créditos, de "rating" especulativo, abaixo de especulativo ou mesmo sem "rating". Os créditos das empresas do grupo SLN continuavam no BPN. É essa a toxicidade maior: as alegadas aldrabices dos accionistas do BPN, que estão alegremente impunes, e que se penduraram num banco que acabou nacionalizado. E assim avança a nova fase de privatização. 

Aparecem três propostas. Negoceia-se só com uma delas. E acaba-se nesta vergonha: o BIC paga 40 milhões, o que é nada, e em troca escolhe os créditos que quer (ou seja, os bons), os balcões que quer (ou seja, os bons) e os 750 funcionários que quer (ou seja, os bons). Tudo o que é mau fica no Estado. Pago pelo Estado. Incluindo o despedimentos de quase 900 pessoas. Quem? O BIC decide. O Estado paga. Lombo para uns, osso para nós. 

É um negócio excelente para o BIC. Ao extirpar todo o problema do BPN, o BIC fica com um banco "limpinho", com rácios como outros não têm e após 550 milhões de euros de capital do Estado a custo zero. Somando esse valor aos depósitos que lá estão, são os fundos mais baratos do mercado, abaixo dos 3%. E como paradoxalmente o BPN fica cheio de liquidez, poderá investir esse dinheiro mais cerca de mil milhões de depósitos. Basta aplicar em dívida pública, ganha 10% limpinhos. 

Estas condições são uma vergonha e um insulto. Os portugueses vão pagar entre três e quatro mil milhões de euros por uma nacionalização após actos criminosos de quem está impune, dos accionistas aos gestores, passando pela supervisão. 

Havia três propostas. Uma de um grupo que se chama NEI mas podia chamar-se Ney Mato Grosso: não se vendem licenças bancárias a quem não se conhece. Outro, o Montepio, queria alguns activos do BPN, o que vai dar no mesmo. Mas segundo o seu presidente afirmou ontem ao "i", nunca mais foi ouvido. E assim o Estado acabou nas mãos de um único candidato, o BIC, um banco angolano e de pequena dimensão. 

Esta exclusividade do BIC não está explicada. Os portugueses têm o direito de saber o que fazem ao seu dinheiro, sob pena de podermos pensar que o BPN faz parte de um negócio maior com Angola. 

O último a chorar chora pior. O Estado quis enganar alguém com a venda do BPN mas acabou enganado. É para isto que pagamos impostos. 



Jornal de Negócios

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